BRASÍLIA - Um impasse entre PT e PMDB sobre o fim da reeleição impediu a
conclusão dos trabalhos do grupo da Câmara que discute sugestões para a
reforma política nesta quinta-feira (31). O grupo já aprovou o fim da
reeleição, mas os petistas pressionam por um recuo, mantendo o atual
sistema de mandato de quatro anos para presidente, governadores e
prefeitos, sendo permitido um mandato consecutivo.
A reportagem apurou que a movimentação do PT segue orientação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em setembro, durante encontro
com petistas em seu instituto, em São Paulo, Lula reclamou de o grupo
ter apoiado a fim da reeleição. Segundo relatos, Lula disse que o fim da
reeleição só tem a beneficiar
a oposição. Nessa reunião estavam o presidente do PT, Rui Falcão, o
deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), coordenado do grupo da reforma,
além do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto e do ex-ministro
Franklin Martins (Comunicação).
A discussão sobre o fim da reeleição colocou em lados opostos PT e
PMDB, as duas maiores bancadas da Casa. Representante dos peemedebistas,
o deputado Marcelo Castro (PI) disse que o consenso dentre de sua
bancada é pelo fim de dois mandatos consecutivos para presidente,
governador e prefeito. "O fim da reeleição é apoiado por quase 80% do
PMDB. E tem mais: 80% é a favor do mandato de cinco anos e 16% é a favor
de seis anos. Eu fiz uma pesquisa no partido e estou aqui representando
a vontade do partido. Então, o fim da reeleição foi aprovado e eu vou ter que prestar contas a minha bancada", disse.
Na discussão, o PP ficou do lado do PT e o PSDB apoio o PMDB. Na
próxima terça-feira, o grupo volta a se reunir para tentar fechar
questão. Vaccarezza sugeriu uma proposta alternativa, acabando a
reeleição apenas para cidades com menos de 200 mil habitantes e que não podem realizar segundo turno, mas não houve consenso.
A ideia do coordenador do grupo é entregar na quarta-feira uma PEC
(Proposta de Emenda à Constituição) com sugestões de mudanças no sistema
eleitoral ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Essa PEC terá que tramitar por uma comissão especial. Se aprovada,
precisará de 308 votos dos 513 deputados para ser confirmada e ainda
tramitar pelo Senado. As medidas só teriam efeitos a partir de 2018.
O texto preliminar divulgado prevê ainda uma consulta popular
(referendo) sobre os pontos da reforma no último domingo de outubro de
2014.
Confira propostas aprovadas pelo grupo de trabalho:
- Voto facultativo
- Reduz de 1 ano para seis meses o prazo exigido em lei para que um político esteja filiado a um partido para disputar eleição
- Reduz a exigência de assinaturas necessárias para criar uma legenda
de 0,5% para 0,25% do total de eleitores da eleição anterior
- Cria blocos federativos para atuação na Câmara por quatro anos. Os
partidos que se unirem para a disputa da eleição proporcional
(presidente) terão que se manter na Câmara dos Deputados por todo
mandato
- Estabelece uma cláusula de desempenho. As legendas só vão ter
direito ao fundo partidário se alcançarem 5% dos votos apurados para a
Câmara. Esse percentual também é exigido para os partidos terem direito a
estrutura nos Legislativos
- Prevê que os partidos políticos possam escolher entre financiamento público, privado ou misto
- As doações de empresas serão apenas para partidos, o que impende identificar o candidato beneficiado
- Sindicatos e entidades de direito privado só poderão fazer doações de fundo específico para fins eleitorais
- Voto regionalizado para escolha de deputados. Os Estados serão divididos pela Justiça Eleitoral em distritos
- Não será eleito deputado candidato que não tiver pelo menos 10% do coeficiente eleitoral
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