Carlos Newton
Maria das Graças Foster é funcionária
antiga da Petrobras, já tem mais do que tempo de aposentadoria, com
salário integral, mas continua na ativa, dando uma demonstração de
civismo e desprendimento. Assim poderia começar a biografia de Graça
Foster (como prefere ser chamada), e seria maravilhoso se isso fosse
verdade.
Mas há outra versão, dando conta de que ela continua trabalhando não
somente porque faz parte da linha de frente do governo Dilma Rousseff,
mas também para cuidar os interesses do marido, o empresário Colin
Foster, que vem a ser proprietário da C. Foster Serviços e Equipamentos,
que presta serviços na área de petróleo e gás para empresas
estrangeiras e brasileiras – entre elas, a Petrobras, onde obteve
sucessivos contratos sem licitação.Uma dessas duas versões pode prevalecer, mas há também a possibilidade de as duas serem verdadeiras. Seja como for, o que se pode comprovar hoje, sem sombra de dúvida, é que, se Graça Foster não teve a menor atuação no caso Pasadena em 2006 e 2008, agora está participando de fato e se tornou cúmplice, ao procurar esconder os malfeitos cometidos.
Ou seja, se era inocente, agora não é mais, porque compareceu ao Senado propositadamente, a convite do PT, e lá omitiu informações importantíssimas, fez alegações falaciosas e tentou justificar as irregularidades e os crimes que deram vultosos prejuízos à Petrobras. Portanto, verdadeiramente tornou-se cúmplice.
DEFESA ARDILOSA E MENTIROSA
Mas por que alguém esperaria que Graça Foster contasse a verdade no Senado? Afinal, ela é diretamente ligada à presidente Dilma Rousseff desde o início do primeiro governo Lula e ficou claro que compareceu terça-feira ao Congresso justamente para evitar a convocação da CPI e encobrir a corrupção que grassa na importante empresa que dirige.
Mesmo admitindo que Pasadena foi um mau negócio, Graça Foster defendeu as premissas que embasaram a decisão, sob o argumento de que a Petrobras, antes da crise financeira de 2008, tinha margens “muito boas” (ou seja, dinheiro em caixa para esbanjar), como se isso justificasse qualquer negociata ruinosa.
Alegou ardilosamente que, em 2005, a ampliação de refino fora do Brasil era “decisão estratégica”, sem definir em qual estudo técnico isso se baseou.“Precisávamos refinar o óleo pesado do Campo de Marlim fora do país”, acrescentou, mas era tudo mentira. Nunca houve esta estratégia na Petrobras e a refinaria de Pasadena jamais processou óleo pesado, uma técnica muito mais complicada e dispendiosa do que refinar o óleo leve norte-americano.
Graça Foster mentiu, porque a estratégia da Petrobras é e sempre foi instalar mais refinarias aqui, como está acontecendo agora, para processar nosso óleo pesado, sem continuar importando óleo leve para misturar a ele. Mas a presidente Graça Foster, diante dos senadores, não disse uma palavra a esse respeito, confiante no desconhecimento dos parlamentares sobre essas questões eminentemente técnicas.
A decisão (realmente estratégica) de construir Abreu Lima em parceria com a PDVSA foi justamente para isso – conquistar tecnologia no refino de óleo pesado, uma das especialidades dos venezuelanos.
MEIAS VERDADES…
Graça Foster disse a verdade, ao confessar que o investimento em Pasadena chegou a US$ 685 milhões, mas omitiu a informação de que nenhum cent desse total foi investido para adaptar a refinaria para processar o óleo pesado de Marlim, conforme aquela pseuda “decisão estratégica”. Esqueceu também de mencionar que esses US$ 685 milhões foram gastos para colocar a refinaria para funcionar e devem ser somados ao total de U$ 1,23 bilhão que a Petrobras pagou abusivamente pela unidade.
Graça Foster alegou que o prejuízo para a Petrobras com a aquisição da refinaria foi de apenas US$ 530 milhões, admitindo que esses recursos jamais serão recuperados. Mas seus cálculos não se sustentam na realidade dos fatos. Com a correção monetária, o gasto já está passando bastante dos US$ 2 bilhões, valor de uma refinaria zero quilômetro e de maior capacidade.
O mais incrível foi ter afirmado que a usina está operando em sua capacidade de processamento, de 100 mil barris por dia. É mais uma falácia. A verdadeira produção de Pasadena é um segredo impenetrável na Petrobras. Se a unidade realmente processasse 100 mil barris por dia, até teria sido um negócio aceitável, a Petrobras poderia estar no lucro, o assunto não renderia e nem haveria necessidade de CPI ou qualquer outra apuração a respeito.
QUANTO VALIA EM 2011
Sabe-se que em 2011, já na gestão da própria Graça Foster, a Petrobras tentou vender a unidade/sucata de Pasadena, mas só conseguiu uma oferta de US$ 180 milhões, o que significa menos de um décimo do total “investido”, se é que podemos considerar assim. Nem aqui nem na China, como se dizia antigamente, é possível que uma refinaria que processe 100 mil barris/dia valha apenas US$ 180 milhões.
Portanto, não há qualquer dúvida: Graça Foster se comportou levianamente no Senado Federal e mostrou conivência com os crimes e irregularidades da corrupção na Petrobras.
Agora, o Congresso, o Ministério Público Federal, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal precisam exigir que a empresa forneça as informações propositadamente omitidas pela presidente Graça Foster: quanto a refinaria realmente produz por dia e quem fornece petróleo bruto, já que a extração da subsidiária Petrobras America é de apenas 23,9 mil barris diários, em média. Ficariam faltando, portanto, 76,1 mil barris diários para completar os 100 mil barris/ dia que Graça Foster alardeia estarem sendo processados em Pasadena.
Somente quando se souber a verdadeira produção de Pasadena é que o castelo de cartas da corrupção na Petrobras estará realmente perfurado.
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