Carlos Chagas
Acompanhado de cinco policiais federais, Henrique Pizzolato desembarca no aeroporto do Galeão, sexta-feira, ainda em duvida sobre se o crime compensa ou não, a curto prazo, mas confiante em que depois de algumas agruras, tudo voltará a ser como antes. Deverá seguir imediatamente para Brasília e ser instalado no presídio da Papuda para cumprir pena de prisão, mas disposto a apelar para a delação premiada e valer-se da legislação para logo conquistar o modo de vida anterior.
Ex-diretor do Banco do Brasil, o personagem terá direito a cela especial, um regime carcerário dito sem benefícios mas cheio de alternativas. Ficou provado que fugir para o estrangeiro não dá resultado, claro que se o país escolhido para livrar-se da condenação for a Itália. Mas será aqui mesmo que o ladravaz buscará e encontrará sua redenção. A solução inicial para os ladrões de alta estirpe é a de confessar seus crimes e arrastar com eles outros implicados nas altas lambanças, como fizeram Alberto Youssef e outros. São condenados, mas pouco depois vem as facilidades, com a singular contradição de cumprirem as penas em casa, cercados pela família e vivendo em conforto indiscutível, financiado por parte do que roubaram.
A lição a tirar desse episódio rocambolesco ainda inconcluso de Pizzolato e apesar da diligência de juízes, do Ministério Publico e da Polícia, Federal é que no Brasil permanece a dicotomia entre as elites e as massas, mesmo ou por conta da vigência da lei. Porque o condenado sem posses, a começar pelo ladrão de galinhas, come o pão que o diabo amassou num dos piores sistemas prisionais do mundo, enquanto os delatores premiados fartam-se de caviar e das mais modernas compensações que o dinheiro pode comprar. E sempre procurando mais brechas na lei, que bons advogados conseguem encontrar, para em pouco tempo reintegrarem-se por completo na sociedade criada por eles.
LEGISLAÇÃO LENIENTE
A conclusão surge com rapidez: o erro imediato está na legislação leniente que permite tal absurdo. Em nome dos direitos humanos, foi sendo erigido um sistema capaz de acentuar cada vez mais separação entre os que podem tudo, ou quase tudo, e os que não podem nada. Aí está o exemplo do Lula, que chegou a São Paulo de “pau-de-arara” e acostumou os filhos à realidade de não haver recursos para realizar simples desejos de crianças, mas hoje tem jatinhos à sua disposição, sítios luxuosos para os fim de semana, triplex à beira da praia, escritórios e fundações milionárias.
O companheiro mudou de lado, assim como muitos ladrões de colarinho branco nem precisaram mudar. Enquanto persistir esse divisor de águas entre as elites e as massas ficará evidente a injustiça do regime que nos assola, tornando inócuas as tentativas de recuperação econômica, por obra e graça de Joaquim Levy destinadas a manter os privilégios de uns poucos e penalizar a maioria. Do que necessitamos é de igualdade para todos, dentro da lei. Ou melhor, de novas leis.
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