(Foto: Cézar Magalhães)
Vergonha do
Pará. CPI da Corrupção do Detran. Quem quer pizza?”. Esta era a frase
escrita no avental dos servidores do Departamento de Trânsito do Pará,
que distribuíram pizzas ontem em frente à sede do órgão. O de protesto
também contou com um cortejo e um enterro simbólico do Detran.
A manifestação teve início com uma
encenação, onde atores simularam um jogo de futebol do clube Santa Cruz
de Cuiarana, ao som do hino do clube. Outros dois atores representavam o
senador Mário Couto e Walter Pena, diretor geral do Detran. “Associação
Atlética Santa Cruz de Cuiarana. Patrocínio do Detran, será? É o que
queremos saber”, disse Elison Oliveira, presidente do Sindicato dos
Servidores do Detran (Sindetran).
Logo em seguida, os servidores começaram a
distribuição das pizzas em uma barraquinha. Um ato de repúdio, pedindo
que as investigações sobre o desvio de dinheiro
no órgão sejam apuradas seriamente. “Estive na Alepa (Assembleia
Legislativa do Pará) e infelizmente acho que o caso não vai ser avaliado
e apurado como realmente deveria ser. Essa é uma situação que não é
ruim só para nós, acaba refletindo na população”, opinou o servidor
Valdemir Silva. “A CPI é como se fosse armada para proteger a pessoa que
todo mundo sabe que é responsável por todo esse desvio de verba. A
gente fica indignado com tanta corrupção”, disse o servidor Márcio
Nascimento.
Após a encenação, os manifestantes iniciaram
um cortejo que percorreu parte da avenida Augusto Montenegro. Os
servidores utilizaram um caixão para fazer um enterro simbólico sobre a
situação em que se encontra o Detran. “O órgão padece vítima do câncer
da corrupção, da improbidade administrativa, do descaso com o povo do
Pará, da omissão na gestão. Estamos denunciando isso, que já está
insuportável aos trabalhadores e ao povo, que sofre a violência no
trânsito e que paga caro aos cofres do Detran”, afirmou o presidente.
Elison também questionou a seriedade da
apuração na CPI do Detran. “Lutamos tanto e conseguimos mais de 22 mil
assinaturas para que a CPI fosse instalada, porém ela já iniciou
totalmente questionada porque o presidente da CPI e o relator são
pessoas ligadas ao mesmo partido que administra do Detran. Ou seja, é
como se pedissem para o pai investigar o filho, isso já fica claro para
nós que é uma jogada para tentar camuflar toda a maracutaia existente”.
PARALISAÇÃO
Os servidores do Detran irão realizar uma
nova paralisação, desta vez por 48h. A partir do dia 13 de junho, em
conjunto com o Sindicato dos Policiais Civis do Pará (Sindpol), eles
pretendem mobilizar as categorias em todo o estado. “A gente entende que
o Detran sucumbiu, está sucateado, é humilhado moralmente perante a
opinião pública, é uma vergonha nacional. Esperamos que o povo entenda
que, ao paralisarmos nos próximos dias, estaremos lutando por uma
sobrevida para uma instituição tão importante”, afirmou o presidente.
Parsifal diz que PMDB continua na CPI
Líder do PMDB na Assembleia Legislativa, o
deputado estadual Parsifal Pontes informou ontem que o partido vai
continuar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada para
apurar desvio de dinheiro do Departamento Estadual de Trânsito (Detran)
para custear despesas e investimentos da Associação Atlética Santa Cruz.
“Há essa possibilidade (de o partido abandonar a Comissão), mas a
posição de hoje é de que continuamos. Não temos claro se a nossa
permanência não vai coonestar o teatro que está feito. Vamos participar
desse teatro?”, indaga Pontes afirmando que ainda há dúvidas que
caminhos tomar uma vez que a CPI está sob total controle do governo.
Os dois principais cargos foram definidos em
acordo com o próprio governador Simão Jatene. A presidência ficou com
Ítalo Mácola (PSDB) e a relatoria com Fernando Coimbra do PSD,
sublegenda tucana no Pará.
A CPI foi pedida por Parsifal Pontes e tem
como alvo a suspeita de desvio de dinheiro do Detran para a Associação
que fica na localidade de Cuiarana, município de Salinópolis, e tem o
senador tucano Mário Couto como patrono. Couto é responsável pelas
indicações de todos os principais cargos da estrutura do Detran no Pará.
Pontes diz que entre as estratégias pensadas
pela oposição para fazer a CPI está a de continuar na comissão, para
forçar a investigação das denúncias que levaram à abertura do caso na
AL. “Há possibilidade de usarmos isso contra a própria CPI. No momento
em que começarmos a requerer certas coisas e que a CPI rejeite, vamos
colocá-los em xeque. A CPI tem poderes investigativo. No momento em que
uma maioria do governo rejeitar requerimentos, nós podemos dizer para a
opinião pública que não está querendo apurar nada”, disse.
O peemedebista disse também que ainda não
decidiu se irá à Justiça pleitear a vaga que considera ter direito como
membro nato da comissão na condição de autor do requerimento que
garantiu a instalação. Como líder do PMDB, Pontes indicou o deputado
Francisco Melo, o Chicão, pela legenda, mas alega que em nenhum momento
desistiu da vaga como membro nato. Segundo Pontes, o cálculo das vagas
que caberia a cada partido deveria ser feito desconsiderando a cadeira
do autor do requerimento. O presidente da AL, Márcio Miranda, contudo,
diz que a proporcionalidade leva em conta o número total de vagas.
Ontem o relator da CPI Fernando Coimbra usou
a tribuna para se defender das acusações de envolvimento em fraudes no
seguro defeso. Coimbra foi alvo de uma ação do Ministério Público
Federal e Polícia Federal e responde a ação. “Sinto-me absolutamente
independente, como toda a Casa tem de ser, não podemos estar sujeitos a
pressões externas e termos de enrolarmos a bandeira que defendemos ao
ingressarmos aqui”.
Ele também negou interferência do governador
na escolha como relator. “A minha condução para integrar a CPI foi
legítima, se deu por encaminhamento partidário. Não foi a pedido de
senador A, senador B. Eu não tenho nenhuma subserviência a nenhum
senador do Estado do Pará. Posso estar do lado de qualquer parlamentar
que defenda os interesses do Estado, mas não estou a serviço de nenhum.
Na missão de relatoria de CPI eu quero investigar sim, porque a minha
carreira foi pautada na investigação”.
OUTRAS CPIS
Convocada ontem, a segunda CPI do Detran –
requerida pela filha do senador Mário Couto, deputada Cilene Couto, para
investigar contratos firmados na gestão do governo Ana Júlia - tem
primeira reunião marcada para o início da tarde de hoje, no auditório
João Batista, onde também deverá ser formada outra CPI, a do Futebol
Paraense, de autoria do deputado Alfredo Costa (PT), que deve apurar
supostas irregularidades na Federação Paraense de Futebol.
Com as composições de hoje, chegam a três o
número de CPI’s funcionando simultaneamente. Após a sessão normal, os
parlamentares deverão se dividir. os integrantes da CPI que investiga
desvio de recursos do Detran se reúnem na sala dos ex presidentes para, o
que se espera, dar início às investigações. Ao lado, no auditório João
Batista, serão abertas as duas novas comissões investigativas.
Na terceira CPI, a segunda do Detran, as
articulações entretanto seguem a todo vapor. O deputado Nélio Aguiar
(PMN) confirmou a substituição na comissão da deputada Simone Morgado
(PMDB) pela colega de legenda, Josefina Castro e. “Vamos tentar trazer o
deputado Zé Maria (PT) como presidente e a Luzineide (PSD) como
relatora”.
Couto chamou Coimbra de “assaltante”
Há cerca de três anos, o senador Mário Couto
(PSDB) usou a tribuna do Senado Federal para pedir a prisão de Fernando
Coimbra, eleito pelo PDT hoje no novato PSD, legenda satélite do PSDB
no Pará, ocupando também a função de relator da recém-criada CPI para
apurar a corrupção no Detran orquestrada pelo grupo de Couto.
Da tribuna, aos brados, no estilo teatral
que utiliza, Couto exigiu que o Ministério Público Federal, a
Controladoria Geral da União e a Polícia Federal reunisse as provas
necessárias “para a prisão de dois deputados estaduais eleitos no Pará,
Chico da Pesca (PT) e Fernando Coimbra (PDT), suspeitos de fraudar a
emissão do seguro-defeso no Estado”.
No pronunciamento, o tucano foi claro:
“Aqueles dois deputados que se elegeram no Pará fizeram uma quadrilha.
Paulo Sérgio de Souza, o Chico da Pesca, e Fernando Coimbra: dois
assaltantes dos cofres públicos, roubando dinheiro dos pescadores”,
disse o tucano a respeito do relator que agora vai investigá-lo.
Em sua defesa, Fernando Coimbra entregou à
mesa diretora certidões judiciais negativas que supostamente mostrariam
sua idoneidade. Ocorre que tais documentos não funcionam como
salvo-conduto. O fato é que o deputado do PSD está sendo investigado
pelo Ministério Público Federal e pela Controladoria Geral da União
(CGU) por fortes suspeita do desvio de milhões de reais na fraude de
concessões de seguro-defeso.
CONSTRANGIMENTO
Chico da Pesca exerceu o cargo de
superintendente federal da Pesca e Aquicultura no governo Lula de 2008 a
abril de 2010, onde era responsável pela emissão do Registro Geral de
Pesca (RGP) que garante o seguro à época do defeso aos pescadores
artesanais. Somente essa irregularidade teria custado R$ 280 milhões aos
cofres federais.
O petista quer saber até hoje porque só o
seu mandato foi cassado e Coimbra, arrolado no mesmo processo, continua
sem ser incomodado pela Justiça ou pelo Ministério Público. O petista
lembra que a posse da carteira não garante automaticamente o beneficio,
pois quem recebe a documentação dos pescadores nos municípios, cadastra e
autoriza a Caixa Econômica Federal a pagar o benefício é justamente a
Superintendência Regional do Trabalho, que na época dos fatos era
comandada no Pará por Fernando Coimbra.
Em sua defesa ontem na Assembleia
Legislativa Coimbra não disse uma palavra sequer acerca da indicação do
técnico de enfermagem Ricardo Pul Pinto para comandar a agência do
Detran (Ciretran) do município de Redenção. Fontes do DIÁRIO garantem
que a indicação partiu do agora relator da CPI do Detran.
Ricardo Pinto responde na 1ª vara federal de
Marabá por crime de formação de quadrilha. Caso seja condenado pode ser
pegar pena que varia de três a 12 anos de reclusão, além de pagamento
de multa. O atual chefe do Ciretrans de Redenção também foi preso em
flagrante em 19 de janeiro de 2007 pela Polícia Federal em Xinguara por
falsificar e fazer circular dinheiro falso
Resta saber como Fernando Coimbra, relator
da CPI da Corrupção do Detran, enfrentará o constrangimento de
investigar as falcatruas cometidas pelo órgão já que, além de ser da
base governista, terá que blindar um correligionário que já o
classificou como assaltante de cofres públicos. Além disso, carrega o
peso da suspeição, por ter indicado um afilhado político para dirigir
unidade do órgão investigado pela prática de vários crimes.
(Diário do Pará)
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