Pedro do Coutto
A demissão do general Azevedo, que recebeu a solidariedade dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, e o registro do general Edson Pujol, comandante do Exército, abalaram profundamente o governo na medida em que sobe o clima de insatisfação nas Forças Armadas e destaca-se um enigma no desfecho político.
Certamente, o vice Hamilton Mourão forma na linha de Fernando Azevedo Silva. Afastado do Ministério da Defesa, porém, não poderá se pronunciar publicamente, principalmente porque, na minha opinião, ele pode se tornar uma alternativa para o desfecho da onda que se criou no país em relação ao presidente da República.
DEFINIÇÃO DOS COMANDANTES – Merval Pereira e Miriam Leitão, em artigos da edição de hoje, o Globo, destacaram com precisão as horas que antecederam a definição dos comandantes das Forças Armadas em solidariedade ao general Azevedo e Silva.
Ontem e hoje escrevi neste blog que o clima em Brasília lembrava as atmosferas que precederam a renúncia de Jânio Quadros, a queda de Joao Goulart e a substituição do general Silvio Frota, então ministro do Exército pelo presidente Ernesto Geisel.
Hoje, terça-feira, eu me lembro também da tensão que marcou o movimento político-militar de 11 de novembro de 1955, que teve como objetivo garantir a posse de Juscelino Kubitschek na Presidência da República que fora eleito nas urnas de 3 de outubro.
MOBILIZAÇÃO – Na madrugada de 11 de novembro, o general Odílio Denys, comandante do 1º Exército, comunicou ao ministro Teixeira Lopes que o Exército não aceitava a forma com que o presidente em exercício Carlos Luz demitiu o próprio lote. A partir do amanhecer do 11 de novembro, a Câmara Federal, então no Palácio Tiradentes, estava mobilizada para votar o impeachment de Carlos Luz e empossar o senador Nereu Ramos na Presidência da República.
No momento, a dificuldade de Jair Bolsonaro é flagrante. A pressão nos meios militares vai refletir no posicionamento do Centrão porque manter o apoio ao governo, nesta encruzilhada, pode se reverter num ato contrário ao próprio Congresso do qual o Centrão faz parte.
A excelente reportagem de Eliane Cantanhêde, manchete principal em oito colunas na edição do Estado de São Paulo de hoje, destaca declarações do general Fernando Azevedo e Silva ao deixar o cargo de ministro da Defesa na nota que divulgou aos jornais: “preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”.
CRISE – Ficou claro que Azevedo destacou tacitamente que Jair Bolsonaro desejava usar os segmentos militares como instituições, não do Estado, mas do governo. Eliane Cantanhêde, inclusive, na Globo News, na noite de ontem, havia feito brilhante comentário chamando atenção para a crise e dando como certa a saída dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Aliás, no O Globo de hoje, Miriam Leitão assegurava igualmente que os três comandantes entregariam os cargos em solidariedade à posição de Azevedo e Silva.
Quanto à insatisfação existente na caserna, Jussara Soares, Natalia Portinari e Julia Lindner publicaram também importante reportagem. Igor Gielow, na Folha de São Paulo classificou um impulso de Bolsonaro como uma jogada desesperada arriscando a crise militar.
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