Pedro do Coutto
A pesquisa do IBOPE, objeto de matéria de Cristiane Jungblut, O
Globo de sexta-feira 18, assinala a existência de acentuada insatisfação
mais com a política em geral do que com o quadro eleitoral. Tanto assim
que, em relação ao levantamento anterior, Dilma Rousseff desceu três
pontos, descendo de 40 para 37% das intenções de voto, mas Aécio Neves e
Eduardo campos não subiram, o primeiro registrando 14, o segundo apenas
6%.
A insatisfação está registrada no elevado índice dos que hoje
votariam em branco ou anulariam o voto: 24%. E também quanto a forma de
governar da atual presidente: 47 aprovam mas 48% desaprovam. A reação
contrária está aí. Mas é geral. Tanto assim que, com 37%, Dilma venceria
no primeiro turno. Isso porque com 24% de nulos e brancos, para efeito
de maioria absoluta, 76 passa ser igual a 100. Trinta e sete é quase a
metade. Devendo-se considerar também que uma parcela de 9% disse não ter
ainda se definido. Esses 9 pontos não vão para uma candidatura só.
Além do mais existem inúmeros candidatos. O pastor Everaldo
registrou 2 pontos, o senador Randolfo Rodrigues – aliás, bom
parlamentar – assinalou 1 ponto. Mas esta é outra questão. O essencial é
que existem motivos de sobra para a insatisfação descoberta. Os
aposentados e pensionistas do INSS têm motivos para estarem
satisfeitos? No Rio e São Paulo, por exemplo, duas grandes capitais, são
bons os transportes coletivos? O saneamento, de modo geral, a segurança
pública?
Vejam os leitores o que aconteceu em Salvador. Uma greve da Polícia
Militar deu margem a saques em supermercados e arrombamentos de lojas
comerciais. Foi um desastre social. No Rio de Janeiro, a Arquidiocese
cancelou as celebrações da Semana Santa por falta de segurança. Em
frente à Catedral Metropolitana estavam concentrados os que foram
tirados da invasão do terreno da empresa OI, no Engenho Novo.
Enfim, motivações não faltam para essa insatisfação que o IBOPE
revelou. E que falar do real custo de vida? Da eterna compressão
salarial? A questão, portanto, é de amplitude enorme. O que está
acontecendo, porém, é que Dilma recuou três degraus, mas Aécio e Campos
não avançaram. Pode ser que venham a ocupar o espaço da insatisfação e
de mais e de mais uma nova esperança. Porém, até agora, não deram sinal
que conduza concretamente a tal perspectiva. Por enquanto, o desejo de
mudança abrange todos os candidatos. A vantagem de Dilma Rousseff
permanece. O resto são hipóteses. Hipóteses não são fatos.
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