terça-feira, 2 de novembro de 2021

Aos 77 anos, no Rio, morre Nelson Freire, um dos maiores pianistas do mundo

 

 

Nelson Freire representava e representa uma outra face do Brasil, o lado  capaz de nos salvar', diz João Moreira Salles, que dirigiu doc sobre o  pianista - Jornal O Globo

Nelson Freire foi um fenômeno que encantou o mundo

Eduardo Moura e João Gabriel Telles
Folha

O músico Nelson Freire, um dos maiores pianistas do mundo, morreu na madrugada desta segunda (1º), em sua casa, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela empresária do artista, que não soube dar detalhes da causa da morte.

No fim de 2019, o músico fraturou um osso do braço direito e passou por uma cirurgia de quatro horas. Apesar da operação ter sido bem-sucedida, pessoas próximas contam que o pianista entrou em depressão.

CONCURSO CHOPIN – A pianista argentina Martha Argerich chegou a vir ao Rio de Janeiro passar um tempo com o amigo. Ela chamou Arthur Moreira Lima para assumir seu lugar na banca do Concurso Chopin, uma das mais importantes competições musicais do mundo, em Varsóvia, para que ela pudesse estar perto de Freire.

Uma das últimas apresentações ao público foi em outubro de 2019, em Belo Horizonte, pouco antes da fratura no braço.

“Tive o privilégio de agendar Nelson Freire diversas vezes em Belo Horizonte. Contudo, jamais poderia supor que os três recitais que programei [no teatro do Minas Tênis Clube] em outubro de 2019, na semana em que o artista festejou seu aniversário de 75 anos, estariam entre suas últimas aparições em público”, conta a pianista Celina Szrvinsk.

CLIMA DE ALEGRIA – Segundo ela, o teatro lotou durante as apresentações, e o clima não foi de despedida, mas de alegria, já que o artista iria reencontrar família e amigos em um almoço de comemoração de seu aniversário.

Com o acidente, Freire teve de cancelar apresentações em São Paulo, Goiânia e Rio de Janeiro. Foram canceladas também as apresentações em Girona, na Espanha, e em Elmau, na Alemanha, no fim de novembro, e em Londres, Amsterdã, Lyon, e São Petersburgo, onde faria, em dezembro, concerto com a Orquestra do Teatro Mariinski, sob regência de Valéry Gergiev.​

SUPERDOTADO – Tendo começado a estudar piano desde cedo, Nelson Freire, aos 12 anos de idade, foi o sétimo colocado no Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro. Logo em seguida, ganhou uma bolsa de estudos para estudar em Viena.

Ao final da década de 1950, Freire já fazia recitais e concertos nas capitais europeias e se apresentava com célebres regentes como Isaac Karabtchevsky e Rudolf Kempe.

No ano de 1964, Freire ganhou o Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta em Lisboa e recebeu, em Londres, as medalhas de ouro Dinu Lipatti e Harriet Cohen.

GRANDES APRESENTAÇÕES – Entre as orquestras com as quais Nelson Freire se apresentou estão a Filarmônica de Berlim, a Orquestra Sinfônica de Londres, a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

Seu álbum de interpretações de composições de Chopin foi elogiado pela crítica internacional e recebeu os prêmios Diapason d’Or e Choc, do periódico francês Monde de la Musique.

Em 1988, a gravadora Phillips o incluiu na coleção “Great Pianists of the 20th Century”, que tinha o objetivo de fazer o sumário das melhores gravações de concertos de piano do século passado.

DISCO DO ANO – Em 2007, Freire venceu na categoria de disco do ano o Gramophone Awards, um dos maiores prêmios internacionais da indústria fonográfica, com seu álbum que inclui um par de concertos de Brahms ao lado da Orquestra Gewandhaus, de Leipzig, na Alemanha.

​Nelson Freire deixa o companheiro, o médico Miguel Rosário, e um irmão. ​

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