- O ESTADO
Parlamentar é autor de emenda que incluiu crime de responsabilidade ao Judiciário nas medidas anticorrupção
A emenda do deputado Weverton Rocha (PDT), que incluiu crime de responsabilidade a magistrado e membros do Ministério Público no pacote anticorrupção - votado às pressas na quarta-feira (30), na Câmara Federal - tem motivando muitas reclamações. Um manifestante chegou a confrontar o deputado no aeroporto de Brasília e, após discussões, passou um tomate na camisa de Weverton Rocha.
O manifestante, que se identifica como Ricardo Roque, afirmou que os promotores e juízes que atuam na Operação Lava Jato podem renunciar por causa da emenda de autoria do deputado pedetista. “A Lava Jato vai renunciar por sua culpa”, disparou. Weverton Rocha defendeu a emenda dizendo que quem é o verdadeiro responsável pela investigação da Lava Jato é a Polícia Federal. “Quem é responsável é ela (PF), e ela deixa garantido à população que não há hipótese de ser ameaçado qualquer um, até porque isso é institucional”, justificou.
Weverton Rocha teve o apoio da maior parte da bancada maranhense para conseguir aprovar a emenda que prevê punição mais rigorosa em casos de crimes de responsabilidade envolvendo magistrados e membros do Ministério Público, o que para os opositores foi uma forma de retaliação pelas investigações envolvendo membros do Congresso Nacional. No caso do pedetista, ele é réu em ações civis de improbridade administrativa, movidas pelo Ministério Público e responde a três ações civis públicas.
Após a votação do pacote anticorrupção na Câmara Federal, que passou por diversas alterações, procuradores que atuam na Lava Jato se manifestaram e ameaçaram deixar as investigações. Por meio de nota, assinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o Ministério Público Federal se manifestou contra a descaracterização das medidas, afirmando que não apoia o texto que restou.
Nota da Procuradoria-Geral da República sobre a votação das 10 Medidas contra a Corrupção
Foram mais de dois milhões de assinaturas. Um apoio maciço da sociedade brasileira, que também por outros meios se manifestou. Houve o apoio de organismos internacionais. Foram centenas de horas de discussão, de esclarecimento e de um debate sadio em prol da democracia brasileira. Foram apresentadas propostas visando a um Brasil melhor para as futuras gerações.
No entanto, isso não foi o suficiente para que os deputados se sensibilizassem da importância das 10 Medidas de Combate à Corrupção. O resultado da votação do PL 4850/2016, ontem, colocou o país em marcha a ré no combate à corrupção. O Plenário da Câmara dos Deputados desperdiçou uma chance histórica de promover um salto qualitativo no processo civilizatório da sociedade brasileira.
A Casa optou por excluir diversos pontos chancelados pela Comissão Especial que analisou as propostas com afinco. Além de retirar a possibilidade de aprimorar o combate à corrupção – como a tipificação do crime de enriquecimento ilícito, mudanças na prescrição de crimes e facilitação do confisco de bens oriundos de corrupção –, houve a inclusão de proposta que coloca em risco o funcionamento do Ministério Público e do Poder Judiciário, a saber, a emenda que sujeita promotores e juízes à punição por crime de responsabilidade.
Ministério Público e Judiciário nem de longe podem ser responsabilizados pela grave crise ética por que passa o país. Encareço aos membros do Ministério Público Brasileiro que se mantenham concentrados no trabalho de combate à corrupção e ao crime. Que isso não nos desanime; antes, que nos sirva de incentivo ao trabalho correto, profissional e desprovido de ideologias, como tem sido feito desde a Constituição de 1988. Esse ponto de inflexão e tensão institucional será ultrapassado pelo esforço de todos e pelo reconhecimento da sociedade em relação aos resultados alcançados.
Um sumário honesto da votação das 10 Medidas, na Câmara dos Deputados, deverá registrar que o que havia de melhor no projeto foi excluído e medidas claramente retaliatórias foram incluídas. Cabe esclarecer que a emenda aprovada, na verdade, objetiva intimidar e enfraquecer Ministério Público e Judiciário.
As 10 Medidas contra a Corrupção não existem mais. O Ministério Público Brasileiro não apoia o texto que restou, uma pálida sombra das propostas que nos aproximariam de boas práticas mundiais. O Ministério Público seguirá sua trajetória de serviço ao povo brasileiro, na perspectiva de luta contra o desvio de dinheiro público e o roubo das esperanças de um país melhor para todos nós.
Nesse debate, longe de qualquer compromisso de luta contra a corrupção, vimos uma rejeição violenta e irracional ao Ministério Público e ao Judiciário. A proposta aprovada na Câmara ainda vai para o Senado. A sociedade deve ficar atenta para que o retrocesso não seja concretizado; para que a marcha seja invertida novamente e possamos andar pra frente.
O conforto está na Constituição, que ainda nos guia e nos aponta o lugar do Brasil. Que seja melhor do que o que vimos hoje.
Rodrigo Janot
Procurador-Geral da República
Presidente do Conselho Nacional do Ministério Público
Rodrigo Janot
Procurador-Geral da República
Presidente do Conselho Nacional do Ministério Público
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