Ontem, um novo protesto resultou em repressão policial contra manifestantes (Foto: Janduari Simões/Diário do Pará)
Diante da
sinalização de que a atual planilha usada para definir o preço da
passagem de ônibus não atende às necessidades de avaliação em sua
totalidade, a reunião realizada na manhã de ontem com o objetivo de
analisar a possibilidade de redução da passagem encerrou apenas com a
decisão de ser realizada uma auditoria coletiva para apontar os custos
reais do transporte público em Belém. Com a instalação da auditoria, a
população precisará esperar por pelo menos mais 30 dias por uma decisão.
Segundo o prefeito de Belém, Zenaldo
Coutinho, a auditoria se fez necessária para que se analisasse fatores
que influenciam no preço da passagem que não estão contempladas na
planilha atual. O objetivo é fazer uma auditoria conjunta com o
Ministério Público do Estado (MP), Tribunal de Contas dos Municípios
(TCM), Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócioeconômicos (Dieese), Defensoria Pública, sindicatos e prefeituras
da Região Metropolitana.
Os representantes destes órgãos se
debruçarão sobre os dados que compuseram a planilha que definiu o valor
da tarifa do ano passado e as simulações com os impactos dos reajustes,
para que se possa definir se essa tarifa é justa e se dá para ser
reduzida, segundo explicou o prefeito, ao confirmar que o prazo máximo
para o término da análise é de 30 dias.
“É preciso que haja essa auditoria detalhada
inclusive com as fiscalizações dos pontos de ônibus, nas próprias
empresas, fazendo uma avaliação detalhada sobre esses custos”.
O MP sinalizou, através do técnico André
Vieira, que indicadores como o fator de utilização de motoristas e
fiscais poderiam gerar uma distorção nos custos reais. “Não podemos
dizer com segurança se R$1,50, R$2,20 ou R$2,40 é o adequado porque o MP
não tem dados como a remuneração do prestador que a lei determina que
integre a planilha”, apontou o técnico. “Esta planilha tem muitos
problemas. A planilha mensura apenas a despesa como componente de
R$2,20, e o lucro?”, também questionou o supervisor técnico do Dieese,
Roberto Sena.
TENSÃO
Apesar de sinalizada ainda no primeiro
pronunciamento da reunião, por parte do Ministério Público, a
necessidade de uma análise mais aprofundada dos custos do transporte só
foi definido após a tensão que se estabeleceu na reunião a partir da
atuação de manifestantes e da segurança pública do lado de fora do
palácio Antônio Lemos.
Antes mesmo do primeiro estouro, ouvido
muito claramente no gabinete do prefeito, a entrada apressada de
representantes da Polícia Militar na sala e a conversa reservada com
algumas das pessoas presentes já sinalizavam que o clima na rua era bem
diferente da tranquilidade que pairava na reunião.
Passados alguns minutos da saída dos
representantes da polícia, não demorou para que se ouvisse o primeiro
estouro. Mesmo para quem estava do lado de dentro do prédio, não foi
difícil constatar as sete bombas estouradas em 12 minutos. Mesmo diante
do susto estampado nos rostos de quem estava no local em cada novo
estouro, porém, a reunião prosseguiu com interrupções de quem trazia
notícias das ruas.
Chamado pelo prefeito assim que a defensora
pública Rossana Parente defendeu a permissão de subida de pelo menos
dois representantes do movimento que se mantinha na entrada da
prefeitura, o tenente-coronel da Polícia Militar e comandante da
operação, Sandro Queiroz, afirmou que a confusão na entrada da sede do
poder legislativo começou com a tentativa de invasão por um grupo de
manifestantes.
“Estávamos negociando com um grupo que
queria participar da reunião e outro começou a radicalizar. Eles
invadiram, tem policial ferido”, apontou. “O grande descontentamento
deles, pelo que percebo, é que eles querem participação ativa. Eles
querem participação direta para pelo menos ouvir”, complementou o
defensor público criminal, Vladimir Koenig, que estava mediando as
negociações entre os manifestantes e a polícia.
PROTESTO
Independente do posicionamento da defensora
Rossana de permitir a entrada de alguns representantes do movimento, já
depois dos estouros de bombas, a decisão foi pela não permissão de
participação naquela reunião específica.
Apesar da decisão no momento, o prefeito
afirma estar aberto a receber integrantes do movimento. “É um grupo
pequeno e que, infelizmente, vem para fazer confronto, mas que faz parte
da democracia”, justificou, ao analisar o acontecido nas ruas. “Estou
aberto para recebê-los. Querendo audiência, eu recebo quaisquer grupos
de quaisquer origens políticas, ideológicas e partidárias”.
A reunião também foi finalizada com a
decisão de que se analise as condições da passagem a partir da realidade
apenas de Belém. Com a sinalização pela Prefeitura Municipal de
Ananindeua do sistema já implantado no município que já possibilita a
compra antecipada da passagem através da bilhetagem eletrônica por
R$1,70, para circulação interna no município, foi apontada a
possibilidade de a tarifa de Belém estar sendo impactada pela redução em
outros municípios da Região Metropolitana.(DOL)
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