Malu Gaspar
O Globo
Depois de mais de dois meses tentando convencer o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) a marcar a data da sabatina que vai avaliar sua indicação para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro da Justiça e ex-advogado geral da União André Mendonça mudou de estratégia.
De acordo com seus aliados, Mendonça agora perdeu a pressa, porque avalia que, quanto mais o tempo passa, mais Alcolumbre se desgasta politicamente no Senado e mais fácil fica a sua aprovação.
UM ANO E MEIO – A quem pergunta quanto tempo pode esperar, Mendonça costuma responder que tem um ano e meio – ou seja, até o final do mandato de Jair Bolsonaro.
O presidente da República Bolsonaro indicou seu ex-ministro “terrivelmente evangélico” para o STF em julho, na vaga aberta com a aposentadoria de Marco Aurélio Melo. Mas Alcolumbre, por ser presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, é quem tem a prerrogativa de marcar a sabatina para avaliar Mendonça e se recusa a fazê-lo.
Em público, o senador pelo Amapá não explica a razão da resistência, mas nos bastidores não esconde que seu candidato ao Supremo é o procurador-geral da República, Augusto Aras.
JUDICIALIZAÇÃO – A mais recente justificativa do presidente da CCJ é que a questão agora foi judicializada – argumento um pouco esdrúxulo, uma vez que a judicialização se dá pelo fato de que os senadores Alessandro Viera (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) entraram com um mandado de segurança no STF justamente para obrigar Alcolumbre a marcar a sabatina.
Na terça-feira, o ministro Ricardo Lewandovski deu a Alcolumbre prazo de dez dias para explicar a demora no agendamento. No dia seguinte, quarta-feira, Vieira e Alcolumbre discutiram na CCJ depois que o senador do Cidadania pediu que o presidente da comissão indicasse “um único motivo republicano” para não marcar a sessão.
O presidente da CCJ acusou o senador de estar produzindo “frases de efeito” para ganhar holofotes, uma vez que Vieira é pré-candidato a presidência da República em 2022.
PRESSÃO EVANGÉLICA – A pressão sobre Alcolumbre vem sendo reforçada nas últimas semanas por parlamentares evangélicos, que se reuniram com Bolsonaro e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para fazer lobby por Mendonça.
Depois de se reunir com Bolsonaro, nos últimos dias Mendonça passou a dizer aos aliados que não teme que o presidente retire sua indicação, como vem sendo cogitado pelo grupo que batalha pela candidatura de Aras. É por isso que, agora, o ex-ministro de Bolsonaro acha que quem mais tem a perder com a demora é o próprio Alcolumbre.
Aos parlamentares que o procuram, Mendonça diz não acreditar que o presidente da CCJ vá se dar bem ferindo a “institucionalidade” e fazendo todo o Senado de “refém de seus interesses pessoais”.
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