quarta-feira, 31 de março de 2021

É mais fácil Bolsonaro ser derrubado do que conseguir os poderes ditatoriais almejados

 

 

"Não queremos negociar nada", disse o presidente Jair Bolsonaro em ato neste domingo (19) - EVARISTO SA/AFP e Getty Images

Bolsonaro pensa que os militares vão seguir as suas ordens

Carlos Newton

Com a demissão conjunta dos comandantes das três Forças Armadas – Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) – o presidente Jair Bolsonaro consolida seu pré-golpe e dá mais um passo para tentar o alinhamento das Forças Armadas a um regime de exceção, que ele e os três filhos defendem desde o início do governo.

O anúncio da saída dos comandantes militares acontece um dia após o general Fernando Azevedo e Silva ter deixado o cargo de ministro da Defesa. Para o lugar dele, foi nomeado o general Walter Braga Netto, que até então comandava a Casa Civil.

Na manhã desta terça-feira, dia 30, o novo ministro se reuniu com Pujol, Barbosa e Bermudez, quando os três colocaram os cargos à disposição e deixaram o governo.

ALINHAMENTO MILITAR – O objetivo claro do presidente não é apenas ter maior influência nos quartéis. Na verdade, ele pretende exigir um alinhamento político das Forças Armadas, para que possa manobrá-las à vontade, na condição de comandante-em-chefe.

Ocorre que seus poderes constitucionais de comando das Forças Armadas são limitados. Por isso, Bolsonaro sonha em governar com as mesmas prerrogativas que os presidentes militares detinham nos 21 anos da ditadura.  

Para tanto, Bolsonaro precisa arranjar um general, um almirante e um brigadeiro que comunguem ideias escalafobéticas com o pessoal ligado ao Planalto, especialmente sobre democracia relativa, ciência medieval e hegemonia do poder imperial dos governantes.

NADA DE GOLPE –  Mesmo que consiga encontrar três patetas na cúpula das três Armas, Bolsonaro não conseguirá dar o golpe planejado, porque o Alto Comando das Forças Armadas não está disposto a esse papel ridículo.  

Basta lembrar que em novembro do ano passado o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou que os militares não querem “fazer parte da política, muito menos deixar a política entrar nos quartéis”. Na ocasião, o vice-presidente Hamilton Morão, também general quatro estrelas da reserva, reforçou a posição de Pujol.

De lá para cá, nada mudou nas Forças Armadas. O que mudou foi a disposição de Bolsonaro, que entrou em delírio e quer partir para o tudo ou nada. Vai ser engraçado quando o ainda presidente descobrir que é mais fácil ele ser derrubado do que conseguir os poderes ditatoriais almejados desde sua posse.

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