quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O caráter social da poesia de Castro Alves

O poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), símbolo da nossa literatura abolicionista, motivo pelo qual é conhecido como “Poeta dos Escravos”. No poema “Saudações a Palmares”, Castro Alves reafirma o caráter social da sua poesia e revive lembranças dos tempos de colégio.
SAUDAÇÃO A PALMARES
Castro Alves
Nos altos cerros erguido
Ninho d’águias atrevido,
Salve – País do bandido!
Salve – Pátria do jaguar!
Verde serra onde os palmares
– Como indianos cocares –
No azul dos colúmbios ares
Desfraldam-se em mole arfar!…

Salve! Região dos valentes
Onde os ecos estridentes
Mandam aos plainos trementes
Os gritos do caçador!
E ao longe os latidos soam…
E as trompas de caça atroam…
E os corvos negros revoam
Sobre o campo abrasador!…
Palmares! a ti meu grito!
A ti, barca de granito,
Que no soçobro infinito
Abriste a vela ao trovão.
E provocaste a rajada,
Solta a flâmula agitada
Aos uivos da marujada
Nas ondas da escravidão!
De bravos soberbo estádio,
Das liberdades paládio,
Pegaste o punho do gládio,
E olhaste rindo p’ra o val:
“Descei de cada horizonte…
Senhores! Eis-me de fronte!”
E riste… O riso de um monte!
E a ironia… de um chacal!…
Cantem Eunucos devassos
Dos reis os marmóreos paços;
E beijem os férreos laços,
Que não ousam sacudir…
Eu canto a beleza tua,
Caçadora seminua!…
Em cuja perna flutua
Ruiva a pele de um tapir.
Crioula! o teu seio escuro
Nunca deste ao beijo impuro!
Luzídio, firme, duro,
Guardaste p’ra um nobre amor.
Negra Diana selvagem,
Que escutas sob a ramagem
As vozes – que traz a aragem
Do teu rijo caçador!…
Salve Amazona guerreira!
Que nas rosas da clareira,
– Aos urros da cachoeira –
Sabes bater e lutar…
Salve! – nos cerros erguido –
Ninho, onde em sono atrevido,
Dorme o condor… e o bandido!…
A liberdade… e o jaguar!
           
(Colaboração enviada por Paulo Peres – site Poemas & Canções)
 
 

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