Pedro do Coutto
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, assegurou ontem a derrota de Bolsonaro nas eleições de outubro ao divulgar mensagem condenando as medidas a favor da vacinação e atacando a exigência de passaporte já estabelecida por grande número de estados, municípios, empresas privadas e órgãos da administração pública.
Reportagem excelente de Vinicius Sassine, tornou-se a manchete principal da edição de ontem da Folha de S. Paulo. Aconselhando absurdamente as pessoas a recorrerem ao disque-denúncia, a ministra da Mulher e da Família não apenas prejudica a campanha de vacinação, divulgada pelo próprio governo federal, mas também contribuiu para congestionar o acesso ao disque-denúncia, além de com isso bloquear casos urgentes de pedidos de socorro. Entre os pedidos de socorro, claro, os relativos à violência doméstica contra a mulher.
DESASTRE CONTRA BOLSONARO – Sob o ponto de vista eleitoral, Damares Alves cometeu um desastre contra o presidente Jair Bolsonaro que, como suas atitudes comprovam, não atribui maior importância ao voto dos eleitores e eleitoras que se empenham em se vacinar, bem como seus filhos e netos.
Não se pode compreender o que Damares Alves pretende com a sua atitude. Já a posição do presidente da República tornou-se conhecida de toda a população. Ocorre que tanto Jair Bolsonaro quanto Damares Alves não levam em consideração o reflexo nas urnas da nova investida contra as vacinas e a vacinação.
O posicionamento da ministra, divulgado ontem, só pode provocar perplexidade internacional e afastar parcela ainda maior do eleitorado contra a reeleição. Basta ver que de acordo com o Datafolha em pesquisa recente, 81% dos homens e mulheres são totalmente favoráveis, como não poderia deixar de ser, à vacinação.
NA CONTRAMÃO – O mundo inteiro está desenvolvendo campanhas pela vacinação. No Brasil, a ministra da Mulher e da Família coloca-se contra e propõe que as pessoas reajam à exigência de vacinação como devem reagir à violência doméstica e ao machismo. Damares Alves confirmou com antecedência o resultado das eleições de outubro que se aproxima.
A Organização Mundial de Saúde e o mundo científico brasileiro e mundial certamente ficaram perplexos com a iniciativa da ministra Damares Alves. Quanto a Jair Bolsonaro sua posição já era conhecida, mas não se esperava que uma ministra de seu governo chegasse a tal ponto.
CLOROQUINA – Na mesma edição da Folha de S. Paulo, Matheus Vargas destaca e analisa a nova decisão do ministro Marcelo Queiroga a respeito da cloroquina. Os conselhos dos secretários de Saúde estaduais e municipais manifestaram-se na quinta-feira contra a nota do secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde a favor da hidroxicloroquina.
A nota do secretário foi um desastre absoluto. Apesar disso, o ministro Marcelo Queiroga negou o atendimento imediato à proposta e pediu tempo para analisar o caso, embora o mundo científico já tenha condenado o uso da cloroquina contra a Covid-19. Sem dúvida alguma, existe uma sombra do Ministério da Saúde contra a condenação a um processo médico já amplamente considerado ineficaz.
REFORMA AGRÁRIA – A reforma agrária foi um dos principais temas da sucessão presidencial de 1960 vencida por Jânio Quadros que renunciou em agosto de 1961, criando uma crise política que até hoje não conseguiu ser totalmente superada.
No governo João Goulart, o tema voltou à pauta e o decreto que previa a desapropriação de terras ociosas criou uma tempestade no país pelo exagero das medidas, a principal delas a desapropriação compulsória de terras improdutivas a 10 quilômetros das rodovias, ferrovias, hidrovias e açudes.
FREIO AO PROGRESSO – Fábio Pupo, também na Folha de S. Paulo de ontem, revela que o governo Bolsonaro pretende acabar com o imposto de 0,2% sobre a folha salarial das empresas para execução da reforma agrária. Inúmeros casos registrados nas áreas rurais dão conta da permanência de regime idêntico ao da escravidão ou então caracterizado por uma semi-escravidão repugnante e que representa um freio ao próprio progresso do país.
Vale lembrar que o ministro Roberto Campos em 1965 criou o Estatuto da Terra para dar curso a um processo capitalista de reforma agrária. Mais de 50 anos depois, a questão não foi enfrentada frontalmente e está longe de ser resolvida. Sem a reforma agrária o Brasil perde uma nova fonte de consumo e um caminho efetivo e legítimo para combater o desemprego.
SELEÇÃO JOGA MAL – É claro que o juiz tumultuou a partida entre o Brasil e o Equador, quinta-feira, em Quito. Mas vale a pena assinalar que a seleção de Tite não esteve bem na partida. O modo de jogar está muito dependente de um esquema tático a partir da troca de passes curtos no meio de campo.
Esse estilo distancia o ataque brasileiro da área adversária, ao contrário dos lançamentos longos. Faltou também um homem na frente, reduzindo a distância entre o nosso ataque e a área adversária. Veremos agora contra o Paraguai se a seleção de ouro melhora. Vamos torcer e aguardar.
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