Carlos Chagas
Quem dá a última palavra
para aumentar os juros (e a primeira, também) é o presidente do Banco
Central. E quem escolhe o presidente do Banco Central é o presidente da
República. Não há como fugir dessa evidência linear.
Sendo assim, quando se
elevam continuadamente os juros, a responsabilidade maior é da
presidente Dilma, mesmo se tiver sido convencida por Alexandre Tombini.
Começou esta semana nova e
intensa campanha de crítica aos 13.75% em que se encontra a taxa de
juros, mas com uma peculiaridade: quem dessa vez lidera o protesto é o
PT, na voz de seu presidente, Rui Falcão, da bancada do partido no
Congresso e até de alguns ministros do governo de Madame. Junte-se aos
companheiros os partidos da base palaciana, do PC do B ao PMDB .
Traduzindo: até a torcida
do Flamengo insurge-se contra a mais alta taxa de juros do planeta, que
privilegia especuladores e bicões, porque pode faltar dinheiro para a
educação e a saúde, mas jamais faltará para remunerar vigaristas
nacionais e estrangeiros empenhados em lucrar a qualquer custo. A
situação aproxima-se daquilo que décadas atrás Delfim Neto denunciou
como um dos grandes escândalos da economia brasileira, o capital-motel,
aquele que chegava de tarde, passava a noite e ia embora de manhã,
depois de haver estuprado um pouco mais nosso desenvolvimento.
Ou Dilma decide interromper
e reduzir a farra dos juros, condição essencial para a retomada do
crescimento econômico, ou fica literalmente sem o apoio de sua última
base de sustentação, o PT. Porque nenhum, entre os companheiros, está
evitando a condenação explícita à política de juros praticada pelo Banco
Central. Já se disse que a presidente se encontrava segurando o pincel,
sem escada, nessa atualidade bicuda que nos assola. Pois agora está
perdendo o próprio pincel.
É claro que se for para
atender os reclamos dos poucos que ainda a apoiam, Dilma precisaria
ousar, isto é, dispensar não apenas Alexandre Tombini, mas toda a equipe
econômica, com Joaquim Levy à frente. Ele também participa da febre dos
juros, banqueiro fiel que era antes de ser nomeado. Ou continua sendo?
Para fechar o tema, é bom
lembrar que o próprio Lula insurge-se contra os percentuais de juros
vigentes. Há uma semana sustentou, em reunião com deputados e senadores
petistas, a ampliação do crédito.
A PAUSA QUE AUMENTARÁ A FERVURA
Em vez de refrescar,
aumentará a temperatura a pausa nos trabalhos do Congresso, da próxima
semana ao final do mês. Deputados e senadores passarão o recesso em suas
bases e colherão mais demoradamente o sentimento de seus eleitores
diante da crise econômica que virou política, envolvendo o governo
Dilma. Sem aferir a tendência popular, nem os tribunais nem o
Legislativo ousarão dar passos definitivos no rumo do impeachment e
sucedâneos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário