Bruno Boghossian
Folha
Jair Bolsonaro errou mais uma. No início do ano, o presidente investia contra a vacinação e alegava que “menos da metade” da população estava disposta a se imunizar contra a Covid-19. “É esta a pesquisa que eu faço na praia, faço na rua, faço em tudo quanto é lugar”, especulou.
Nesta semana, o país ultrapassou a marca de 50% de adultos e adolescentes vacinados com duas doses ou dose única. Cerca de 85% da população com 12 anos ou mais já recebeu pelo menos uma injeção. Derrotado, Bolsonaro decidiu procurar novas formas de sabotagem na reta final da imunização.
ARSENAL DE MENTIRAS – O presidente tem levado a palanques e entrevistas seu arsenal de mentiras para renovar suspeitas sobre os imunizantes aplicados no Brasil. A razão é política, como de hábito: Bolsonaro quer atacar estados e municípios que adotaram o passaporte que limita o acesso de não vacinados a alguns espaços.
Num evento em Belo Horizonte, o presidente disse que não se pode adotar restrições porque “as vacinas, em grande maioria, ainda são emergenciais”. É mentira. Os imunizantes da Pfizer e da AstraZeneca têm registro definitivo na Anvisa e são 66% das doses aplicadas no país.
Bolsonaro disse ainda, numa entrevista à Jovem Pan, que o passaporte não faz sentido porque “não se garante a não transmissão do vírus por parte dos vacinados”. Não é bem assim: estudo publicado no New England Journal of Medicine apontou que a imunização pode reduzir a transmissão em cerca de 50%.
INFORMAÇÕES FALSAS – O ciclo da pandemia mostrou que o presidente topa tudo para convencer uma minoria a não se vacinar. Nas últimas semanas, ele incentivou o Ministério da Saúde a suspender a aplicação de doses em adolescentes e espalhou informações falsas sobre a morte de jovens imunizados.
Bolsonaro diz que a vacinação deve ser uma decisão individual e replica um liberalismo de botequim que satisfaz sua base. O negacionismo antivacina tem baixa aderência no país, mas ele insiste no assunto para agitar seus apoiadores mais fiéis.
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