Vestida de óculos “felino” e camisa com os dizeres “Fica com Deus, porque comigo não vai rolar”, a senhora de 66 anos ganhou fãs pelo Brasil
Todos os anos, durante o Carnaval, a internet vira um desfile de fantasias criativas. Ninguém quer passar despercebido. Mas, no último domingo (28/1), quem chamou atenção foi a piauiense Mercês Parente, radicada em Brasília há 57 anos. Com óculos de gatinha e camisa com os dizeres “Fica com Deus, porque comigo não vai rolar”, ela se destacou em meio à multidão de foliões no Bloco do Amor.
A partir do registro de Danielle Assis, que a viu no local e publicou uma foto da foliona em seu perfil no Twitter, todos começaram a se perguntar quem era aquela vovó alto-astral do Carnaval de Brasília. A imagem da senhora de 66 anos viralizou e, desde então, várias pessoas decidiram tietá-la.
Surpresa com a repercussão, dona Mercês respondeu aos comentários de maneira inspiradora. “Vocês, jovens e crianças, especialmente, nutrem meu espírito com esperança, alegria, vibração e mais vida. Vou morrer dando gargalhadas para reverberar felicidade”, comemorou.
A escolha da fantasia também não foi aleatória. “Essa expressão ‘Fica com Deus’ está tão vulgarizada. Matam em nome Dele. Assassinando no sentido do que se pensa, do negócio, do capitalismo [sempre] em nome da divindade”, afirmou. Para ela, os versos soaram como um enfrentamento a uma pseudocrença. “Foi um grito. Fica aí com as tuas histórias e os teus rigores. Eu prefiro a minha liberdade”, defendeu. Mercês já confirmou presença em outros dois blocos do DF em 2018: Cafuçu do Cerrado e Aparelhinho.
Sobre sua jovialidade servir de inspiração, ela desconversa. “Eu não me vejo dessa maneira, pois não me considero referência nem para mim mesma”, brinca. E completa: “Sem julgamento. Mas as pessoas de mais idade que ficam fechadas só na sua faixa etária, às vezes, perdem a alegria, a crença mesmo. Quando convivemos com indivíduos de todas as idades, aprendemos muito. Os meninos do Bloco do Amor, por exemplo, também me inspiram”, ressaltou Mercês.
Foliona de nascençaNascida em 2 de fevereiro, a aquariana herdou o amor pela Festa do Momo de seu pai, o piauiense Edson Parente.”Eu nasci carnavalesca. Cheguei em Brasília aos 9 anos, mas, antes disso, tenho memória de sair com ele nas ruas de Teresina, em carro aberto, fantasiada”, lembra. Já na capital federal, a paixão pela folia só aumentou. “Eu nunca fiz parte de diretoria nem estou na fundação de nenhum bloco, mas conheço a história de todos eles”, comenta Parente.
Formada em cinema pela Universidade de Brasília (UnB) e atualmente aposentada, Mercês se diz um espírito livre. “Minha família vibra, mas também se preocupa. Alguns sempre pedem para eu ir mais devagar. Mas sou assim. Tenho o privilégio de ser livre desde a minha juventude”, conta. Para encerrar o bate-papo, ela cantarola um trecho de uma de suas marchinhas preferidas, Se Eu Morrer Amanhã, de Elizeth Cardoso: “Se eu morrer amanhã, não levo saudade. Eu fiz o que quis (e ainda faço!), na minha mocidade”.