Prestes a fundar um partido, pelo qual
deverá concorrer pela segunda vez à Presidência da República, em 2014, a
ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva tem tudo para contar com a
primeira adesão declarada à nova sigla na Câmara. É o deputado Domingos
Dutra (PT-MA), parlamentar cuja luta política é contra a hegemonia do
clã liderado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), no Maranhão.
Revoltado
com a subordinação do PT local aos interesses de Sarney, Dutra já fez
greve de fome por dez dias, em 2010, e diz que não quer repetir o
episódio. Prefere sair do partido que ajudou a fundar.
“Não
é fácil sair do PT, estou há 33 anos no partido, nunca coloquei o PT em
situação vexatória, mas não dá para continuar. Em 2014, não vou fazer
outra greve de fome”, afirma.
Diferentemente
de políticos na mesma situação, que evitam declarações mais
contundentes sobre a mudança de legenda, Dutra é enfático. Vai sair, a
não ser que o PT termine com a aliança com Sarney, o que sabe ser
improvável. “Apesar de fazer alguns movimentos para que o partido rompa
com o PMDB, sei que este assunto vai além daqui, é nacional, porque o
senador Sarney vai direto na fonte [no presidente Lula e na presidente
Dilma Rousseff]. Permanecer nesta situação é covardia de nossa parte”,
afirma.
Dutra afirma que o partido no
Estado está “aos frangalhos” e dividido em dois grupos, numa situação
que vem piorando desde o traumático processo de intervenção nacional em
2010. Naquela eleição, o grupo mais à esquerda, que queria apoiar o
candidato Flávio Dino (PCdoB) ao governo do Estado, ganhou a disputa
interna no diretório estadual, mas a direção nacional do PT interveio e
impôs a aliança com a governadora Roseana Sarney (PMDB). Em protesto,
Dutra e outro fundador do PT, Manoel da Conceição, entraram em greve de
fome. O deputado perdeu cinco quilos com o jejum, mas a decisão não foi
anulada.
O petista critica colegas do
partido que estão ao lado do clã Sarney e seriam alvo de um processo de
desmoralização. Dutra refere-se ao vice-governador Washington Luiz de
Oliveira, que concorreu à Prefeitura de São Luís, no ano passado, e aos
secretários de Assuntos Institucionais, Rodrigo Comerciário, e do
Trabalho, José Antônio Heluy.
“O vice
disputou três eleições a deputado federal e nunca se elegeu a nada. Ele é
vice por conta da intervenção. O Sarney para terminar de desmoralizá-lo
– mas para prender o partido nas relações nacionais – o colocou como
candidato a prefeito. Teve a maior coligação, com 14 partidos, e o maior
tempo de TV, com 14 minutos, e ficou em quarto lugar. O Sarney nunca
fez uma aparição pública para ele. A Roseana também não foi a nenhuma
atividade política dele”, afirma.
O
deputado lembra que Washington Oliveira perdeu até para a candidata do
PPS, a deputada estadual Eliziane Gama, que ficou em terceiro lugar, e
“tinha 20 filiados fazendo campanha de rua”. O segundo turno foi travado
entre o então prefeito João Castelo (PSDB) e Edivaldo Holanda Jr.
(PTC), que venceu a disputa.
Outra
reclamação é que 7 dos 11 prefeitos eleitos pelo PT no Maranhão, em
2008, foram derrotados justamente por candidatos de Roseana Sarney,
quando tentavam a recondução ao mandato no ano passado.
Curral do Sarney
Domingos
Dutra diz que enquanto os petistas aliados de Sarney estão
desmoralizados, o seu grupo está disperso. Fazem parte dos insatisfeitos
o deputado estadual Bira do Pindaré, o ex-prefeito de Imperatriz
(segunda maior cidade do Estado) Jomar Fernandes, a mulher dele, a
ex-deputada federal Terezinha Fernandes, e Manoel da Conceição, que
também discute a transferência para o partido de Marina.
“Do
jeito que está aqui, o PT é uma cobra de duas cabeças. Tem uma cabeça
lambendo a cara, o curral do Sarney, e outro grupo, outra cabeça,
querendo destruir o curral do Sarney. Quando a gente está balançando o
mourão (estaca que segura a cerca), o Sarney vai ao presidente Lula e à
presidente Dilma e coloca mais três ou quatro mourões. A situação é
escandalosa, porque a entrega do PT do Maranhão à família Sarney é a
anulação de toda a história do partido”, critica o deputado.
Dutra
afirma que sairá seja para o partido de Marina Silva ou outro já
existente, o que neste caso poderia levá-lo à perda de mandato por
infidelidade partidária. O parlamentar sabe dos riscos, mas rebate. “Em
2006, o PT aqui apoiou oficialmente o Jackson Lago (PDT), morto em 2011,
e o presidente Lula veio e apoiou a Roseana! Infidelidade é o PT estar
aliado à oligarquia Sarney, o resto tudo é atenuante”, diz.
O
petista conta que participou de reunião, em São Paulo, na quarta-feira,
dia 23, na qual Marina reuniu colaboradores para a construção do
partido. Entre os presentes estava o deputado federal Walter Feldman
(PSDB-SP). Alessandro Molon (PT-RJ) e Reguffe (PDT-DF), afirma Dutra,
justificaram a ausência. (Valor Econômico)
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