A falta de fiscalização e a ganância dos
empresários pelo lucro máximo foram apontadas como as causas dos
sucessivos casos de erros médicos nos hospitais privados no País, na
audiência pública realizada na Comissão de Seguridade Social da Câmara
nesta terça-feira (24). O debate foi proposto pela deputada Jandira
Feghali (PCdoB-RJ), que disse que não são poucos os casos que são
denunciados e um recente foi a morte de uma criança com crise asmática
no Hospital Santa Lúcia, de Brasília (DF).
Agência Câmara
A criança é Marcelo
Dino, de 13 anos, filho do ex-deputado federal Flávio Dino. Presente à
audiência, Flávio Dino, questionou os representantes do governo a
respeito da fiscalização que deve ser feita nos hospitais para evitar a
sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde. Ele reafirmou o que
disse a deputada Jandira Feghali que, nesses casos, o que geralmente
ocorre é a punição do profissional, enquanto o sistema de saúde privado
permanece com suas mazelas, fazendo novas vítimas.
A declaração do representante do
Conselho Federal de Medicina (CFM), Emmanoel Cavalcanti, de que pessoas
morrem e que a morte é inerente a condição de vida, chocou os
parlamentares. Jandira Feghali disse que não é natural a morte de um
jovem de 13 anos, por uma crise de asma, dentro da UTI de um hospital.
A deputada destacou, longo no início da
audiência, que o caso de Marcelo Dino é uma caso de repercussão e que os
que têm visibilidade têm obrigação de trazer a tona o debate para que
todos se beneficiem da discussão.
Quem fiscaliza
A procuradora regional da República da
3ª Região (SP), Maria Iraneide Facchini, criticou a fiscalização que é
feita pelo governo aos prestadores de serviço , que se restringe a
documentação e preços. E sugeriu que deveria haver fiscalização mais
direta e objetiva para evitar erros que causem danos à saúde e evitar
morte porque a vida é o bem mais relevante que temos.
Os representantes dos diversos órgãos
governamentais, convidados para o debate, fizeram explanações rápidas
sobre as atribuições de suas instituições, sempre destacando que não
eram responsáveis pela fiscalização do funcionamento do hospital. O
representante do Ministério da Saúde, Andersom Messias Silva, falou tão
rapidamente que recebeu críticas da deputada Jandira Feghali. Ele disse
apenas que a atribuição do Ministério é definir políticas no âmbito do
SUS (Sistema Único de Saúde).
O representante da Federação Brasileira
de Hospitais disse que os hospitais já eram extremamente fiscalizados
pela vigilância sanitária dos municípios e estados e que não vê espaço
para mais fiscalização. Admitiu que os hospitais têm dificuldades,
principalmente na emergência, com grande procura porque não existe
oferta adequada nos ambulatórios.
O representante da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS), disse que as atribuições da ANS com relação a
esse tema são limitadas e que o papel da Agência é regular os planos de
saúde, enquanto a representante da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), disse que a Anvisa tem o papel indutor para o
controle de riscos sanitários que devem ser feitos pelos estados e
municípios.
Dúvidas e indagações
Jandira Feghali disse que o debate tinha
como objetivo descobrir as falhas no funcionamento dos hospitais
privados e o que é exigido do Congresso Nacional para prevenir novas
mortes. E denunciou o fato de que existe uma portaria que veda a
terceirização nos hospitais e fica provado, pelo cadastro de servidores
mantido pelo Ministério da Saúde, está explicitado que existem
trabalhadores terceirizados.
E, citando o caso do Hospital Santa
Lúcia, disse que em seu site da internet, o hospital diz ter 1.200
profissionais e só 32 trabalhadores cadastrados no Ministério da Saúde.
Jandira também citou o caso de um funcionário que declara trabalhar 204
horas por semana, quando a semana só tem 168 horas. O que é preciso,
mais leis, portarias, instruções, mais legislação para que vocês possam
atuar? Indagou a deputada.
O ex-deputado Flávio Dino foi o primeiro
a falar após a exposição dos convidados. Ele também demonstrou surpresa
com a “frieza desumana diante do evento morte” do presidente do CFM. E
indagou às diversas autoridades presentes: para o governo, como o
cidadão deve agir quando o hospital erra? Você vai a polícia e apena o
profissional é responsabilizado? O sistema, as causas que levaram aquele
erro e crime, não são enfrentadas?
E pediu explicações sobre o fato de um
hospital como o Santa Helena possuir um único profissional para atender a
UTI e a Sala de Parto, destacando que no caso do seu filho Marcelo, a
criança morreu por falta de assistência porque a médica da UTI estava
atendendo na Sala de Parto. Para ele, a explicação é a tentativa de
obtenção de lucro máximo pelos donos de hospital.
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