Carlos Newton
A ausência de representante brasileiro na importantíssima Conferência do Clima, a COP26, diz praticamente tudo. O governo brasileiro decidiu esnobar o evento. Todos os grandes líderes mundiais estavam presentes, e os que participaram do encontro do G20, em Roma, rapidamente se deslocaram a Glasgow, a tempo de participar da abertura do evento ambiental.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, porém, tinha outro compromissos e não pôde comparecer. Recusou-se a enviar o vice Hamilton Mourão, que se ofereceu, e preferiu o ministro Joaquim Leite, do Meio Ambiente, aquele que exige menu “cordon bleu” nos jatinhos da FAB. Mas esse ministro também estava muito ocupado e não conseguiu chegar a tempo. Ambos enviaram prosaicas declarações gravadas, que só foram exibidas no stand brasileiro.
PÁRIA DIPLOMÁTICO – A ausência do presidente e do ministro são inexplicáveis, porque o governo aparentemente está dando importância ao evento, pois a delegação brasileira é enorme, a segunda do ranking mundial, com cerca de 40 integrantes, que devem estar lá para trabalhar e não para gozo de mordomias oficiais, conforme tem acontecido nas diversas comitivas brasileiras enviadas a Dubai, um destino que parece estar na moda para os deslumbrados burocratas.
Mas é claro que esse monte de gente pouco terá o que fazer, salvo acompanhar que o será discutido, que pode ser feito pela TV ou pelo computador. A saída então será circular pelos pubs da cidade, onde a cerveja não é estupidamente gelada, mas o uísque escocês é à prova de falsificação.
VAMOS SAIR GANHANDO – Não importa quem esteja representando o Brasil na Conferência do Clima, o resultado será proveitoso para o Brasil. Poderia ser Bolsonaro, o desprezado Mourão, o ministro de paladar refinado, a primeira-dama que não viaja ou até alguma segunda-dama que viajava sempre, nos tempos do presidente Lula, nada disso importa. De qualquer maneira o Brasil sairá ganhando.
A principal discussão é o chamado crédito de carbono, uma espécie de pedágio que os países altamente poluidores, como Estados Unidos e China, terão de pagar às nações que preservarem o meio ambiente e reduzirem as emissões de gases do efeito estufa.
Cada reunião ambiental que a ONU organiza significa um avanço nessa direção, e o Brasil é o país com maior potencial de reflorestamento do mundo.
CRÉDITOS DE CARBONO – Para faturar os dólares ou euros dos créditos de carbono que o Banco Mundial irá distribuir (isso já é certo, o que está em discussão é somente o modus operandi), o Brasil terá apenas de apertar a fiscalização, que é cada vez mais eficaz e barata, via satélite.
Se a fiscalização obrigar os produtores rurais a cumprirem a lei, apenas isso, a pátria estará salva, porque na região da Amazônia Legal, que vai até o Maranhão, os ruralistas terão de reflorestar 80% de suas terras, conforme determina o Código Florestal brasileiro de 2012, o mais moderno do mundo,
No Cerrado, a área a ser preservada é de 35% de cada propriedade, nada mal para as emas, carcarás, veados e tamanduás. E no resto do país, a exigência é de áreas ambientais em 20% de cada fazenda.
SEM DESMATAMENTO – Se o próximo governo combater o desmatamento e as queimadas, que significam 44% das emissões brasileiras, o crédito de carbono logo estará no caixa, sem falar nas contribuições voluntárias de países como Alemanha e Noruega, criadores do Fundo Amazônia, que está suspenso em boicote a Bolsonaro.
Reduzir o desmatamento na Amazônia não é nada difícil e já foi conseguido recentemente, entre 2004 e 2012, quando caiu de 27,7 mil km2/ano para 4,5 mil km2/ano, sem afetar a produção agrícola, pois no período a soja cresceu 33%, o rebanho bovino ganhou 6,5 milhões de novas cabeças.
###
P.S. – É claro que tudo seria mais fácil se Bolsonaro tivesse sensibilidade ambiental. Felizmente, porém, nosso futuro não depende dele, mas apenas do cumprimento da lei, embora o Brasil já tenha se transformado num pária democrático, com toda certeza. (C.N.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário