sábado, 1 de novembro de 2014

Quanta ingenuidade em campanha tão rasteira!

Sandra Starling
Quero, inicialmente, agradecer a todos que por e-mails, mensagens, telefonemas e WhatsApp entraram em contato comigo para concordar ou discordar da decisão que eu – por escrito – havia divulgado de que votaria em Aécio Neves nesse segundo turno. Na declaração eu repudiava a decisão do governo de impedir a divulgação, pelo Ipea, dos mais recentes dados sobre a desigualdade social no Brasil e, genericamente, me referia a mentiras ditas pela presidente sobre outras questões. Frisava também minha insegurança em relação ao candidato do PSDB a respeito de questões caras a mim, como os direitos dos trabalhadores, das mulheres, dos jovens, dos homossexuais – enfim, demonstrava meu receio em relação ao tratamento a ser dado aos excluídos em geral.
Dizia da preocupação com os problemas vindouros e revelava haver chegado a pensar em não comparecer para votar, praticando o que os atenienses outrora chamavam de “idiotia”, isto é, a recusa em participar das decisões políticas da cidade-Estado. Mudara de ideia em face da preocupação com o futuro dos mais necessitados e fizera, então, uma escolha, correndo o claro risco de errar.
Não tenho blog, não faço parte do Facebook ou similares. No mesmo dia em que entreguei a nota a um caro amigo da imprensa, passei a ser soterrada por uma verdadeira avalanche de comentários, vindos dos mais diferentes pontos do país e a mim noticiados por parentes e amigos, quando não remetidos diretamente para o meu e-mail ou pelo WhatsApp. Senti-me atordoada e sem saber o que fazer.
Mas o pior ainda estava por vir: antigas e recentes fotos minhas com o seguinte meme: “Fundadora do PT afirma ser idiota quem vota no PT”. Para se medir a irresponsabilidade dessas montagens, basta constatar que uma das fotos fora feita no início do ano em reportagem na qual eu criticava duramente as pretensões de um então postulante ao cargo presidencial, o senador Aécio Neves…
INGENUIDADE
Fui duplamente ingênua: primeiro, ao desconhecer o furor com que se usam os modernos meios de comunicação, mormente em campanha eleitoral de nível tão rasteiro; segundo, ao supor não terem relevância declarações de uma pessoa há 16 anos afastada de qualquer militância político-partidária. Mas eu jamais chamaria de “idiota” quem escolhe votar no PT. A começar por meu próprio marido, que votou em Dilma. Acho-o equivocado em escolhê-la diante dos problemas do governo que ela dirige. Mas cada um é dono de sua consciência, como inúmeras vezes apontei, citando Rosa Luxemburgo.
Desisti de comparecer à minha seção eleitoral. Ainda que meu voto pudesse ser definidor dessa contenda acirrada. Mas pelo menos fico em paz, pedindo, com esse gesto, perdão a petistas, meus ex-companheiros, eventualmente ofendidos pelo que definitivamente nunca sequer pensei. Divirjo deles hoje, sim. Mas não lhes nego o direito de pensar como pensam. (transcrito de O Tempo)
 
 

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