Completamos um mês do fim das eleições
presidenciais. Tudo o que se viu neste período comprova, na prática, o
que a oposição denunciou no processo eleitoral: a grave situação em que o
país se encontra.
Além dos prejuízos causados pela má
gestão e pela corrupção endêmica, o PT prestou, recentemente, mais dois
grandes desserviços ao Brasil. Um na campanha, outro nos dias que se
seguiram.
O primeiro, na ânsia de vencer a qualquer
custo, o de legitimar a mentira e a difamação como armas do embate
político. O segundo, o de contribuir para a perda da credibilidade da
atividade política ao fazer, sem qualquer constrangimento, nos dias
seguintes à eleição, tudo o que afirmou que não faria.
Como a atividade política é instrumento
fundamental da vida democrática, sua desmoralização só interessa aos
autoritários, para quem o discurso político não é compromisso, mas
encenação que desrespeita e agride a cidadania.
Finda a eleição, a candidata eleita,
rapidamente, pôs de lado as determinações do marketing e colocou em
prática tudo o que acusou a oposição de pretender fazer.
Fez isso sem dar satisfação à opinião
pública. Sem dar explicação sequer a seus próprios eleitores. Os mesmos
eleitores que observam, atônitos, a presidente implantar as “medidas
impopulares”, que usou como matéria-prima do terrorismo eleitoral contra
seus adversários.
Marcelo Cipis | ||
Hoje a realidade demonstra que ela
concordava com todos os alertas que fiz sobre os problemas enfrentados
pelo país, mas entre o respeito à verdade e aos brasileiros, e a
insinceridade ditada pela conveniência do marketing, a presidente
escolheu o marketing, o que não contribui para engrandecer a sua
vitória.
Na campanha, o PT dizia que aumentar os
juros tiraria comida da mesa do trabalhador. Três dias depois da
eleição, foi justamente isso o que o governo Dilma fez.
No discurso do PT, se eleita, a oposição
iria reajustar a gasolina, governar com banqueiros e patrões. Vencida a
eleição, o governo anunciou o aumento dos combustíveis e convidou um
banqueiro para a Fazenda. Anunciou ainda dois novos ministros: para
cuidar da agricultura e da indústria, a dirigente e o ex-dirigente das
confederações patronais.
Mesmo conhecendo a realidade, a candidata
teve coragem de dizer que a inflação e as contas públicas estavam sob
controle. Agora, deparamos com mais um rombo espetacular e manobras
inimagináveis para maquiar as obrigações da Lei de Responsabilidade
Fiscal.
Surpresos, os brasileiros assistem àquilo
que muitos estão chamando de estelionato eleitoral. Tudo isso explica a
indignação de milhares de pessoas que vão às ruas e se mantêm
mobilizadas nas redes sociais.
São pessoas que se sentem lesadas, mas
esse sentimento não tem relação com o resultado eleitoral em si.
Processos eleitorais fortalecem a democracia, qualquer que seja o
resultado da eleição. Vencer e perder são faces da mesma moeda. As
pessoas estão se sentindo lesadas porque os valores que saíram
vencedores na disputa envergonham o país.
Além do grave descalabro econômico e
administrativo agora revelado, é assustador o que ocorre com a nossa
maior empresa. Nos debates, ofereci várias oportunidades para a
candidata oficial pedir desculpas aos brasileiros por ter tirado a
Petrobras das páginas econômicas e a levado para o noticiário policial.
A situação, desde então, agravou-se de
uma maneira jamais imaginada. A Petrobras hoje é um caso de polícia
internacional. Não há mais como se desculpar.
Por outro lado, não deixa de ser
simbólico o fato de a presidente ter se negado a participar do anúncio
dos novos ministros da área econômica. É possível que ela tenha se
sentido constrangida por correr o risco de se encontrar com a candidata
Dilma Rousseff.
Os últimos 30 dias são uma amostra da
situação real do Brasil e do que vem pela frente. E nos mostram por que
não podemos nos dispersar.
AÉCIO NEVES, 54, senador por Minas Gerais, foi candidato à Presidência da República pelo PSDB na eleição deste ano
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