Mauro Santayana
(JB)
E menos ainda, teria tomado a infeliz decisão de fazer, um dia
depois, a defesa indireta da possibilidade desse grupo espanhol passar
por cima da lei e tomar de assalto o controle do mercado brasileiro
nessa área.
Qual é a razão da especial deferência da Presidente Dilma com a
Espanha do governo corrupto e conservador de Mariano Rajoy e seus
sorridentes executivos, como Emilio Botin, do Santander, e Cesar
Alierta, Presidente da Telefónica? Um grupo que se equilibra,
perigosamente, sobre uma dívida de 50 bilhões de euros – ou mais de 150
bilhões de reais – não pode ser considerado sólido.
Do ponto de vista moral, a reputação da Telefónica também não
recomendaria o encontro. Basta dizer que, com o dinheiro de vários
empréstimos de bilhões de reais do BNDES, a empresa teve e continua
tendo em seu conselho e com salários de milhares de euros – figuras da
estatura de um Iñaki Undangarin, – ex- jogador de handebol ali alçado
por ser genro do Rei da Espanha. Ele está envolvido com uma série de
escândalos de corrupção em seu país. Como “consultor” para seus negócios
da América Latina, há ainda Rodrigo Rato, ex-presidente do FMI,
acusado de envolvimento na quebra fraudulenta – com prejuízo para
milhares de pequenos poupadores – do banco estatal Bankia.
INFORMAÇÕES
Para ter acesso a essas informações, a Presidente da República –
que tem se encontrado também com Emilio Botin, do Santander – e sua
assessoria não dependeriam de sofisticados instrumentos de espionagem do
tipo dos usados pela NSA.
Basta entrar por 10 minutos na internet, em inglês ou na língua de
Cervantes, para saber a opinião média dos próprios espanhóis sobre a
Telefónica e sua situação financeira, e a baixíssima credibilidade de
seus serviços em seu próprio país de origem.
O mais grave, no entanto, não foi apenas o fato da Presidente Dilma
dar sinais de que estrangeiros vão continuar mandando, e cada vez
mais, nas telecomunicações brasileiras, contradizendo, assim, o teor do
discurso que havia feito na ONU.
No dia seguinte ela ainda reforçou essa situação, ao desautorizar,
publicamente, o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao parecer
defender, indiretamente, a possibilidade do Grupo Telefónica, de Cesar
Alierta – com quem havia se reunido no dia anterior – tomar, com um
virtual monopólio, o controle do mercado brasileiro de telecomunicações.
O QUE ESTÁ OCORRENDO?
Por que o Sr. César Alierta procurou, em Nova Iorque, a Presidente da República?
A Telefónica, dona da Vivo no Brasil, está assumindo o controle da
Telecom Itália, dona da TIM em nosso país, e quer unir as duas empresas
no Brasil, o que lhe daria 55% do mercado brasileiro de telefonia
celular, ou 150 milhões de usuários.
Mas o problema não é a telefonia celular. Hoje, todo mundo sabe que
quem vende telefone, também vende TV a cabo e internet – e quem
controla a internet, controla as informações que por ela circulam.
Tanto isso é verdade, que quando a justiça precisa de quebrar o
sigilo telefônico ou de email ou computador de alguém, recorre à
operadora.
Relembrando, a Presidente da República chega a Nova Iorque, e ataca
os norte-americanos na ONU, porque estão lendo o seu email e grampeando
o seu telefone, e, dois dias depois, após se reunir com um executivo
espanhol de uma empresa cheia de problemas, aceita a possibilidade de
que se eventualmente quisesse, essa empresa venha a espionar não
apenas o seu email e o seu telefone, mas o email e o telefone de 150
milhões de brasileiros, a serviço dos norte-americanos.
METER O BEDELHO
Afinal, o governo espanhol e as empresas se misturam, e poucos
países há, hoje, no mundo, mais fiéis do que a Espanha, e o seu governo,
aos interesses norte-americanos, a ponto de enviar soldados a lugares
em que não deveria meter o bedelho, como o Afeganistão, por exemplo.
Nos últimos anos, executivos da turma da castanhola, incluindo os
do Santander e da Telefónica, tentam engambelar, tranquilamente, o
governo, com o conto da carochinha de que, por estarem faturando mais no
Brasil do que na Espanha, seu compromisso com o nosso país seria maior
do que com o seu país de origem.
Em vez de ficarem embasbacados com a transferência da sede da
Telefónica América Latina de Madrid para São Paulo – o que nos obrigou a
aceitar mais algumas dezenas de “executivos” espanhóis em nosso país,
além das centenas que já tinham vindo antes com a empresa – muitos
brasileiros, do setor público e fora dele, deveriam se perguntar para
onde vão as dezenas de bilhões de reais que pagamos todos os anos pelos
péssimos serviços de telefonia celular, banda larga e TV a cabo, com
algumas das mais altas tarifas do mundo.
As telecomunicações – e aí está o escândalo da espionagem da NSA
para não nos deixar esquecer – são tão importantes para a soberania e a
segurança de uma Nação que a Itália, apanhada de surpresa pela compra da
TIM pela Telefónica, está aprovando às pressas a regulamentação de uma
“golden share” pelo governo italiano para impedir o negócio.
JUSTIFICATIVA
A justificativa? O país não pode ficar sem uma empresa própria
nesse setor estratégico, principalmente agora, sublinhamos, com “a
descoberta das atividades de espionagem norte-americanas”.
Pobre Ministro Paulo Bernardo – levado a se manifestar contra a
fusão da Vivo e da TIM – na única vez em que se colocou ao lado do
consumidor e do país, em uma disputa com uma das empresas que costuma
defender – foi repreendido pela Presidente Dilma.
O que a Nação reclama – e achávamos que a própria Presidente já o
houvesse percebido – não é uma mega-empresa privada e multinacional,
controlada pela Espanha, um país subalternamente alinhado aos Estados
Unidos, para controlar, com um virtual monopólio, o mercado brasileiro
de telecomunicações.
O que o Brasil exige – e a isso deve se dedicar com urgência – é de
uma grande empresa brasileira que possa contar com recursos do BNDES,
para operar o email que está sendo desenvolvido pelos Correios, os
softwares livres do SERPRO, as redes de fibra ótica que estamos
instalando com a UNASUR e os BRICS, os centros de computação em nuvem e
os satélites de comunicação que estaremos colocando em funcionamento
nos próximos anos.
Essa empresa tem nome e sobrenome. Ela já existe e pertence ao povo
brasileiro. Sua razão social é Telecomunicações Brasileiras Sociedade
Anônima. A sua marca é Telebras. E o seu Presidente não é o Sr. Cesar
Alierta.
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