domingo, 1 de outubro de 2017

Mulheres marcaram encontro por aplicativo e foram vítimas de estupro

Mulheres marcaram encontro por aplicativo e foram vítimas de estupro (Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)
Camila (nome fictício), 19 anos, passou por situação traumática no ano passado. A estudante foi estuprada quando topou assistir a um filme na casa do novo paquera que conheceu pelo aplicativo Happn. "Ele começou a alisar meu corpo e ia descendo a mão. E eu tirava. Mas ele continuou, até colocar a mão lá. Não consegui tirar a mão dele, não deu. Pedia para parar, mas ele continuou", disse a estudante. "Ele inseriu os dedos lá dentro e eu não conseguia fazer com que ele parasse."
Em Manaus, a pedagoga Mariana (nome fictício), 26, também diz que foi estuprada depois de ter saído com um rapaz (militar) que conheceu pelo aplicativo Tinder. Assim como Cristina, Mariana não foi prestar queixa na delegacia. "O rapaz que me estuprou sabia que não tinha como denunciá-lo. Ninguém ia acreditar em mim. Eu não tinha provas. Só as marcas no meu corpo", afirmou à Folha.
Mariana contou que o homem a levou para jantar em um apartamento que dividia com mais um casal de amigos. Depois de comerem, Mariana disse ter transado com o rapaz no quarto dele. "Foi então que eu pedi um remédio para dor muscular. Ele voltou da cozinha com um copo de água e uma pílula. Tomei e em menos de 10 minutos apaguei. Só lembro de acordar com dores no ânus e marcas de mordidas nas costas e na bunda", disse.
A pedagoga contou que, zonza, começou a chorar e a se vestir. "'Deixa eu vestir você, bebê. Você pode se machucar', ele dizia para mim." Com ânsia de vômito, ela afirmou que começou a chorar mais alto e comunicou o rapaz que pediria um táxi. Ele não deixou e pegou uma arma na gaveta, com a qual fez sinal de silêncio, já que a pedagoga estava fazendo muito barulho e poderia acordar os amigos no outro quarto do imóvel.
"Ele colocou a arma na bermuda e me levou para casa. No elevador, ficou segurando minha cabeça contra o peito dele e me beijando na testa enquanto eu chorava", afirmou Mariana. "Chorei não por tristeza, ou medo. Foi de ódio. Ele me estuprou porque realmente queria. Não tem nada a ver com sexo."
NÚMEROS
O Tinder e o Happn são aplicativo de relacionamento que tiveram rápida explosão e grande quantidade de adeptos pelo mundo todo. O Brasil é o terceiro país com maior número de usuários (10 milhões) do Tinder. No Happn, são 5,4 milhões de usuários no país.
Procurado pela reportagem sobre os casos de abuso após contatos no app, o Tinder não se manifestou. O Happn afirma que a segurança do usuário é "prioridade" da empresa. 
Quase duas mil pessoas foram vítimas de estupros em todo o Estado do Pará, no período de 1 de janeiro a 20 de agosto de 2017. Em São Paulo, capital, foram registradas 1.574 ocorrências. Muitos destes casos podem ter sido motivados pelo contato de pessoas desconhecidas em aplicativos de relacionamento, como Tinder e Happn.
No entanto, não há confirmação de quantos casos aconteceram por meio do uso de aplicativos de relacionamento. A subnotificação também é frequente em crimes de estupro, por motivos como medo e vergonha das mulheres.
"Incentivamos que as pessoas sigam precauções de segurança ao conhecer alguém, incluindo se encontrar em lugar público e manter família e amigos informados", diz o Happn, que também afirma estar à disposição das autoridades para investigações.
A advogada criminalista Roselle Soglio, especialista em perícias criminais, explica que as penas em casos de violência sexual variam de acordo com o enquadramento do caso e podem chegar a 12 anos de prisão, segundo o código penal. "Em todos eles a lei determina reclusão. Não há penas alternativas", diz. Uma série de casos, no entanto, mostram o quanto os apps terminam sendo utilizados por estupradores.
(Com informações da Folha de S. Paulo)

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