Cabo Campos deixará o serviço militar após 22 anos na corporação para assumir a vaga de deputado estadual pelo Partido Congressista. O militar fala dos primeiros contatos para participar de %u2018blocos%u2019 na Assembleia Legislativa, e dos principais desafios como deputado
Glaucione Pedrozo/O Imparcial
Dos 22 anos que serviu o estado, Campos passou 17 como soldado. Sofreu processos administrativos e chegou a ser classificado como “foragido”, boato que causou grande constrangimento para a família. Casado com Mayra Marques, pai da Laila e do André, Cabo Campos afirma que “foi mais fácil ser deputado estadual do que ser sargento na Polícia Militar”.
Quando o senhor começou as lutas na Polícia Militar, o senhor já tinha essa intenção de se candidatar um dia?
“Não, não tinha. O que eu tinha, na verdade, era somente o desejo de ter melhores condições para os nossos policiais, haja vista que nós entendemos que os policiais fazem um trabalho tão bem feito, com tão poucas condições.”
Então como e quando foi amadurecendo a ideia de se candidatar?
“Foi em 2006, quando me candidatei a deputado estadual. Nós vimos o debate em relação à Segurança Pública e geralmente onde não se tem um representante, todo mundo fala o que quer e nós geralmente somos derrotados, como historicamente temos visto. Em 2008 saímos candidato a vereador, depois apoiamos o capitão Otsuka para deputado estadual. Em 2012 fomos candidatos a vice-prefeito na cidade de São Luís e agora logramos êxito.”
Já lhe procuraram para que o senhor participe da formação de algum Bloco na Assembleia?
“Já estão me procurando sim. Há uma estratégia do partido para que tenhamos vez e voz no parlamento, há uma expectativa de podermos assumir como presidente da Comissão de Segurança. Somos o único eleito oriundo de movimentos do “baixo clero”. Estamos fechando e a palavra de ordem agora é diálogo.”
Na campanha, o seu partido foi aliado do governador eleito Flávio Dino. Ao logo do seu mandato, em uma hipótese de o governador assumir alguma postura que vá de encontro aos compromissos assumidos com a corporação ainda na campanha, como o senhor vai se portar?
“Eu sempre irei defender os interesses da corporação e aquilo que defendemos como planejamento de campanha. Não acreditamos que o governador vai descumprir aquilo que nos prometeu, que é a valorização profissional e o aumento do efetivo. Ele nos prometeu que para toda maldade que foi feita durante esses anos, haverá um colchão de combate. Chegou um novo tempo para a Segurança Pública. Pior do que estar numa greve, é o militar desvalorizado e descompromissado.”
A partir de qual momento as promessas poderão ser cobradas do governador eleito?
“Nós atualmente temos um governo que vai deixar um Orçamento pronto para o próximo ano. Esse orçamento não nos contempla de maneira positiva, está tirando verba. Vai ser muito difícil para o próximo governador um aumento salarial ou qualquer tipo de valorização que diga respeito à questão pecuniária. Temos formas alternativas, como o empréstimo do BNDES, que pode ser aplicado. Mas temos consciência que esse primeiro ano ainda será difícil.”
Além do apoio da tropa militar, o senhor também obteve um apoio da comunidade evangélica. Como foi articulado esse apoio? O senhor vai levar essa discussão da comunidade evangélica para a Assembleia?
“Nós tivemos o apoio significativo da Igreja Mundial do Poder de Deus, na pessoa do bispo Júlio e da pastora Fátima. As outras denominações não fecharam comigo um apoio institucional, mas votaram na gente. Tivemos o sentimento de outras congregações que nos ajudaram, como o caso da Igreja Batista do Angelim. No meio político, os evangélicos ainda não vistos de maneira negativa e até de certa forma preconceituosa. Na pasta da Cultura, por exemplo, esquecem que o cristão evangélico também suas manifestações culturais, porque a Cultura é algo universal.”
Quanto à questão da promoção dos militares, como o senhor irá abordar?
“Vamos propor que a promoção seja automática. Chegando o tempo de promoção, que ele seja automaticamente promovido. Eu lembro que em 2009 eu fui questionado por um vizinho se eu era Capitão. Foi uma pergunta inocente, mas ali eu já estava com 17 anos como soldado. Me perguntei o porquê. Os militares se sentem desmotivados quando começam e não conseguem prosseguir na carreira.”
Como o senhor está se sentindo em ter que deixar a Polícia?
“Eu ainda não acostumei. A ficha ainda está caindo. Nós temos uma vida na Polícia Militar, passamos mais tempo na corporação do que dentro de casa. Temos um sentimento de gratidão à corporação. O que está pesando agora é um sentimento de responsabilidade, de fazer um bom mandato em favor desses que nos colocaram lá. Fomos um milagre de Deus, porque gastamos do bolso 10.804 reais. Teve gente que gastou milhões. Não tínhamos estrutura, só contamos com o desejo dos colegas de ter um representante. Essa transição ainda me assusta, mas como dizemos no quartel: “missão dada, é missão cumprida”. E não interessa a missão.”
Qual a sua expectativa para o próximo ano?
“Estou vindo com grande preocupação, haja vista a questão do Orçamento. Não vamos conseguir mudar as coisas como num passe de mágica. Vamos ter que fazer ações a médio e longo prazo. Quem votou na gente e votou no Flávio Dino terá que ter essa consciência e sabedoria. Próxima quarta-feira (3) teremos uma audiência pública com várias pessoas envolvidas com a questão da Segurança Pública para discutirmos a questão orçamentária.”
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