sexta-feira, 31 de julho de 2015

Para deter corrupção, governo começa a privatizar a Petrobrás

Pedro do Coutto
Reportagem excepcional de Daniele Nogueira e Bruno Rosa, edição de segunda-feira de O Globo, revela claramente o início de um processo pelo menos parcial de privatização da Petrobrás, com a colocação à venda de ativos e participações em busca de receita adicional para fazer face ao endividamento gigantesco da ordem de 332,5 bilhões de reais aos preços de março.
Resultado sem dúvida decorrente em larga escala de fracassos administrativos em série e da corrupção que encontrou campo livre de atuação na empresa. Não foi o único motivo capaz de explicar o desastre, mas é politicamente inegável que influiu sensivelmente para que as dúvidas se acumulassem. Os ladrões (corruptos, intermediários, corruptores) agiam à solta nos andares do edifício da Avenida Chile, no Rio de janeiro. Resultado dos saques eram remetidos a bancos no exterior.
Mas eu disse não ter sido esse o único motivo. Claro. Tem que se considerar a queda dos preços do petróleo no mercado internacional, descendo em prazo curto de 100 para 50 dólares o barril. Daniele Nogueira e Bruno Rosa traduzem bem o processo que abalou os preços internacionais das commodities, matérias-primas cotadas em bolsa, cujo preço é flutuante no mercado internacional. Até que enfim publica-se uma explicação clara e direta sobre o que são commodities. Mas esta é outra questão.
ENDIVIDAMENTO         
A reportagem afirma que enfrentar o endividamento, também atingindo a Vale e a CSN, é que vem impondo o ritmo das negociações na esfera da Petrobrás. Planeja vender logo 15 bilhões (de dólares) em ativos e estuda desfazer-se de 49% da BR Distribuidora, além de posições na Argentina e 10% do Pré-Sal, área de Libra. Gaspetro e gasodutos devem entrar na lista de vendas. Mas e a corrupção? Em meio à crise causada pelos roubos, esquema revelado pela Operação Lava-Jato, a Petrobrás passou a procurar parceiros para projetos importantes, a exemplo do Comperj, em Itaboraí, grande complexo petroquímico que se encontra com as obras paradas. Precisam ser retomadas, a iniciativa é importantíssima para a economia brasileira.
Como se observa do volume projetado de privatizações (15 bilhões de dólares) com o montante da dívida (106 bilhões de dólares ou 332 bilhões de reais) a proporção é de 15%. Por aí tem-se a impressão que as privatizações devem avançar muito mais do que o limite hoje publicado no Globo. Há razões para isso, acentuo eu. Em primeiro lugar, porque a dívida de 106 bilhões de dólares não pode desaparecer como uma nuvem que passa. Em segundo lugar, porque a privatização – é claro – reduz em mais de 80% o peso da corrupção.
TIPOS DE CORRUPÇÃO
Uma coisa é a corrupção contra o estado, quando lucram os vendedores e compradores, ao lado dos intermediários. Outra coisa, muito diferente é a corrupção realizada entre empresas. Como não pode existir crédito sem débito, e vice-versa, a diferença tem que sair do bolso de alguém. Na área estatal, a diferença, como costuma classificar Elio Gaspari, em seus artigos no Globo e Folha de São Paulo, o produto do roubo vem do cofre da viúva, no caso a nação. A questão, assim, adquire um caráter de extrema simplicidade.
Uma empresa pode tentar roubar outra. O que é impossível, no sistema privado, é que assaltam o erário público em escala além da sonegação de impostos. No esquema estatal, além da sonegação, podem unir-se e roubar o país. Como fizeram nos governos Lula e Dilma Rousseff, além do início do processo no segundo mandato de FHC, na versão de Pedro Barusco. Portanto, sem dúvida, a corrupção envenenou a administração estatal, levando a Petrobrás ao endividamento. Do qual somente sairá se privatizada. Pelo menos de forma parcial, como os fatos de hoje indicam.
 
 

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