domingo, 30 de janeiro de 2022

Além da pandemia, a atuação do atual ministro da Saúde é mais uma tragédia sanitária

 

 

Arte de Kleber Sales (Correio Braziliense)

Luiz Carlos Azedo

Enquanto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, brinca de faz de conta que vacina as crianças e cria, a cada semana, novos embaraços e manobras diversionistas que confundem as pessoas, a escalada de morte por covid-19 no Brasil já contabiliza 672 óbitos em apenas 24 horas, o que é um absurdo, em se sabendo que a variante ômicron é proporcionalmente menos letal.

O aumento de casos ocorre numa escala que poderia ter sido evitada, não fossem a sabotagem oficial e o negacionismo dos que não se vacinaram, seguindo a orientação do presidente Jair Bolsonaro.

FORA DE CONTROLE – Segundo dados reunidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), já passam de 220 mil novos casos por dia. O número total de mortes ultrapassa a 625 mil pessoas, de um total de quase 25 milhões de infectados. É mais do que evidente que a situação está fora do controle.

A cada dia surge uma nova polêmica criada pelo Ministério da Saúde, apesar das duras críticas de sanitaristas, infectologistas, virologistas, biólogos e outros especialistas. Para agradar a Bolsonaro, Queiroga e seus assessores trabalham para desacreditar as vacinas e confundir a sociedade quanto à segurança das doses pediátricas.

Com ampla tradição de imunização em massa, graças a campanhas de divulgação de sucessivos governos, pela primeira vez isso não ocorre nos últimos 50 anos, por culpa do Ministério da Saúde, que opera uma estratégia de desconstrução da política de saúde pública.

CONTRA A VACINA – A última do Queiroga foi a nota divulgada, quinta-feira, orientando os pais a procurarem aconselhamento médico antes de vacinarem suas crianças. Enquanto isso, de manhã, de tarde e à noite, em todos os órgãos de comunicação e nas redes sociais, os mais renomados profissionais de saúde recomendam a vacinação infantil, inclusive dos menores com necessidades especiais e comorbidades.

Pior ainda, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que não tem nenhuma autoridade para falar de vacinas, produziu uma nota técnica em que se opõe ao passaporte vacinal e à obrigatoriedade de vacinação de crianças contra a Covid.

E pôs o Disque 100, criado para denúncias de violação dos direitos humanos, à disposição dos negacionistas, para que denunciem as instituições e estabelecimentos que exigirem certificado de vacinação por “discriminação”.

NA JUSTIÇA – Obviamente, tudo isso acabará muito mal para as autoridades do governo, como Queiroga e Damares, que estão cometendo crime contra a saúde pública e a humanidade. Bolsonaro também acabará sendo responsabilizado judicialmente.

Mais cedo ou mais tarde, a atuação do presidente e dos seus ministros chegará às barras dos tribunais. O Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais dos Estados e da União (CNPG), por exemplo, reunido ontem, concluiu que a vacinação de crianças é obrigatória no Brasil.

“Uma vez que a Anvisa autorizou o uso da vacina contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos de idade e a Secovid — órgão do Ministério da Saúde responsável por definir as ações relativas à vacinação — recomendou a inclusão da vacina no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra covid-19, é forçoso concluir que a vacina contra a covid-19 passa, automaticamente, a ser obrigatória em todo o território nacional”, diz nota técnica do conselho. Com base nessa afirmação, também proliferarão as ações judiciais contra as prefeituras que não seguirem a recomendação.

NOVO IMPACTO – Nas últimas semanas, governadores e prefeitos vêm adotando medidas para conter a propagação da pandemia, principalmente com o cancelamento de eventos de massa, das festas de Iemanjá aos desfiles de escola de samba. O impacto da pandemia no funcionamento do comércio, da indústria e dos serviços já está sendo sentido, assim como na rede de saúde pública, que está à beira do colapso.

Graças ao grande número de vacinados, a economia ainda não colapsou, mas nem assim o governo reconhece a importância da vacina.

A conversa fiada sobre a hidroxicloroquina e a ivermectina, patrocinada pelo próprio Ministério da Saúde, está de volta às redes sociais e alimenta as estatísticas de óbitos de pessoas não vacinadas. Recomendados contra a malária e os vermes intestinais, respectivamente, os dois medicamentos são comprovadamente ineficazes no tratamento da covid-19.

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P.S.
 – Passando de pato para ganso: Bolsonaro deixou governadores e prefeitos na maior saia justa ao conceder um aumento de 33% no piso salarial dos professores. Em São Paulo, a Secretaria de Educação definiu o valor de R$ 5 mil para o piso docente de 40 horas semanais, reajuste que pode chegar a 73% em alguns casos. No Brasil, o piso passa de R$ 2.886 para R$ 3.845. Paguem e não bufem(L.C.A.)

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