terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Comandante da FAB diz que militares prestarão continência a Lula ou a quem se eleger presidente em outubro

 

 

“A política não entrará nos quartéis”, diz comandante da FAB

Pedro do Coutto

Numa longa entrevista a Igor Gielow, manchete principal da edição de ontem da Folha de S. Paulo, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, comandante da FAB, afirmou que os militares vão prestar continência a Lula ou a qualquer outro candidato que for vitorioso nas urnas de outubro deste ano.

“Prestaremos continência a qualquer comandante supremo das Forças Armadas, sempre”, frisou.”Como comandante da FAB, sempre coloquei a posição apartidária da Força. Uma coisa é falar de política. Outra, de política partidária”, acrescentou. A declaração é uma das mais importantes, sobretudo porque ele assinala que “cada um de nós faz um juramento voltado para a defesa da pátria, defesa da honra, integridade e fidelidade, à Constituição e às instituições democráticas”.

APARTIDÁRIO – Perguntado pelo repórter por qual motivo era considerado o mais bolsonarista dos comandantes militares, afirmou que não sabia de onde tiraram essas conclusões. “Como comandante da FAB, sempre ratifiquei o caráter apartidário da Força que é uma instituição de Estado. Não entrarei nessa avaliação”, disse.

O comandante acentuou que não se colocou contrariamente à CPI do Senado, presidida por Omar Aziz, mas apenas assinou o documento com os outros dois comandantes militares, do Exército e da Marinha, contestando a generalização de críticas feitas ao segmento militar, uma vez que estava colocada a integridade das instituições.

O pronunciamento do brigadeiro Baptista Junior, sem dúvida alguma, vai repercutir intensamente, inclusive porque, na minha opinião, a candidatura de Lula é citada expressamente, enquanto a continência a ser prestada ao presidente da República focaliza a questão de forma genérica. Tenho a impressão que o brigadeiro Baptista Júnior inspirou-se no resultado das pesquisas mais recentes do Datafolha e do Ipec.

DIREITO DO JORNALISMO –  O brigadeiro sustentou que quando alguém ataca a mídia, cria uma situação muito ruim. Da mesma forma, atacar um repórter que pode errar. Acentuou indiretamente que a atmosfera que envolve o Jornalismo e os jornalistas é muito diferente da que serve para as atividades militares.

A crítica aos que se voltam contra a imprensa, sem dúvida, tem uma direção certa de qualquer forma: o presidente Jair Bolsonaro e o Palácio do Planalto. Condenou também ameaças feitas por quem tem a posse de armas. “Homem armado não faz ameaça”, afirmou.

Relativamente à posição de militares do governo, Baptista Junior lembra que Fernando Henrique Cardoso convocou pessoas das universidades, enquanto o ex-presidente Lula da Silva convocou sindicalistas. “Assim, o presidente Bolsonaro trouxe para o governo pessoas de sua confiança”, destacou.

POLARIZAÇÃO – “Receio que a nossa sociedade esteja muito dividida e polarizada, isso é ruim para o futuro já que estamos chegando a um nível de incapacidade de compreender uma visão diferente e isso se reflete na disputa política. A FAB e as Forças Armadas, tenho certeza, se manterão dentro de sua destinação constitucional e não tomarão partido, pois a política não entrará em nossos quartéis. Não há qualquer indicação por parte do comando da Força Aérea”, acrescentou.

A entrevista foi dividida em blocos formada por perguntas e respostas. O comandante da FAB acrescentou que mantém a tropa informada de forma aberta. “Inclusive, no ano eleitoral, essa preocupação tem de ser enfatizada,  pois nós militares somos cidadãos brasileiros”, disse.

PRESSÃO – Fernanda Brigatti, em reportagem também na edição de ontem da Folha de S. Paulo, destaca que diversas empresas sediadas em São Paulo, como é o caso de confecções, têm pressionado trabalhadores, mesmo atingidos de forma branda pela Covid, a não se afastarem do emprego. É um absurdo, acentua a repórter, sobretudo porque a presença  de pessoas atingidas pela Covid eleva o processo de contaminação. Da mesma forma, por exemplo, do que ocorreria com o Carnaval e o desfile das Escolas de Samba.

O procurador Geral do Trabalho, José de Lima Ramos Ferreira, condenou a ação desses empregadores afirmando que a principal tarefa que tem é cumprir a lei. Em matéria de descumprimento da lei, acentuo, temos o exemplo divulgado no Fantástico de domingo, TV Globo, sobre a existência de trabalho escravo em fazendas no interior de São Paulo. Se no interior de São Paulo ocorre resistência à escravidão abolida há 134 anos, imaginem no interior de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e outros estados. O problema social vem assumindo uma escala de extrema gravidade.

Gonçalo Junior, o Estado de S. Paulo de ontem, revela que os moradores de rua na cidade de São Paulo, de 2021 em relação a 2020, cresceram 8%. São agora 28% do grupo urbano envolto na condição de pobreza extrema.

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