segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Marina: reformista ou acomodada

Carlos Chagas
Ainda que pesquisa não ganhe eleição, jamais se concluirá pela inocuidade das consultas eleitorais, que exprimem a tendência de um momento na vida do eleitor, sempre capaz de ser alterado até a verdadeira consulta popular, o voto. Mesmo assim, o pais aguarda com ansiedade os números que o Ibope divulgará amanhã, para saber se o súbito crescimento de Marina Silva se confirmará. Afinal na pesquisa anterior, da Datafolha, semana passada, ela bateu Aécio Neves no primeiro turno, por um ponto, e, de forma ainda mais densa, Dilma Rousseff no segundo, por quatro pontos.
Na campanha agora acirrada e cheia de surpresas, surge uma encruzilhada para a ex-senadora: diante da possibilidade de vencer a disputa, ela manterá a imagem de candidata que rejeita a prática vigente no país desde o governo Fernando Henrique, passando pelo Lula e por Dilma, ou, no reverso da medalha, prepara-se para amaciar? Fará concessões às forças conservadoras, evitando assustá-las, como estratégia para ganhar a eleição, ou preservará suas características de contestadora da velha política, imaginando ter sido esse o instrumento que a trouxe à pole-position?
Numa palavra, Marina apresentará uma nova “Carta aos Brasileiros”, no estilo Lula, garantindo a governabilidade e abrindo mão de seu perfil contestador? Ou seguirá atropelando concepções e diretrizes enraizadas no Brasil? A dúvida é saber por qual desses caminhos imagina chegar ao palácio do Planalto: recuar e garantir o apoio das elites ou avançar imaginando dispor da maioria do eleitorado ávido por mudanças fundamentais?
Em sua primeira aparição nas telinhas, sábado, ela ficou em cima do muro. Prometeu superar a velha política e criticou PSDB e PT, “que dividem o país numa guerra”. Denunciou a chantagem dos partidos sobre Dilma, “que troca ministérios por tempo na televisão” e até provocou Aécio, revelando esperar o apoio de José Serra. E enviou sinais à turma do agronegócio, através de seu candidato a vice, Beto Albuquerque.
Está sendo pressionada pela turma do “deixa disso”, no Partido Socialista, para não bancar o lobisomem, modelo que o Lula seguiu depois de vencer a eleição, dando garantias de que não mudaria as regras do jogo. A dúvida é saber se Marina conseguirá chegar ao 5 de outubro equilibrando-se entre os dois pólos contrários. Entre ser reformista, quase   revolucionária, ou acomodada, submetendo-se ao modelo econômico, político e social vigente, estará chave do sucesso ou do malogro de suas pretensões.
 
 

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