Carlos Newton
A chamada Operação Lava Jato já utilizou vários homens-bombas no esforço de desvendar o esquema de corrupção montado pelo PT na Petrobras para se eternizar no poder. Os principais depoentes são o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor Paulo Roberto Costa. Mas nenhum deles tem o poder de detonação do ainda tesoureiro do PT, o sindicalista João Vaccari Neto, que já é réu no importante processo do Bancoop (cooperativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo) e agora aparece cada vez mais envolvido nos inquéritos da corrupção na Petrobras.
A ligação de Vaccari com o ex-presidente Lula sempre foi muito próxima. Ficaram amigos na década de 80, quando Lula criou o PT e se elegeu deputado federal. Foi Vaccari que nos anos 90 apresentou Lula à jovem Rosemary Noronha, que na época era secretária do Sindicato dos Bancários. Também foi Vaccari que conseguiu que o Bancoop vendesse a Lula um triplex em Guarujá, à beira-mar, por singelos R$ 47 mil, e não é preciso dizer mais nada.
Desde que seu nome começou a aparecer nas investigações da Lava Jato, Vaccari tem repetido que é inocente, que jamais houve propina para o PT e que não há nenhuma prova contra ele. Mas a situação foi mudando no decorrer dos trabalhos da chamada força-tarefa, formada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. O envolvimento do PT no esquema passou a ser cada vez mais flagrante, começaram a surgir os nomes de ex-ministros, como José Dirceu e Antonio Palocci, e agora aparecem provas de que Vaccari realmente atuava como operador do PT na corrupção da Petrobras.
PROVAS MATERIAIS
Na Justiça, sabe-se que as chamadas provas materiais são importantíssimas, embora possa até haver condenação com base em provas meramente testemunhais e circunstanciais. No caso de Vaccari, do PT e de Dilma faltavam provas materiais, pois o que existia eram apenas depoimentos contra ele e evidências de seu envolvimento.
Agora, porém, surgiram também provas materiais contra Vaccari e o PT, o que significa que a condenação do tesoureiro passa a ser praticamente certa (embora tudo possa acontecer na Justiça brasileira, vejam a que ponto chegamos).
Reportagem de Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, no Estadão, mostra que a força-tarefa dispõe de documentos incriminando Vaccari, pois tem as notas, a proposta de contrato e as cópias de e-mails trocados entre a Toshiba Infraestrutura América do Sul e os laranjas do doleiro Alberto Youssef, que teriam respaldado o pagamento da propina de pelo menos R$ 1,5 milhão ao PT e ao PP, em 2012.
Esta semana, em novo depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz todos autos da Lava Jato, o doleiro confessou pela primeira vez que procedeu a entrega de cerca de R$ 800 mil do PT. Segundo o relato de Youssef, a primeira parcela de R$ 400 mil foi paga no estacionamento de seu escritório em São Paulo, entregue a uma cunhada de Vaccari, chamada Marice Correa Lima. E a outra parcela de R$ 400 mil foi quitada em dinheiro vivo na porta da sede do partido, em São Paulo, tendo como destinatário da propina o atual tesoureiro João Vaccari Neto.
DIA 9, NA CPI…
Estas são as primeiras provas materiais contra Vaccari e o PT. Quando se fala em PT, por óbvio isto significa o envolvimento indireto ou até direto de Dirceu, Palocci, Genoino, Lula e até Dilma Rousseff, caso fique provado que sua campanha eleitoral recebeu propinas do esquema da Petrobras, conforme já consta de vários depoimentos colhidos pela força-tarefa.
Vaccari está deprimido e assustado. Em sua ignorância jurídica, ele foi convencido pelos advogados de que podia se julgar inocente, porque tudo que fez foi em nome do partido, no desempenho da função de tesoureiro, que Vaccari acreditava incluir a atuação como arrecadador de recursos.
Sua convicção na inocência era reforçada pelo fato de jamais ter se beneficiado pessoalmente. Nunca cobrou comissão para operar o esquema de propinas, vivia com seu rendimento de R$ 23 mil mensais como conselheiro de Itaipu, acrescido do salário que o partido lhe paga, e jamais exigiu nada.
Com o escândalo, já foi obrigado a deixar o conselho de Itaipu. Agora, os dirigentes petistas tentam tirá-lo da Tesouraria, com apoio do velho amigo Lula. No desespero, Vaccari se nega a pedir demissão e já avisou que vai comparecer à CPI da Petrobras, na próxima quinta-feira, dia 9, em pleno exercício da função de dirigente do PT.
NADA LHE FALTARÁ…
Lula mandou tranquilizar Vaccari, prometeu que nada faltará a ele e a sua família, e até citou o caso de Rosemary Noronha, cujo sustento está mais do que garantido, ninguém pode duvidar, e o processo judicial tramita devagar, quase parando. Mas no caso de Vaccari a tensão aumenta a cada dia e não se sabe por quanto tempo ele vai resistir à tentação de aceitar a delação premiada.
E tem um detalhe: mesmo que ele se cale para sempre, o surgimento de provas materiais pode ser suficiente para incriminar o partido e quem estiver dependurado nele. Se é que vocês me entendem, como dizia o genial jornalista Maneco Muller, meu amigo, irmão e camarada.
Quanto a Dilma Rousseff, a assinatura dela no contrato de montagem do Estaleiro Rio Grande, em 2006, quando era chefe da Casa Civil, é a primeira prova material de seu envolvimento em falcatruas. A chapa está esquentando, como se diz hoje em dia.
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