Mauro Santayana
A Câmara Municipal de Alfenas, em Minas Gerais, aprovou lei que
prevê o desconto de impostos municipais, como o IPTU, para pessoas que
se dispuserem a adotar cães. E por que não fazer o mesmo – de
preferência – com quem adotar uma criança ou idoso em situação de
abandono? Muitos dirão que a culpa da miséria, no Brasil, é dos pobres,
que fazem filhos demais. Se esquecendo, ou fingindo ignorar, que a
nossa curva demográfica, já é, há anos, descendente, e que a população
brasileira tende a diminuir e envelhecer aceleradamente.
Um quadro que tornará difícil, se nada for feito, substituir nossa
força de trabalho nos próximos anos, deixando o país sem recursos para
fazer frente, no futuro, ao aumento das despesas da Previdência Social e
do número de aposentados.
O que dá origem ao crescimento do número de bebês e crianças em
situação de abandono, hoje, é a falta de informação, a gravidez precoce e
as drogas e a violência, com grande número de pais jovens presos ou
assassinados.
PATRIMÔNIO HUMANO
Cada criança que se encontra em um abrigo ou orfanato e que ali
cresce sem uma família, é parte do patrimônio humano brasileiro. Mas a
maioria sai dessas instituições, ao completar 18 anos, sem preparo,
orientação ou trabalho, e vai engordar a fila dos moradores de rua ou da
marginalidade.
Orientadas, treinadas, educadas, elas poderiam dar inestimável
contribuição à nossa sociedade, caso houvesse estímulo não para a
adoção de cachorros, mas de pequenos brasileiros.
O que precisamos não é incentivar a adoção de cães, mas taxar
rigorosamente a sua propriedade, e monitorá-los por meio de “chips”,
punindo com pesadas multas quem os abandone. Se considerarmos o número
de crianças que não são adotadas por causa da sua idade ou da cor de sua
pele, a lei de Alfenas soa como um escárnio. Ou um insulto.
Um escárnio a todos os seres humanos, e especialmente às crianças
que se encontram ameaçadas pela fome, sede e doenças – como o ebola – em
vários países do mundo.
Um insulto ao bom-senso, à lógica, à inteligência, quando se lembra
que – com menos do que se gasta apenas de ração com um cachorro – é
possível, por meio de instituições confiáveis, como os Médicos Sem
Fronteiras, assegurar água potável e comida, por 30 dias, para uma
criança, como os milhares de órfãos refugiados de guerras estéreis e
injustas como as da Síria e da Líbia.
BICHO HOMEM
Com todos os eventuais defeitos que possamos ter, como indivíduos,
os cães que nos desculpem, mas a prioridade maior de qualquer homem,
mulher ou criança, deveria ser com sua própria espécie – com a prática
da solidariedade – na promoção da dignidade humana.
Se isso nos fosse ensinado nas escolas, e incentivado em nossa
atitude e comportamento – inclusive com a isenção de impostos e outros
benefícios – haveria menos estupidez, violência e egoísmo. E o mundo
seria, certamente, outro.
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