segunda-feira, 5 de junho de 2017

Um livro para quem chama Fernando Gabeira de coxinha


 

Estou relendo O Que É Isso, Companheiro?. Edição da Estação Brasil.
No atual transe brasileiro, há coisas que me levam ao tempo em que o livro de Fernando Gabeira foi publicado.
Li pela primeira vez em 1979. Gabeira, que acabara de voltar do exílio, chocou a esquerda e a direita com seu discurso e sua tanga minúscula.
Desde a primeira leitura, quase quatro décadas se vão.
A impressão inicial, agora, é de que, se pensarmos na qualidade do texto e na sua estrutura narrativa, o livro resistiu muito bem à passagem do tempo. O Que É Isso, Companheiro? pode até ter sido escrito no calor da anistia e da volta dos exilados, mas não apenas para ser lido naquele momento. Ele se mantém como um dos livros essenciais para quem quer se debruçar sobre a história da ditadura militar brasileira.
Há qualidade literária no que Gabeira escreveu nesse primeiro volume da trilogia completada depois com O Crepúsculo do Macho e Entradas e Bandeiras. O jornalista de texto primoroso experimenta fazer literatura num livro que conta uma história verdadeira, narrada na primeira pessoa, mas o faz com uma certa “pegada” de obra de ficção. O que talvez explique a permanência do seu relato.
A esquerda que hoje chama Gabeira de coxinha não é diferente da que reprovou a sua tanga naquele verão de 1980. É uma esquerda reacionária, a despeito de ser jovem. Separadas por quase 40 anos, uma e outra, no fundo, não assimilaram as transformações que o autor enxergou ainda no exílio e trouxe na bagagem, na sua volta ao Brasil.
Uma e outra parecem incapazes da crítica e da autocrítica que há no que Fernando Gabeira escreveu. As suas reflexões, por trás da muitíssimo bem narrada história com começo, meio e fim, permanecem úteis e atuais.
Para mencionar somente um exemplo de dois dias atrás, que autocrítica pode haver numa esquerda cujo mais importante partido escolhe como presidente uma senadora ré, e é sob seu comando que marchará para a disputa de 2018?
Reler O Que É Isso, Companheiro? me faz pensar sobretudo nos jovens que chamam Gabeira de coxinha. Quantos já leram o livro?
Estão perdendo uma bela aula de história do Brasil!( Silvio Osias )

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