Pedro do Coutto
Numa entrevista ao repórter Fernando
Rodrigues, edição de 22 de agosto da Folha de São Paulo, Maria Alice
Setúbal, acionista do grupo Itau e principal assessora econômica de
Marina Silva, narrou e praticamente assumiu as principais diretrizes da
candidata do PSB, o que, sem dúvida, representou um exagero, uma ruptura
dos limites que publicamente separam o assessoramento do primeiro plano
reservado aos candidatos. Não creio tenha a atitude sido positiva em
matéria de votos para a ex-senadora.
Maria Alice Setúbal afirmou, por exemplo,
que ao longo da campanha mais economistas estarão se aproximando (da
candidata) e terão o perfil de operadores do mercado para compensar a
característica mais acadêmica da maioria dos atuais conselheiros. Neste
ponto, claro, entrou em rota de colisão com os conselheiros a que se
refere. Destacou que esta será a tentativa de Marina de se qualificar
como uma candidata confiável aos olhos do establishement financeiro e
empresarial. Informou que o programa a ser assumido pela candidata deve
ser lançado na próxima sexta-feira, 29 deste mês. A candidata,
acrescentou Maria Alice, estuda fazer um discurso ou um documento
sucinto a respeito de seus compromissos na área econômica.
Ela ressaltou que conversa quase todos os
dias com Marina e que, partir da consolidação da candidatura, cresceram
as ofertas de doações. E foi em frente. Falou sobre pontos específicos
do programa, dando a impressão de que Marina será uma repetidora deles,
não idealizadora. Fernando Rodrigues perguntou: Marina concorda com
todos esses pontos e vai assumi-los?
Vai assumi-los, assegurou Maria Alice. Ela
tinha se se posicionado em alguns pontos de forma diferente de Eduardo. O
caso da autonomia do Banco Central, por exemplo. Ela não achava que
precisaria uma lei. Existiam diferenças. Mas o programa (partidário) vai
refletir o consenso. Assim Marina aceitou a fórmula, acrescentou Maria
Alice.
Já que a assessora estava falando sobre os
mais variados temas, Fernando Rodrigues indagou: Há em geral dúvida
sobre a falta de experiência administrativa de Marina. Como ela
responderá a essa crítica? Maria Alice respondeu através de uma
comparação com Dilma Rousseff. Afirmou: hoje, temos uma presidente cujo
perfil é de gestão programática, racional. Talvez o oposto de Marina. E o
resultado que nós temos é bastante insatisfatório. Toda essa fala de
Dilma gestora se desfez ao longo de quatro anos. O mercado visualizando
as pessoas que estarão ao lado dela (Marina) vai ter mais segurança. Ela
já tem vários economistas. Terá outros, mais operadores, revelou.
O principal problema do governo Dilma –
prosseguiu Maria Alice Setúbal – é a questão política. Ela tem
incapacidade de ouvir. Tem um discurso absolutamente racional, de uma
gerente, uma gestora. Mas tem que ter liderança. Ela não tem essa
capacidade política. Ela desagrega. É aquela pessoa dura, que bate na
mesa, que briga, que sustenta eu vou fazer, acontecer. Atitude política
tradicional de quem vai resolver tudo sozinha.
Maria Alice, como se vê pelo texto de
Fernando Rodrigues, assumiu um espaço na comunicação que, penso eu,
deveria ter sido antes assumido pela candidata em pessoa. Passou a ideia
de que Marina Silva em vez de produzir afirmações, repete opiniões.
Torna-se assim, o que é negativo, uma síntese de sua assessoria, um
consenso de seus consultores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário