sábado, 15 de abril de 2017

A França perplexa


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Melenchon, Marine, Fillon e Macron na disputa 
Sebastião Nery
PARIS – Há 60 anos o jornalismo (ou foi Deus?) me deu a França. Em 1957, jornalista pelas mãos do patrono da imprensa mineira José Mendonça, no inesquecível “O Diário”, e estudante das Faculdades de Filosofia e Direito de Minas Gerais, a caminho de Moscou, via nos jornais franceses a figura heráldica e gloriosa do general De Gaulle convocando a França para unir a Europa. Uniu até 1968 quando em maio enfrentou a juventude rebelde nas ruas de Paris e passou a presidência para George Pompidou.
De 1969 a 1974 governou a direita organizada de George Pompidou. De 1974 a 1981 o poeta e romancista Valéry Giscard d’Estaing, os anos gloriosos da direita, até chegar François Mitterand, o grande herói da esquerda, em dois dourados mandatos de 1981 a 1995.
ESQUERDA E DIREITA – Numa armação de centro-esquerda bem francesa, para evitar a vitória de Jean-Marie Le Pen (pai desta atual Marine Le Pen), que sacrificou Lionel Jospin, o candidato do partido socialista, veio Jacques Chirac de 1995 a 2007 seguido por Nicolas Sarkozy, enfant gaté da direita, de 2007 a 2012.
Até que a esquerda volta de 2012 a 2017 com François Hollande, que venceu as prévias internas do partido socialista primeiro contra sua bela e charmosa ex-mulher deputada Segolene Royal e depois contra a também deputada, prefeita de Lilly, Marine Aubry.
Agora, de repente a França se vê engasgada numa disputa muito menos eleitoral do que social e política: uma candidata da direita, Marine Le Pen, vencendo todas as pesquisas, seguida de um jovem e brilhante economista e banqueiro, de centro, Emmanuel Macron, e seguida pelo candidato da esquerda Jean Luc Melenchon, que disputa o terceiro lugar com o candidato da direita François Fillon.
VOTOS DIVIDIDOS – O que há de mais original nesta eleição é que a candidata da Direita Le Pen, disputa com o candidato do Centro Emmanuel Macron o primeiro lugar. Aparecem nas pesquisas com os mesmos 24%, enquanto os candidatos da Direita François Fillon e o candidato da Esquerda Jean Luc Melenchon se rasgam pelo terceiro lugar.
Os menores nasceram para ficar atrás. Benoit Hamon, o mais jovem candidato, do partido Socialista e do presidente François Hollande, que até agora não conseguiu passar dos 10%, entrou em um processo de desgaste, abandonado por seus companheiros que debandam dia e noite para o vitorioso Emmanuel Macron, que cresce a cada dia empurrado pelos debates na televisão.
TEMPO DE SAUDADES – Chego ao fim deste texto com saudade dos tempos em que jornalismo na França era também poesia de Louis Aragon, poeta de nosso tempo e do Partido Comunista, que iluminava as livrarias e bancas de jornal:
LES YEUX D’ELSA
Tes yeux sont si profonds qu’en me penchant pour boireJ’ai vu tous les soleils y venir se mirerS’y jeter à mourir tous les désespérésTes yeux sont si profonds que j’y perds la mémoire.
***
OS OLHOS DE ELZA
Teus olhos são tão profundos que me levam a beber
Eu vi todos os sóis nele se mirarem
Se atirando para morrer todos os desesperados
Teus olhos são tão profundos que neles perdi minha lembrança.

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