Jorge Béja
Não, Nelson Freire não poderia morrer tão cedo. Que vivesse ao menos até os 95 de idade, tocando, tal como viveu o outro imortal Arthur Rubinstein. Notícia pra lá de triste. Um dia, muitos anos atrás, José Feghali me disse que o sonho dele era tocar como Nelson Freire. Sonho sonhado, sonho realizado.
Feghali e Freire ficaram amigos desde Londres. Feghali também já não está entre nós. Aos 50 anos, nos Estados Unidos, onde era o Diretor de Música da Universidade Cristã do Texas, José de Almeida Feghali imolou sua própria vida. Sofria de depressão endógena.
ACIDENTE NA ESTRADA – Agora é a perda de Nelson José Freire Pinto. Eu era repórter do Jornal do Brasil quando o conheci ainda muito jovem. Nelson, o pai e a mãe, viajavam num ônibus da Viação Cometa. Vinham da estação mineral de Caxambu, em Minas Geraisú. O ônibus tombou e caiu numa ribanceira.
No acidente, Nelson perdeu pai e mãe. Um tragédia terrível, pois o pai morreu abraçado ao filho Nelson, com quem dividia as poltronas do ônibus.
Diante do drama que fui cobrir como repórter, acreditei que a carreira de Nelson Freire, que ainda era aluno de piano e mal tinha começado, acabaria ali. Ainda bem que errei.
DOIS GÊNIOS – Nelson Freire e José Feghali encantaram o mundo e projetaram o Brasil. E o Brasil pouco ou nada aos dois retribuiu.
Foram os dois últimos majestáticos pianistas brasileiros que o mundo conheceu e aplaudiu: José Feghali e Nelson Freire. O mais jovem, Feghali, nos deixou em 2014. Dele fui íntimo amigo e sempre advogado.
Freire nos deixou hoje, 01.11.2021, aos 77 e 13 dias de idade. Em 2019 sofreu queda no calçadão da Barra e fraturou o braço. Ficou longo tempo internado. Depois outra queda. Certamente veio a depressão. Qual o pianista de verdade que não fica deprimido quando, de um dia para o outro, não pode mais tocar?
É certo que no Brasil restam poucos artistas como eles. Creio acabou que está acabando tudo de bom, de belo, de erudito, de rico, de sabedoria… que existia no Brasil. E para reconstruir tudo de novo, vai demorar. Muito. O estrago é gigantesco e abrangente.
Que tristeza!
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