segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Renato Janine Ribeiro: “Brasil tem deficiência de liderança”


Fabiano Maisonnave
Folha
Do PT dependente de Lula ao PSDB com “desatualizações acachapantes”, a política brasileira vive uma crise de liderança, segundo o filósofo Renato Janine Ribeiro (USP). Ele disse torcer pelo fortalecimento de Marina Silva como forma de melhorar a discussão atual “muito insuficiente”.
“Estamos bastante deficientes em termos de liderança, de futuro”, disse Ribeiro, no último dia do encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) quinta-feira (dia 30).
“Em 2018, o PT corre o sério risco de reprisar Lula. Sem nada contra o ex-presidente, mas isso indicaria que 40 anos do partido não terão gerado um líder”, afirmou o filósofo, que, na campanha, declarou apoio à reeleição de Dilma Rousseff.
“O PSDB não oferece futuro nem entende o que é mulher. O candidato chama todas as mulheres de levianas”, afirmou, ao recordar um debate entre Aécio Neves e Dilma no segundo turno. “Essas desatualizações são acachapantes.”
Com relação a Marina Silva, o filósofo político criticou a falta de outras lideranças dentro da Rede e a sua incapacidade para se viabilizar politicamente após a boa votação em 2010. “Acho uma loucura ninguém pegar esses 20 milhões de votos, fazer enxerto etc.”
Ribeiro, no entanto, afirmou que a ex-ministra do Meio Ambiente é uma terceira via desejável. “Gostaria até que a Rede se fortalecesse porque, se Marina tivesse, na campanha, dito o que sustentabilidade quer dizer, talvez tivesse afugentado os empresários, mas teria colocado uma das grandes agendas do futuro.”
“Temos de ter uma melhora na discussão política. Talvez isso nos livre dessa situação de um partido que pretende preservar as conquistas sociais e um partido que pretende voltar à bonança econômica neoliberal. Isso é muito insuficiente”, afirmou.
Apesar de apontar a crise de liderança, Ribeiro fez um balanço positivo da recente trajetória política brasileira. Repetindo ideias expostas em artigo recente, disse que o país completou, com êxito, o processo de redemocratização, via PMDB, e o combate à inflação, durante o governo do PSDB.
Com o PT no poder, afirmou o filósofo, o Brasil entrou na sua agenda mais difícil, a inclusão social. Ao mesmo tempo em que lida com a terceira agenda, argumentou, os protestos de junho de 2013 jogaram na quarta pauta democrática, a de melhoria nos serviços públicos.
 
 

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