José Carlos Werneck
Muito acertadamente o escritor Eduardo Portella, ex-ministro da Educação, definiu José Guilherme Merquior como “a mais fascinante máquina de pensar do Brasil pós-modernista, irreverente, agudo, sábio”, ao passo que o antropólogo francês Lévi-Strauss o definiu como “um dos espíritos mais vivos e mais bem informados de nosso tempo”.
Merquior foi reconhecido por intelectuais de ideologias diversas, sendo considerado “a maior inteligência brasileira da segunda metade do século XX”, pelo poeta Bruno Tolentino, e um “talentoso porta-voz da direita” pela professora Marilena Chauí.
AMOR À ESTÉTICA – Merquior dedicou ainda parte de sua obra à Estética, que abrangeu desde a crítica literária com seu livro de estreia “Razão do Poema”, até sua última obra publicada em vida, “Crítica, uma coletânea sobre arte”.
Nascido no Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1941, no bairro da Tijuca, desde cedo Merquior se destacava pela inteligência e empenho em leituras. Ele se casou com a primeira namorada, Hilda, com quem ficou da adolescência até morrer, aos 49 anos.
Aos 18 anos já era um fenômeno intelectual e passou a publicar artigos no Jornal do Brasil. Formou-se em Filosofia e Direito e construiu uma carreira na diplomacia, passando em primeiro lugar no concurso do Instituto Rio Branco. Como diplomata, serviu em Bonn, Londres, Paris e Montevidéu. Foi Embaixador no México e Representante Permanente do Brasil junto à Unesco.
COM INTELECTUAIS – Em 1965, aos 24 anos, iniciou sua carreira de escritor com o livro, “Razão do Poema” e concluiu doutorado no ano seguinte, na Universidade Sorbonne.
Durante sua trajetória profissional, travou contato e amizade com diversos intelectuais de renome. O filósofo francês Ernest Gellner, por exemplo, foi orientador da tese de doutorado em Sociologia pela London School of Economics (seu terceiro doutoramento).
Humanista, discorria com erudição sobre muitos temas das Ciências Humanas, tendo iniciado o ofício público de escritor como crítico literário.
SOCIAL-LIBERALISMO – Ao lado de Roberto Campos, que foi um dos seus mentores intelectuais, trabalhou no governo Fernando Collor, tendo colaborado na redação do discurso de posse do presidente, com as linhas gerais do que seria a doutrina do “social liberalismo”, o nome que o então presidente deu à sua política liberal com fins sociais. Convidado por Collor para ocupar, em 1990, o cargo de Ministro da Cultura, não aceitou.
Sua proposta política visava tirar o Brasil de velhas amarras, do patrimonialismo e personalismo que imperavam no cenário político brasileiro. Correspondia à terceira via proposta pelos britânicos Anthony Giddens e Tony Blair, pois Merquior defendia uma atuação do Estado na moderação social e econômica, mas com favorecimento aos ambientes de negócios da livre-iniciativa privada.
Era favorável à privatização das estatais e ao investimento massivo do Estado em educação, saúde e segurança pública. Mas também criticava o mercado capitalista, por não distribuir renda e aumentar a desigualdade social.
CRÍTICA AO COMUNISMO – De acordo com Merquior, o Socialismo, em suas origens intelectuais, não era uma teoria política e sim uma teoria econômica que procurava reestruturar a indústria. O socialismo só se politizou com Karl Marx, o qual fundiu a crítica do liberalismo econômico com a tradição revolucionária do comunismo.
Apesar da crítica ao Marxismo, Merquior fazia questão de distingui-lo da social-democracia: “O capitalismo não é um anátema, mas o mercado não é visto como um meio adequado de suprir as necessidades sociais”, ressaltava o intelectual brasileiro, que morreu prematuramente em New York, vitimado por um câncer de intestino, em 1991 ao 49 anos.
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