Katherine Silva Chaves Lima: O problema da violência não pode ser atribuído só à polícia. Estamos fazendo a nossa parte. |
A partir desta semana, a Polícia Civil maranhense passará por mudanças, ao ser anunciado o remanejamento de cerca de 90% dos policiais lotados nas delegacias de São Luís. Foi o que informou em entrevista a O Imparcial a delegada Katherine Silva Chaves Lima, recentemente empossada na Superintendência da Polícia Civil da Capital (SPCC), ao tratar do trabalho à frente do posto. Natural de Barra do Corda, a delegada veio para São Luís aos 11 anos, estudou direito e se especializou em temas como violência doméstica contra a criança e o adolescente.
Com 15 anos de Polícia Civil, Katherine Chaves Lima já passou pela Delegacia da Mulher de Imperatriz, unidades do interior e diversos distritos da periferia da capital. Também atuou no planejamento de operações policiais da antiga Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), depois transformada em superintendência (Seic).
Depois de licenciar-se provisoriamente da polícia para ocupar uma função de assessoria no Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), a delegada retornou à Corregedoria de Polícia, quando engravidou do segundo filho. O convite da delegada geral, Cristina Meneses, para Katherine Chaves Lima suceder Sebastião Uchoa na SPCC, foi feito ainda durante o período de licença-maternidade.
Segundo a nova superintendente, a decisão de interromper a licença ocorreu pela oportunidade de mudar o que ela acreditava necessário passar por mudanças. “Independente de quem esteja na gestão da pasta da segurança pública, meu compromisso é com a Polícia Civil”, disse ela, revelando que nunca teve vontade de seguir outra carreira. Embora não tenha tido outros policiais na família, que lhe servissem de modelo, a delegada recordou que, ainda na cidade de origem, quando saía da missa das crianças, aos domingos, ela logo seguia para a cadeia da cidade, ao lado da igreja, para visitar os presos e fazer amizade com os delegados. A seguir, a entrevista, concedida na sede da SPCC.
Quais os desafios de estar à frente da SPCC?
“O grande desafio foi substituir o colega Sebastião Uchoa, que vinha desenvolvendo um excelente trabalho à frente da SPCC. Como a primeira mulher a assumir a Superintendência e comandar toda a Polícia Civil da capital, fiquei um pouco receosa, mas assumi o desafio e estou confiante, por acreditar na competência dos delegados e delegadas. Meu objetivo é continuar o trabalho que vinha sendo feito, e estender as ações, desencadeando uma série de operações na cidade, principalmente nos bairros com maior número de denúncias de tráfico de drogas”.
Como devem funcionar essas operações?
“Através do Disque Denúncia, obtemos as informações, que são passadas aos investigadores [nas delegacias]. As equipes fazem os levantamentos e a SPCC pede as medidas [nas esferas] judiciais, como os mandados de busca ou de prisão. A seguir, são montadas as operações, e damos cumprimento. Já realizamos a primeira no bairro Barreto, que resultou em duas prisões por tráfico, uma por crime ambiental e outra por desacato. Mas mesmo que não houvesse as prisões, o trabalho mostra que o estado está presente naquela área, e atendeu ao chamado da população.
A Polícia Civil saiu aplaudida pelos moradores, pois ali mora muita gente de bem, que denuncia os crimes que acontecem lá. Vamos continuar [ações desse tipo]. Já mapeamos os bairros mais denunciados pela comunidade, como Liberdade, Barreto, Morro do Zé Bombom, no Coroadinho, Cidade Olímpica, e nesses locais vamos dar maior atenção, com a presença da polícia. Hoje os traficantes estão se especializando, e não escondem mais a droga em casa”.
O tráfico é um ponto crucial a ser combatido?
“Entendo que, combatendo o tráfico de drogas, automaticamente o índice dos outros crimes diminui. A maioria dos homicídios, por exemplo, é praticada por disputas de pontos de drogas, ou acerto de contas. Os furtos e roubos, também. O tráfico é a grande causa das mazelas e da criminalidade, a motivação dos homicídios e roubos.
Já está envolvendo crianças e usuários, que se tornam futuros traficantes. [Os criminosos] Já estão agindo como os traficantes do Rio de Janeiro, que criam cobras, jacarés e outros animais selvagens para intimidar tanto a comunidade como a polícia, para defender o território e ninguém chegar perto do local. Precisamos coibir do começo, pois se [o tráfico] fugir do controle, vai ser mais difícil [de ser combatido]”.
Como a polícia vem atuando nesse sentido?
“Estamos fazendo um trabalho de recolher as crianças e usuários que constrangem os motoristas nos sinais e semáforos, recolhendo dinheiro para comprar drogas e alimentando o tráfico. Mas temos que ressaltar que a segurança pública não é de responsabilidade somente da polícia. Tem que haver um trabalho de políticas públicas que tenha continuidade. Hoje levamos os usuários para os CAPS [Centros de Apoio Psicossocial], e lá eles tomam banho, têm assistência médica, psicológica e odontológica. Deve haver não apenas o trabalho por parte da polícia, mas também da família, da educação na escola, da religião, seja ela qual for.
A família tem que ser a base de tudo, e o estado tem que se engajar em diversas ações para orientar esses jovens que conseguimos resgatar, inclusive para não reincidirem. O problema da violência não pode ser atribuído só à polícia. Estamos fazendo a nossa parte. Todos os dias, vemos assaltos e homicídios, mas também prisões sendo efetuadas, quadrilhas sendo desbaratadas”.
A estrutura da Polícia Civil está adequada?
“Já encarregamos um assessor de visitar todos os distritos policiais e delegacias especializadas, para verificar as necessidades estruturais, as dificuldades que os colegas têm em relação à estrutura e quantidade de policiais. Para cobrar, tenho de dar condições mínimas de trabalho para a equipe.
Estamos fazendo esse levantamento para relatar ao secretário de segurança, apontando soluções para os problemas. A partir disso, vamos fazer um planejamento para estruturar, reformar e sanar os problemas, para o trabalho da polícia ser mais eficiente. O concurso público em andamento ainda não é o ideal, em número de policiais, mas já será uma grande ajuda no número de delegados, investigadores, escrivães e peritos”.
E em relação a outros tipos de crimes?
“Vamos continuar o combate à poluição sonora, mas dando ênfase a outras coisas. A poluição sonora é crime e incomoda à sociedade, mas entendo que existem crimes graves acontecendo, e que precisam de uma atenção especial. Apesar de o número de homicídios estar diminuindo, queremos causar impacto [nessa diminuição]. Também já conversei com o delegado Breno Galdino, secretário municipal de segurança pública, [para tratar dos crimes de trânsito]. Ele nos encaminhou um documento colocando à disposição a estrutura da Blitz Urbana e dos órgãos de que precisamos para fazer esse trabalho no trânsito.
Vamos fazer parceria não só com a Prefeitura, mas com a Polícia Militar, para o uso do bafômetro, conscientizar os motoristas e fazer a repressão que vem sendo planejada. A ação tem que ser conjunta, até por não termos o efetivo suficiente para uma grande e permanente fiscalização”.
( O IMparcial )
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