Camila Turtelli e Matheus Lara
Estadão
O silêncio do presidente Jair Bolsonaro nas primeiras horas após os ataques russos à Ucrânia pode lhe custar apoios e votos, na avaliação de lideranças do Congresso. Parlamentares cobraram uma posição mais enfática do governo, que até agora continua em cima do muro.
O presidente da comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), conversou ao longo do dia com o ministro da pasta, o chanceler Carlos Alberto França, e pediu uma posição mais dura, condenando os atos.
SEM RETALIAÇÃO – “Bolsonaro perde um espaço enorme”, disse Aécio à Coluna. Para ele, não há por que temer retaliação da Rússia, já que os esforços de Vladimir Putin estarão concentrados mais na guerra e menos em possíveis acordos com outras nações.
Já diplomatas brasileiros ouvidos pela Coluna avaliam que a primeira nota do governo sobre os ataques russos à Ucrânia, em que o Itamaraty pede a “suspensão de hostilidades”, representa uma vitória do ministro Carlos França sobre Jair Bolsonaro, que havia falado em “solidariedade” a Putin durante a ida ao país.
No Itamaraty, contudo, há ainda o temor de que o presidente se pronuncie de maneira irresponsável por questões ideológicas, contrariando a tradição diplomática do País, que historicamente defende soluções pacíficas. O conflito na Ucrânia pode ainda ter efeitos para o agronegócio brasileiro, dependente do fertilizante russo. “Há uma preocupação com a interrupção do fornecimento”, disse a presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teresa Vendramini.
MAIS PROBLEMAS– E o governo tem muito mais problemas. Na bronca com Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, por ter liberado a bancada na votação sobre os jogos de azar no Brasil, a bancada evangélica teve um dia de “desabafos” em seu grupo de WhatsApp.
Aliados de Bolsonaro, Otoni de Paula (PSC-RJ), Marco Feliciano (PL-SP) e Sóstenes Cavalcante (União-RJ) não esconderam o sentimento de que foram “sabotados” por parte da liderança do governo, embora Barros tenha prometido que o presidente vetará o projeto, se aprovado no Senado.
Sóstenes deixou claro que não vê mais Barros como interlocutor do governo na Câmara. “Enquanto eu for presidente, a Frente Parlamentar Evangélica não vai pedir nada ao presidente. Se ele quiser, ele nos peça ajuda. Estaremos ao lado dele, desde que ele peça.”
DEU PRA TI... – Demonstrando publicamente insatisfação com Jair Bolsonaro, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), dá sinais cada vez mais claros de desembarque da base do governo.
Marcos Pereira tem trabalhado nos votos e nomes mirando a formação da nova bancada do partido no Congresso e é um dos poucos que não cogitaram formar qualquer tipo de federação com outra sigla até o momento.
Motivo: no próximo troca-troca de março, o Planalto está trabalhando para fortalecer preferencialmente a legenda do PL de Valdemar Costa Neto, deixando em segundo plano os demias partidos que formam a base aliada.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Era só o que faltava, diria o Barão de Itararé. Quando Bolsonaro acerta na política externa, buscando a neutralidade e a paz, a grande mídia despeja críticas contra ele, sem parar. Isso é horrível. O Brasil precisa se manter independente na política externa, como sempre foi, desde os tempos do Barão de Rio Branco. Essas críticas a Bolsonaro são oportunistas, indevidas e asquerosas. (C.N.)
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