Carlos Chagas
Pelas pesquisas, ao menos até agora, a
presidente Dilma tem sua reeleição assegurada. A pergunta que se faz é
se confirmada no segundo mandato, preservará sua ligação umbilical com o
ex-presidente Lula ou se, no reverso da medalha, dará seu grito de
independência e governará conforme seus próprios padrões, pessoas e
objetivos. Porque Dilma exerceu um poder pela metade, desde que assumiu.
Suas principais decisões seguiram a orientação do antecessor. Não
poderia ser diferente porque, jamais tendo sido candidata sequer a
vereador, viu-se de repente eleita presidente da República por obra e
graça do Lula, que poderia ter escolhido um poste para sucedê-lo.
Mesmo sem maiores ligações com o PT, já que
foi fundadora e fiel escudeira de Leonel Brizola, do PDT, a presidenta
só virou companheira quando em vias de tornar-se ministra de Minas e
Energia do Lula. Jamais integrou-se ideologicamente no Partido dos
Trabalhadores e sempre desempenhou suas funções, depois na Casa Civil,
conforme concepções próprias, mas subordinada e submissa ao então
presidente da República. Empossada no palácio do Planalto, manteve a
submissão, fosse aceitando as indicações para o ministério, fosse
subordinando-se aos permanentes conselhos do chefe.
O diabo é que com o passar dos meses e dos
anos, prevaleceu a natureza das coisas. Não há duas pessoas iguais.
Muito menos dois pensamentos. Continuou a relação de identidade entre o
antecessor e a sucessora na medida em que ele mandava e ela obedecia,
mas diferenças de concepção se acentuaram. Lula sugeria e impunha uma
estratégia de tolerância no trato da coisa pública, Dilma cada vez mais
exacerbava sua intransigência, a ponto de demitir ministros impostos
pelo chefe quando flagrados em mal-feitos óbvios. Mesmo assim, continuou
a relação de subordinação, em especial quando se abriram as
preliminares da sucessão presidencial. Prova de lealdade de pai para
filho foi e continua sendo dada pelo ex-presidente quando rejeita
propostas de interromper a cadeia de fidelidade partidária, não
aceitando sua candidatura imediata para retornar ao poder. Prefere
aguardar 2018, entendendo direito de Dilma disputar o segundo mandato.
Como compensação ela segue em gênero,
número e grau as recomendações do mestre, ainda que cada vez mais
discordando de suas diretrizes. Chega o ponto inflexão: pelas pesquisas,
será reeleita, quem sabe até no primeiro turno, em função da
identidade entre professor e aluna. Configura-se, porém, o divisor de
águas. Aproxima-se a ruptura. Na posse do segundo mandato, Dilma terá à
sua frente quatro anos onde poderá ,se quiser, governar pelas próprias
mãos. Sem agredir o tutor, até porque ele dispõe de condições
excepcionais para sucedê-la, poderá romper o vinculo de subordinação que
os ligou desde que assumiu. De preferência, sem agressões.
Numa palavra, depois de quatro anos, a
presidente poderá compor seu próprio governo e imprimir ao país as
diretrizes com que sonhava Leonel Brizola. Sem o sapo barbudo a seu
lado.
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