Carlos Newton
Tenho desprezo pelos brasileiros que desenvolvem o que Nelson Rodrigues chamou de “complexo de vira-latas”. Não dão o menor valor ao país, acham que tudo de bom está lá fora, inclusive a felicidade. Nas últimas décadas, assistimos a várias levas de emigrantes vira-latas, primeiro para a matriz USA, depois para o Japão, a Europa em geral e, finalmente, para Portugal em particular.
Podem sair à vontade. Como diz o tricampeão Nelson Piquet, que poderia morar em qualquer parte do mundo mas não abandona sua querida Brasilia, “não se preocupem que a gente toma conta do boteco”.
REALISMO BRASILEIRO – Ao contrário do que pode pensar, a visão de Piquet não é romântica, apenas realista. Pessoalmente, cultivo um pensamento semelhante ao dele e entendo que o Brasil é um país muito forte, a ponto de aguentar qualquer tipo de governante.
E adoro a definição de Tom Jobim, que dizia: “Morar no Brasil é uma merda, mas é bom. Morar lá fora é bom, mas é uma merda”.
Apesar de todos os pesares, é preciso entender que o Brasil é o país de maior potencial no mundo. Quinto maior em extensão e sexto em número de habitantes, trata-se de um gigante pela própria natureza.
GIGANTE ADORMECIDO – Tem as maiores extensões de terras agricultáveis, com o maior volume de água doce na superfície e nos aquíferos, além de condições ideais de luminosidade, que se destinam a consolidá-lo como a maior potência agrícola do mundo, como previu há 150 anos o gigantesco pensador Alberto Torres, que foi presidente (governador) do Estado do Rio de Janeiro e ministro do Supremo.
Além disso, possui incomensuráveis reservas de minérios, a maior biodiversidade do planeta e uma indústria multifacetada, que chega a produzir aviões de última geração. Ou seja, está pronto para decolar, só falta encontrar um piloto.
PAÍS GLOBALISTA – Embora nenhum pesquisador chame atenção para esse fato, o Brasil é uma espécie de país-teste da globalização. Entre os 500 maiores grupos empresariais do mundo, pelo menos 400 transnacionais estão instaladas no Brasil.
Essa realidade torna patéticas e ridículas as críticas dos bolsonarianos ao globalismo, pórque isso mostra que não conseguem entender o próprio país.
Hoje, um dos maiores problemas é a desindustrialização, mas é fenômeno passageiro. A longo prazo, o Brasil se destina a ser um dos países mais industrializados do mundo, por motivos inquestionáveis — as matérias-primas estão aqui, há mão-de-obra especializada barata e em abundância, além de um gigantesco mercado consumidor.
OS POLÍTICOS DORMEM… – Ou seja, tudo é questão de tempo. O problema do Brasil são os políticos. Em junho de 2005, quando José Dirceu foi substituído por Dilma Rousseff na Casa Civil, fui apresentado ao ex-ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, que se mostrou preocupado. Disse-lhe que ficasse tranquilo, porque o Brasil cresce à noite, quando os políticos estão dormindo e não atrapalham.
É uma piada com base na vida real. Realmente, o Brasil cresce muito mais do que se pensa. Aliás, não acreditem muito em estatística, que considerei aqui como “a arte de torturar os números até que confessem o resultado que pretendemos”, uma definição que hoje é repetida sem citação do autor.
Os políticos são de baixíssima categoria, mas não conseguem evitar o crescimento do país, que hoje é governado por um ex-deputado paramilitar que responde a vários inquéritos no Supremo e cujos quatro filhos estão sob investigação da Justiça e da Polícia Federal. Não é preciso dizer mais nada. É um país realmente surreal, mas ninguém conseguirá contê-lo.
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P.S. – Dedico essa artigo ao empresário catarinense Flávio José Bortolotto, que tinha um conhecimento absurdo de economia e defendia que se prestigiasse o capital nacional, como vinha sendo feito desde Getúlio Vargas, através do BNDES, que praticamente foi desativado por esse ridículo governo bolsonariano, mas logo voltará a funcionar em defesa do interesse nacional. (C.N.)
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