quarta-feira, 29 de março de 2017

Tecnologia e burrice: algo em comum?


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Charge do João M., reproduzida do Google
Eduardo AquinoO Tempo
Sou um tecnofóbico assumido. Quem me acompanha sabe. Mas nunca fui radical: ninguém haverá de se livrar do seu smartphone, computador ou laptop nestas alturas do campeonato. Para servir de álibi, tenho um filho recém-contratado pela IBM, o que aguçou ainda mais a minha curiosidade, companheira inseparável. Esse monstro multinacional, por sinal, acaba de anunciar o protótipo do primeiro computador quântico. Isso, de forma simplificada, significa que o famoso sistema binário (sequências de 0 e 1), que já transformou a tecnologia nesse imenso universo virtual, em que a internet e os aplicativos são infinitos e impensáveis ferramentas que movem o mundo, imagine quando houver uma terceira opção: zeros e uns e o elemento quântico “nem zero, nem um”.
FICÇÃO E REALIDADE – Será um salto inimaginável, ficção e realidade não sendo mais distinguíveis. Essa mesma IBM está lançando seu programa “Watson”, que trabalhará em uma tecnologia cognitiva, com indizíveis avanços na medicina, nos programas complexos da Nasa ou na realidade do trabalho e lar.
A grande batalha travada agora é entre os que projetam que a Inteligência Artificial (IA) em tudo superará a inteligência biológica (cérebro-mente). Sou do segundo time, cada vez menor, sujeito a bullying, em constante ameaça de extinção. No primeiro time, os nerds do Vale do Silício na Califórnia, duas gerações de jovens (Y e Z ) e os grandes gênios da matemática, da física. Do nosso lado, uns poucos filósofos, sociólogos, teólogos e românticos que creem em uma reviravolta, em que a humanidade está no auge do deslumbramento tecnológico, prestes a uma regressão assustadora.
EXPLOSÃO SOLAR – Para isso basta uma explosão solar mais forte, que destrua a eletricidade e os cabos de fibras óticas, imergindo em uma fase de trevas parecida com o século XIII, ou geniais hackers que produzam um “bug” suicida, para voltarmos a nos humanizar. Caso contrário, já em 2030, a internet das coisas substituirá 80% dos empregos do mundo, teremos ciborgues, seres altamente selecionados pela engenharia genética, possivelmente sem afetos, emoções e sentimentos, pois isso é algo que nos faz ser animalescos, usando tecnologia destrutiva por sentimentos arcaicos, como raiva, ódio, tristeza, ansiedade e outros tantos, que promovem guerras, diferenças raciais, econômicas, religiosas e sociais.
Atualmente, com uma arma chamada internet, qualquer um pode gerar conflitos e guerras, além da tribalização, que gera ódios de toda espécie e espalha terrorismo e violência.
TERCEIRIZAÇÃO- O grande problema é que, enquanto isso, trabalhos científicos vão nos mostrando: nos últimos 50 anos, perdemos 6% a 8% de habilidades de linguagem, língua pátria; e 12% de capacidade de raciocínio matemático. Houve despovoamento de neurônios no hipocampo – região importantíssima da memória de fixação –, bem como ativação menor do lobo pré-frontal, organizador de raciocínios e planejamento.
Claro: terceirizamos a memória, tudo nos arquivos de celulares e computadores. Fazer conta “de cabeça”? Está brincando… Escrever e descrever emoções? Manda um emoji. Pesquisar, raciocinar, reunir pensamentos em associação para formar conhecimentos? Veja no Google ou na Wikipédia.
OS TAXISTAS – No entanto, há uma pesquisa interessante: os taxistas de Londres sempre precisavam memorizar e ter na cabeça os 35 mil endereços londrinos, e isso os fez ter cérebros maiores que o de seus semelhantes. Com o advento do GPS, houve perda de neurônios absurda em três gerações. A orientação no tempo e no espaço é base para uma série de funções. Estamos regredindo, preguiçosos mental e fisicamente. Mas vai falar isso para os tecnofílicos…
Por isso, eu prefiro o exemplo da natureza. Os animais que o homem domesticou (cavalos, bois, carneiros, cachorros, gatos e outros) têm perda de um terço de sua massa cerebral em comparação com seus parentes selvagens (búfalos, zebras, lobos e leopardos). Solte os animais para se virarem em florestas e savanas, que não vai sobrar boi, cavalo, gato, cachorro para contar qualquer história.
ENSINAMENTOS – Se faltar eletricidade por uma tragédia qualquer, quantos jovens e adolescentes sobreviveriam ao ter que buscar água, se defender de predadores, caçar, coletar sementes e frutos? Ainda bem que os pais e os avós ainda podem ensinar algo. Inteligência, meus caros, é definida de forma simples: capacidade de se adaptar e sobreviver. Depender de máquinas é que não vou. Adoro meu cérebro e mente curiosas e observadoras. Serei extinto ou me tornarei sábio? O tempo dirá!
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P.S. – 
Dedico esta coluna a uma leitora assídua, Sabrina Fioravante, e alerto: dois terços da população mundial sofrem de pobreza, fome e exclusão tecnológica, seja na periferia da Ásia, da África ou da América Latina. Dos oito mais ricos, a maioria é de donos de eletrônicos, que tem mais dinheiro que metade da população mundial. Visite sua avó mesmo que não tenha roteador ou Wi-Fi (pedido de uma avó, saudosa de seus netos na fazenda).

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