Guilherme Mazui
G1
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta segunda-feira, dia 19, que o Brasil “não tem que ser mendigo” na busca por recursos a fim de custear o combate ao desmatamento ilegal.
Presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Mourão deu a declaração a três dias da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, que deverá reunir 40 chefes de Estado ou de governo. O anfitrião será o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente Jair Bolsonaro deverá participar.
CARTA DE BOLSONARO – Na semana passada, se tornou público o conteúdo de uma carta enviada por Bolsonaro a Biden, na qual o presidente brasileiro pediu a “ajuda possível” da comunidade internacional e disse que se compromete a zerar o desmatamento ilegal até 2030 (o mandato atual de Bolsonaro acaba em 2022).
Na entrevista desta segunda, Mourão afirmou que financiamento externo pode auxiliar, mas que a tendência é de os outros países repassarem dinheiro se o Brasil apresentar bons resultados na área.
“A tendências sempre é essa [de esperar resultado concreto], que eu vejo. E a gente não tem que ser mendigo nisso aí. Vamos colocar a coisa muito clara: temos as nossas responsabilidades. O Brasil é responsável só por 3% das emissões no mundo. Desses 3%, 40% é o desmatamento, ou seja, 1,2% do que se emite no mundo é responsabilidade do desmatamento nosso aqui. Tem que fazer nossa parte, dentro do Acordo de Paris”, declarou Mourão.
“PLAYER” – Segundo Mourão, por ter uma matriz energética mais limpa na comparação com outros países e uma grande cobertura vegetal nativa, o Brasil é um “player” na mesa de negociações e poderá convencer os demais países sobre os esforços adotados pelo governo, apesar das críticas de políticos e ambientalistas. Para ele, a tendência na comunidade internacional é esperar resultados para depois enviar recursos.
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), os alertas de desmatamento na Amazônia em março foram os maiores já registrados para o mês desde o começo da série histórica. Foram 367, km² no mês passado, conforme medições do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).
Em março de 2020, foram 326,9 km². Na série histórica, que considera os dados das temporadas desde 2015, o mês de março com maior devastação verificada pelos satélites foi em 356 km² no período 2017/2018.
FUNDO AMAZÔNIA – Mourão citou que o Fundo Amazônia, parado desde 2019, pode receber o dinheiro que o governo deseja. O vice tem citado como meta reduzir entre 15% a 20% o desmatamento até julho na comparação com o ano anterior. Ele acredita que com esse resultado será possível reativar o fundo, em especial com Noruega e Alemanha, doadores originais.
“Se quiserem trazer recursos, o Fundo Amazônia admite todo e qualquer tipo de doação para ele. Ele já está aberto para isso, não é só os países que foram doadores iniciais. Entes privados, ou outros entes públicos, outros países podem aderir a ele”, disse.
Criado em 2008 para financiar projetos de redução do desmatamento e fiscalização, o Fundo Amazônia está parado desde abril de 2019, quando o governo Bolsonaro extinguiu os colegiados Comitê Orientador (COFA) e o Comitê Técnico (CTFA), que formavam a base do Fundo. À época, Noruega suspendeu repasses ao fundo. Em resposta, Bolsonaro afirmou que o Brasil não precisava do dinheiro da Alemanha para preservar a Amazônia.
NORUEGA – Mourão afirmou que tem conversado com autoridades norueguesas para destravar o Fundo Amazônia – no ano passado, a rede Observatório do Clima apontou que o fundo tem cerca de R$ 2,9 bilhões parados.
O vice evitou criticar o comentário do ministro do Meio Ambiente da Noruega, Sveinung Rotevatn, que em nota à BBC News Brasil, disse que a redução do desmatamento na Amazônia é “uma questão de vontade política, não de falta de financiamento adiantado”.
O norueguês comentou o desejo do ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, que busca US$ 1 bilhão em recursos externos para ampliar ações contra o desmatamento.
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