Joelmir Tavares
Folha
Atacada pela esquerda e pela direita, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) diz que o campo conservador teve resultado aquém do esperado na eleição de 2020 porque os eleitores se cansaram do estilo que chegou ao poder com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Falta um pouco de conteúdo, e precisa de menos rede social, menos pancadaria”, afirma à Folha a parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo, que recebeu mais de 2 milhões de votos em 2018, empurrada pela fama de coautora do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Janaina diz sofrer mais pressão para apoiar o impeachment do governador João Doria (PSDB) do que o de Bolsonaro. Sobre 2022, descarta tentar a reeleição na Assembleia e afirma: “Se a eleição fosse hoje, eu concorreria ao Senado”.
Qual sua leitura sobre os resultados da direita em 2020?
Houve uma decepção com pessoas que se apresentaram como nova política e um retorno para os políticos tradicionais. Essa coisa de muito bater, muita internet, alvoroço, cansou a população. É tudo muito teatral, jogar para a torcida. E fazer as coisas andarem exige trabalho, negociação, diálogo. São pessoas que vivem no mundo virtual e não entendem que há um processo legislativo. A população criou uma expectativa grande em relação a essa direita que chegou ao poder e viu que ela não consegue dar andamento para as pautas. Falta um pouco de conteúdo, e precisa de menos rede social, menos pancadaria.
O excesso de atritos dentro da direita, que a sra. critica, não era previsível pela forma como Bolsonaro articulou apoios e venceu?
Sim, mas acho que poderia ter sido menos, se eles tivessem sido mais habilidosos, ficado mais fiéis às pautas, com menos confusão, menos ações para afastar de maneira traumática pessoas que apoiaram, como o [ex-ministro Gustavo] Bebianno. É necessário ouvir quem pensa diferente. Essa postura intransigente, típica do petista, virou a postura do bolsonarista, de uma maneira muito agressiva. No lugar de aprender com os erros, repetem os erros. E a gente tenta ajudar e sofre resistência.
Considera estelionato eleitoral a guinada de Bolsonaro, da antipolítica para o centrão?
Aquele discurso dele de apolítica é inadequado numa democracia, numa República. O fato de rever aquela postura eu vejo como positivo. A gente só tem que ver aonde isso vai. A aliança inclui indicações para cargos. É, o perigo é ver se vai trocar e ainda colocar gente desqualificada nas funções.
Em maio a sra. defendeu a renúncia do presidente. Continua favorável?
Ele estava muito intransigente em relação à doença [Covid-19], chamando de gripezinha, falando tudo errado. Depois, ele liberou o auxílio emergencial, mostrou uma responsabilidade no sentido de não abandonar a população. Ele foi por uma linha no Ministério da Saúde que é a do tratamento precoce. É polêmica, mas eu defendo. Tive Covid [em abril], fiquei em casa esperando e quase morri.
O discurso minimizando os benefícios da máscara e do distanciamento social não acaba prolongando as consequências da doença?
Digo o seguinte: esse discurso dele não me agrada. Sigo crítica. O que acho é que, apesar disso, ele cumpriu o seu papel institucional.
Vê a atuação dele na pandemia como motivo para impeachment, como sustenta a oposição?
Ainda não me convenço de haver elementos. Todo dia eu recebo e-mails para pedir o impeachment do Bolsonaro e, num número muito maior, para pedir o impeachment do Doria. Acho que eles divergem em vários pontos, concordo com um em alguns, com o outro em outros. Mas ainda não vejo motivo para impeachment nem de um nem de outro.
A Assembleia ficou mais independente em relação ao governo, como se previa no início da legislatura?
Ah, com certeza. Estão tendo muito mais trabalho, têm que debater mérito, dar satisfações. Não estavam acostumados.
Tem a ver com a entrada do PSL, uma oposição que não é da esquerda?
Sem sombra de dúvida. E eu fico ali de guardiã, né? As pessoas cobram muito que você aja por bloco. Sou uma criatura muito só. Não é questão de bancada, é questão de ser justa. Olhar os projetos e debatê-los.
A sra. diz que não se manifestará sobre o caso Isa Penna porque mais adiante pode ser obrigada a votar o tema em plenário. De modo geral, como vê o ocorrido? Tem que ter uma resposta, uma análise. Não pode fingir que nada aconteceu.
Não é só uma questão das partes, mas uma situação da Casa, que fica fragilizada institucionalmente. Estávamos em plenário no meio de uma votação importante [do orçamento]. Como acontece uma situação assim? Naquele dia, deputados consumiram álcool na Assembleia, como diz Isa? Foi em um gabinete. Não vi diretamente, mas ouvi vários relatos. As pessoas viram, inclusive das janelas dos gabinetes. Senti um colega alterado [Janaina não quis citar nomes, mas diz que que não era Cury]. Na hora, pensei que era um caso isolado. Depois começaram relatos de que foi uma coisa orquestrada, deliberada, como se quisessem mesmo embriagar os colegas. E se houve um objetivo? É um caso muito importante. Sei que as colegas estão indo mais por essa questão sexual, mas, para mim, o problema é maior. Tem uma discussão prévia: por que ele estava naquele estado, por que aquilo aconteceu?
Qual o seu projeto para 2022?
Não tenho nada definido, até porque não sei se vou ter legenda. A vida partidária é um inferno. É muito jogo de vaidade e poder, indefinição. Eu odeio isso, sabe? Acho que a estrutura partidária teria que ser revista. Mais do que nunca, defendo as candidaturas avulsas. Se a eleição fosse hoje, eu concorreria ao Senado. Não concorro mais a deputada estadual. Isso é uma decisão. Consegui a duras penas a lei que dá direito às mulheres de escolha da via de parto. Aí o Tribunal de Justiça derrubou. O [deputado estadual] Campos Machado [Avante], por inveja, porque não admite que tive mais votos nem abaixo a cabeça para ele, entrou com uma ação. Não vou mais passar por isso.
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