por John Cutrim
O governador de São Paulo, João Doria, foi escolhido como candidato do PSDB à Presidência da República. Depois de serem adiadas por uma semana devido a uma pane técnica e suspeitas de ataque hacker, as prévias da legenda foram concluídas neste sábado.
O paulista recebeu 53,99% dos votos, segundo a apuração do partido, e derrotou os outros candidatos: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que somou 44,66%, e o ex-senador e ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgilio, que teve 1,35%.
Ao analisar a divisão do colégio eleitoral por grupos, Doria teve maior vantagem entre os filiados, onde recebeu 15.646 votos contra 9.387 de Leite. No grupo de prefeitos e vices, a margem foi mais apertada: 393 a 363. Entre os deputados estaduais, Doria venceu por 37 a 30. Entre os governadores e bancada federal, o paulista marcou 27 a 24. Leite ganhou entre os vereadores: 1.491 a 1.367.
— O maior vencedor de hoje é a democracia e alguém carrega essa expectativa — afirmou o presidente do PSDB, Bruno Araújo, ao informar o resultado da eleição. — Os não vencedores são tão importantes para a unidade quanto o vencedor. O PSDB decidiu que o nosso candidato a presidente da república em 2022 é o governador João Doria.
Vestido com uma camiseta com o logotipo do PSDB, Doria começou seu discurso saudando os filiados do partido, já que havia um grupo de correligionários que o apoiava e acompanhou o anúncio do vencedor das prévias no centro de convenções em que o partido se reuniu.
— O PSDB é o único partido que promoveu um amplo processo democrático sobre quem deveria liderar o processo de mudança no Brasil. Nosso compromisso é com a democracia e o PSDB entende que o processo democrático é uma construção que começa dentro de casa — afirmou Doria.
Em sua fala, o paulista lembrou nomes históricos do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador Mário Covas, e citou todos os governadores tucanos em São Paulo, inclusive, Geraldo Alckmin, seu desafeto, que deve deixar a sigla.
No discurso, criticou fortemente Jair Bolsonaro, a quem criticou por “negligenciar a vacina”, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem endereçou a fala de que não será complacente com quem “roubou” dinheiro público.
— Os governos Lula e Dilma representaram a captura do estado pelo maior esquema de corrupção do qual se tem notícia no país.— declarou Doria. — Bolsonaro vendeu um sonho e entregou um pesadelo. Nosso fraterno Brasil se transformou no Brasil da discórdia, da desunião, do conflito, da briga entre familiares e amigos, da arrogância política.
Ao finalizar sua fala, Doria exaltou o sentimento de união para a condução do processo de reconstrução do país, já lançando algumas bases da sua plataforma eleitoral.
Ao discursar, Leite falou sobre a importância de acabar com a polarização no país, e o papel central que o PSDB terá nessa empreitada. Ele reforçou que não há espaço para projetos pessoais, porque o compromisso com o partido e com o país está acima disso.
— O Brasil precisa que a gente consiga viabilizar um projeto no Centro para que esta energia que é desperdiçada entre dois campos políticos que se enfrentam como inimigos a serem exterminados. Os verdadeiros inimigos da população brasileira estão soltos para fazer o estrago que estão fazendo: a inflação, o desemprego, a miséria, tirando o sossego das famílias — afirmou.
Ele disse esperar que Doria assuma uma de suas bandeiras, acabar com a pobreza infantil, que atinge 17 milhões de crianças. Ao final de sua fala, o gaúcho agradeceu o apoio do namorado e foi aplaudido pela plateia.
Um dos principiais desafios do pré-candidato será reunir novamente o partido. A última semana foi marcada pelo acirramento da divisão interna, com denúncias sobre compra de votos e pressão irregular para conseguir votos.
Os três candidatos e o presidente do partido, Bruno Araújo, disseram, neste sábado, que terminada a campanha ele devem se unir.
Ao discursar, Virgilio adotou um tom conciliatório, disse que é não é contra a reeleição e sugeriu que já se começasse a pensar em preparar Leite para a sucessão de Doria, caso ele vença a eleição. Para ele, o partido precisa se reinventar para que não corra o risco de se apequenar e desaparecer. O principal ponto é acabar com o alinhamento ao governo Bolsonaro:
— Vamos ter que romper qualquer laço do PSDB com o bolsonarismo. Não há circunstância nenhuma que valha a pena isso.
Além de colocar um nome para a disputa presidencial, o PSDB busca centralizar as discussões sobre a criação de uma candidatura conjunta na terceira via, que seja capaz de fazer frente às campanhas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A votação foi encerrada às 17h, com o registro de 25.854 votos. Cerca de 4 mil pessoas já haviam votado no domingo passado. O presidente do partido, Bruno Araújo, estima 20% de abstenção, nulos e brancos, o que, segundo ele, está dentro na média nacional.
O dia foi marcado por tentativas de ataques hacker ao aplicativo escolhido para decidir o candidato. Houve mais de 26 mil tentativas de acessar a votação do exterior — embora só dois filiados estivessem no exterior. Ainda segundo a legenda, houve mais de 20 milhões de tentativas de invasão por robôs.
Os três candidatos das prévias do PSDB se encontraram e posaram para fotos juntos, ainda com a presença do presidente da sigla. A tônica dos discursos foi de unidade e conciliação dentro do partido. O Globo