segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Assessora assume diretrizes econômicas de Marina Silva

Pedro do Coutto
Numa entrevista ao repórter Fernando Rodrigues, edição de 22 de agosto da Folha de São Paulo, Maria Alice Setúbal, acionista do grupo Itau e principal assessora econômica de Marina Silva, narrou e praticamente assumiu as principais diretrizes da candidata do PSB, o que, sem dúvida, representou um exagero, uma ruptura dos limites que publicamente separam o assessoramento do primeiro plano reservado aos candidatos. Não creio tenha a atitude sido positiva em matéria de votos para a ex-senadora.
Maria Alice Setúbal afirmou, por exemplo, que ao longo da campanha mais economistas estarão se aproximando (da candidata) e terão o perfil de operadores do mercado para compensar a característica mais acadêmica da maioria dos atuais conselheiros. Neste ponto, claro, entrou em rota de colisão com os conselheiros a que se refere. Destacou que esta será a tentativa de Marina de se qualificar como uma candidata confiável aos olhos do establishement financeiro e empresarial. Informou que  o programa a ser assumido pela candidata deve ser lançado na próxima sexta-feira, 29 deste mês. A candidata, acrescentou Maria Alice, estuda fazer um discurso ou um documento sucinto a respeito de seus compromissos na área econômica.
Ela ressaltou que conversa quase todos os dias com Marina e que, partir da consolidação da candidatura, cresceram as ofertas de doações. E foi em frente. Falou sobre pontos específicos do programa, dando a impressão de que Marina será uma repetidora deles, não idealizadora. Fernando Rodrigues perguntou: Marina concorda com todos esses pontos e vai assumi-los?
Vai assumi-los, assegurou Maria Alice. Ela tinha se se posicionado em alguns pontos de forma diferente de Eduardo. O caso da autonomia do Banco Central, por exemplo. Ela não achava que precisaria uma lei. Existiam diferenças. Mas o programa (partidário) vai refletir o consenso. Assim Marina aceitou a fórmula, acrescentou Maria Alice.
Já que a assessora estava falando sobre os mais variados temas, Fernando Rodrigues indagou: Há em geral dúvida sobre a falta de experiência administrativa de Marina. Como ela responderá a essa crítica? Maria Alice respondeu através de uma comparação com Dilma Rousseff. Afirmou: hoje, temos uma presidente cujo perfil é de gestão programática, racional. Talvez o oposto de Marina. E o resultado que nós temos é bastante insatisfatório. Toda essa fala de Dilma gestora se desfez ao longo de quatro anos. O mercado visualizando as pessoas que estarão ao lado dela (Marina) vai ter mais segurança. Ela já tem vários economistas. Terá outros, mais operadores, revelou.
O principal problema do governo Dilma – prosseguiu Maria Alice Setúbal – é a questão política. Ela tem incapacidade de ouvir. Tem um discurso absolutamente racional, de uma gerente, uma gestora. Mas tem que ter liderança. Ela não tem essa capacidade política. Ela desagrega. É aquela pessoa dura, que bate na mesa, que briga, que sustenta eu vou fazer, acontecer. Atitude política tradicional de quem vai resolver tudo sozinha.
Maria Alice, como se vê pelo texto de Fernando Rodrigues, assumiu um espaço na comunicação que, penso eu, deveria ter sido antes assumido pela candidata em pessoa. Passou a ideia de que Marina Silva em vez de produzir afirmações, repete opiniões. Torna-se assim, o que é negativo, uma síntese de sua assessoria, um consenso de seus consultores.
 
 

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