Jorge Béja
A pedido do editor da Tribuna, jornalista Carlos Newton, relatei aqui na TI o habeas corpus que impetrei no Superior Tribunal de Justiça, há 30 anos, em favor de Tenzin Guiatzu, o 14º Dalai Lama. Sem que ninguém me pedisse e sem medo de enfrentar o governo brasileiro que cedera à pressão da China, fui lá e o STJ ordenou que o governo brasileiro desse o visto de entrada no Brasil para que o líder tibetano e sua comitiva participassem da importante conferência Eco-92.
E todos puderem viajar para o Rio de Janeiro, sob protestos da China, que tinha condicionado sua participação no evento desde que o Dalai Lama não estivesse presente.
ONDE HOSPEDÁ-LO? – No dia anterior à chegada de Sua Santidade o Dalai Lama, um grupo de budistas foi até meu escritório. Primeiro, agradeceram muito. Depois me pediram uma sugestão do local para hospedar o líder tibetano e sua comitiva.
Sugeri o Mosteiro de São Bento.. Eu era ex-aluno e conhecia o Dom Abade e outros monges, já idosos mas ativos. E todos rumamos da Rua Acre, onde até hoje fica meu escritório, para a Rua Dom Gerardo. E a pé subimos a colina, até a entrada do mosteiro. Por sorte, o porteiro ainda era o mesmo do meu tempo de ginásio e científico.
Todos entramos. Caminhamos juntos pelos pórticos da parte interna do Mosteiro e fomos recebidos pelo Dom Prior, que eu não conhecia. Explicamos tudo. Dom Prior foi atenciosíssimo com todos nós.
SEM POSSIBILIDADE – Disse-nos o Dom Prior que lamentava, mas não poderia hospedar o Dalai Lama e sua comitiva. Isto porque o Dom Abade estava gravemente enfermo em sua cela e a movimentação seria intensa por causa da presença do líder tibetano. Dom Prior ainda lembrou que oferecer hospedagem era uma das muitas missões e obrigações deixadas por São Bento. Mas naquela circunstância não seria recomendável.
Foi quando me lembrei de Dom Eugênio Salles, cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, com quem sempre defendi a população carcerária do Rio, junto com o padre Bruno Trombeta.
Fomos procurá-lo. Assim que os budistas pediram, Dom Eugênio concordou imediatamente. E Tenzin Giatzu e sua comitiva ficaram hospedados no Palácio do Sumaré. E foi do Sumaré que recebi o chamado para ir conhecer o Dalai Lama.
ENCONTRO EMOCIONANTE – O protocolo diplomático internacional atribui o tratamento de Sua Santidade (SS) somente ao Papa e ao Dalai Lama.
Fomos ao Sumaré, minha esposa Clarinda e eu. E juntos, nós três conversamos muito, até que, em dado momento, Sua Santidade o Dalai Lama se levantou e colocou uma de suas mãos sobre minha cabeça e a outra sobre a cabeça da minha esposa. E durante uns 5 minutos ficou calado e imóvel. Um encontro raro e emocionante. Quanta saudade!
Ao falar em Dalai Lama, sempre lembramos a situação do Tibet. E vem à mente um sentimento de inconformismo, pois mostra como esta Organização das Nações Unida é fictícia e nada resolve.
ONU INOPERANTE – Em 1950 a ONU emitiu ordem para que a China desocupasse o Tibet imediatamente. Mas até hoje essa determinação jamais foi cumprida. Por isso, nosso Dalai Lama tem de viver na India (Dharampsala) e o povo tibetano teve destruído quase todos os seus templos. Talvez tenha restado um ou outro, não sei ao certo.
Também, pudera, um organismo internacional que tem um grupo seleto de países com poder de veto, entre os quais está a China. Assim, mesmo quando o país seja o réu, o infrator, o criminoso, continua tendo direito de vetar a punição contra si, não importa que tenha sido aprovada por todos os demais membros do Conselho de Segurança.
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