Folha de S. Paulo
O segundo mandato de Dilma começa hoje com um fato bastante
inusitado, mesmo para um país que coleciona episódios surpreendentes
como o Brasil. Após a posse, a presidente assinará a nomeação de um
ministro cuja indicação foi tramada meses atrás, ainda na campanha, numa
penitenciária.
Novo titular dos Transportes, pasta com um orçamento na casa dos R$
20 bilhões, Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), o Carlinhos, chega ao
cargo por vontade do mensaleiro Valdemar Costa Neto, o Boy, que até
pouco tempo atrás dormia no Centro de Progressão Penitenciária de
Brasília –em novembro, o ex-deputado ganhou o direito de cumprir em casa
o resto de sua pena.
Descontente com a atuação de César Borges, então ministro, Valdemar
pressionou a presidente, por meio de sua bancada na Câmara, a trocá-lo
por Carlinhos ou pelo deputado Edson Giroto (PR-MS). Como Dilma recusou,
ele articulou a divulgação de um manifesto público do partido pedindo o
“Volta, Lula”. O texto dizia que “o momento de crise reivindica (…) o
brilho de Lula no comando da nação”.
DEMITINDO O MELHOR MINISTRO…
Dilma não apenas continuou a bater o pé como passou a chamar Borges
publicamente de o “melhor ministro dos Transportes”. O PR, então,
começou a negociar o apoio à candidatura de Aécio. No dia 24 de junho,
Carlinhos declarou que Borges não representava o partido, do qual é
secretário-geral. Dilma capitulou e, no dia seguinte, demitiu “o melhor
ministro”, com o compromisso de nomear no segundo mandato o apadrinhado
de Valdemar.
O novo ministro, que entrou na política pelo malufismo e se diz
“temperamental” (“Não é fácil trabalhar comigo”), já defendeu o
nepotismo (“Contrataria meus três filhos se eles não estivessem bem
empregados”). Carlinhos costuma citar as lições que aprendeu com o avô:
“Ele sempre dizia: A oportunidade é careca, a gente tem de agarrar com
as duas mãos [senão escorrega]””. Dilma que se cuide.
(artigo enviado por Celso Serra)
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