Malu Gaspar
“A legislação internacional prevê que crimes contra a humanidade são imprescritíveis”, disse a jurista e professora titular da Universidade de São Paulo, Deisy Ventura, chamada para assessorar a CPI da Covid por ter coordenado o estudo mais extenso já realizado no Brasil sobre as ações do governo Jair Bolsonaro ao longo da pandemia.
Depois de passar meses sistematizando atos normativos, decretos, vetos e declarações do presidente da República, ela e seus colegas da Faculdade de Saúde Pública da USP chegaram à conclusão de que o presidente comandou uma estratégia deliberada pela imunidade de rebanho por contágio no país, sustentada por uma forte campanha de desinformação.
PALAVRAS MATAM – “Em saúde pública, as palavras matam”, diz Deisy Ventura. Para a jurista, a CPI já foi bem longe, mas as investigações que seguirão a partir do relatório final ainda farão emergir novos crimes.
“Vamos concluir que foi muito mais grave ainda. Muita gente vai falar no dia em que esses processos se abrirem e existir alguma estabilidade política no nosso país”, afirmou Deisy Ventura, acrescentando:
“Hoje, as pessoas ainda tem muito medo. Se a democracia brasileira resistir, o tempo conta a nosso favor no aspecto da responsabilização dos envolvidos”.
IMUNIDADE DE REBANHO – Na entrevista, a professora discutiu o risco de as conveniências políticas que hoje sustentam Augusto Aras como procurador-Geral da República blindarem Bolsonaro de eventuais acusações: “Quem praticou esses crimes precisa ir para a cadeia. Se não, essa máquina de matar que é a imunidade de rebanho por contágio será normalizada. Outras pandemias virão”, salienta.
Deisy Ventura também afirmou que o presidente e os demais arrolados no relatório poderão responder aos crimes no Tribunal de Haia, e falou sobre os prejuízos causados com a instrumentalização da classe médica pelo bolsonarismo.
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