Eles
têm entre 25 e 34 anos, muitos trabalham e até ganham bem. Outros não
trabalham, ou ganham pouco. Em comum, o fato de ainda morarem com os
pais. Pesquisa do IBGE mostra que a Geração Canguru está crescendo no
Brasil
Priscila Chammas/Ibahia
Esse texto é sobre cangurus e nem-nens. Mas não
sobre os simpáticos seres puladores da Austrália e bebês. Os cangurus
dos quais trataremos aqui são desta espécie que você vê na foto acima,
trajando blusa de oncinha e saia laranja. Parodiando uma famosa página
no Facebook, esta é Elisa. Elisa tem 34 anos, mas ainda mora com a mãe
porque acha que não faz o menor sentido gastar dinheiro com coisas que
pode ter de graça. Elisa faz parte da Geração Canguru.
Elisa
Xavier é publicitária e tem 34 anos, mas só pretende sair da casa da
mãe, Lívia, se for para casar ou mudar de cidade: “Não tem o menor
sentido sair só para gastar dinheiro”
A Geração Canguru no Brasil é formada por 24% dos
jovens entre 25 e 34 anos, que ainda moram com os pais. Segundo dados
divulgados ontem, pelo IBGE, o número cresceu desde 2002, quando os
cangurus eram 20% do total de pessoas nesta faixa etária. Os percentuais
são os mesmos no Nordeste. Não há dados por estado.
O nome, agora sim, é uma referência aos seres
pulantes da Austrália que carregam os filhotes bem protegidinhos, dentro
da bolsa. Mas as semelhanças param por aí, porque as mamães cangurus só
carregam o herdeiro até o primeiro ano de idade. O animal, aliás, nem
chega a viver 34 anos.
Mas a publicitária Elisa Xavier chegou, e está longe
de pensar em sair da bolsa, isto é, de casa. “Aqui tenho tudo o que
preciso e, principalmente, quem faça as coisas para mim. Só saio se for
para casar ou mudar de cidade. Senão, vou sair para quê?”, questiona.
Se depender da mãe, a funcionária pública Lívia
Margarida de Lima, ela pode ficar em casa até os 50 anos, se quiser.
“Para mim seria uma felicidade. A convivência com elas (a outra filha,
de 30 anos, também mora na casa) me rejuvenesce”, justifica.
Cangurus Ricos
O sociólogo Agenor
Gasparetto, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc),
analisa que o fenômeno é típico das culturas latinas, onde há uma
tendência maior de proteger os filhos. “Um caso como esse poderia até
acontecer nos Estados Unidos, mas seria um fato isolado”, avalia.
Ele também comenta outro dado. “Voltar para o ninho,
ou permanecer nele é uma opção para quem tem pais com condições de dar
apoio. O pobre não vai voltar para casa porque sabe que em casa não tem
nada”, observa Gasparetto.
De fato, a proporção de cangurus nas famílias com
renda entre dois e cinco salários mínimos per capita é mais do que o
dobro que o das famílias com rendimento de até meio salário por pessoa.
“Quem tem pouca grana expulsa o filho de casa mais
cedo”, brinca o coordenador de disseminação de informações do IBGE,
Joilson Rodrigues de Souza, para falar da maior pressão para que os
filhos das classes menos favorecidas comecem logo a trabalhar e saiam
das costas dos pais.
Ele também lembra que os filhos das pessoas mais
endinheiradas estudam e se qualificam mais antes de sair de casa, porque
não admitem baixar bruscamente o padrão de vida a que estão
acostumados. “Os filhos cangurus têm, em média, 9,6 anos de estudo.
Outras pessoas na mesma faixa etária, mas que não moram mais com os pais
têm média de 8,5 anos”, compara.
Cangurus Machos
Fazendo outro recorte do
dado, uma informação curiosa: a maioria dos cangurus é do sexo
masculino. Em 2012, cerca de 60% dos jovens nesta condição eram homens e
40% mulheres. Joilson tem duas explicações para o fenômeno. Ambas
derivam do machismo da sociedade, só que uma para o bem e outra para o
mal.
“A primeira é que quando os casais se separam, a
tendência é sempre a mulher ficar com os filhos e com a casa. Aos homens
resta voltar para a casa dos pais e recomeçar tudo do zero”, diz. Sorte
das mulheres. “A segunda é que dentro de casa, o filho homem sempre
acaba tendo mais liberdade, então ele não sente tanta necessidade de
sair de casa”, completa. Azar das mulheres. Xiii... não sobrou espaço
para falar dos nem-nens. Mas não tem problema. Fica para o boxe aí do
lado.
Um quinto dos jovens não estuda nem trabalhaNem-nem
não é uma grafia errada de neném, mas uma abreviação para “nem estuda,
nem trabalha”, situação de um quinto dos jovens brasileiros entre 15 e
29 anos. Em 2012, 9,6 milhões de jovens nessa faixa etária não
frequentavam escola e nem trabalhavam. E se os cangurus são homens, em
sua maioria, entre os nem-nens prevalecem as mulheres (70,3%).
“Essa predominância tem a ver com a maternidade. As
que têm filho cedo acabam deixando de lado essas atividades”, avalia
Joilson, do IBGE. Entre essas mulheres, 58,4% tinham pelo menos um
filho. Esse é o caso de Isabela Brandão Gouveia, 28 anos e um filho de
2.
Ela trancou a faculdade para trabalhar, mas largou o
emprego no final da gravidez, e não voltou mais. Nem quando se separou
do marido e voltou a morar com o pai. Como o ex não ajuda, é ele (o avô)
e a mãe de Isabela que arcam com todas as despesas dela e da criança.
“Se eu fosse trabalhar, ia ter que colocar meu filho
o dia inteiro numa creche. Ia mudar muito a rotina dele”, justifica.
Mas a jovem não pretende ser nem-nem pelo resto da vida. “Vou entrar num
curso de inglês e depois procurar um emprego numa grande empresa, para
poder pagar a creche meio turno e uma babá para o outro turno, por que
assim não muda tanto a rotina dele”, planeja.
Idosos: 66,2% vivem de pensão ou aposentadoriaA
principal fonte de renda dos idosos a partir dos 60 anos de idade é a
aposentadoria ou pensão (66,2%), sendo que, para o grupo de 65 anos ou
mais, a participação dessa fonte de rendimento fica mais importante
(74,7%).
Para o grupo de pessoas de 60 anos ou mais de idade,
23,7% não recebiam aposentadoria ou pensão, enquanto 7,8% acumulavam os
dois. A taxa de ocupação de maiores de 60 anos no mercado de trabalho
foi de 27,1% em 2012.
Brasil: 56,9% dos trabalhadores são formalizados; na Bahia, 39
Entre
2002 e 2012, a proporção de trabalhadores ocupados em trabalhos formais
subiu de 44,6% para 56,9%. Tal crescimento significa o aumento da
cobertura por uma série de benefícios. Estão entre os formalizados
aqueles que têm carteira assinada, os militares e funcionários públicos e
os conta-própria e empregadores que contribuem para a Previdência.
O indicador de formalização apresentou variações
significativas nas regiões Sul (de 49,6% em 2002 para 65,6% em 2012) e
Centro-Oeste (de 44,3% para 60,8%). A menor variação ocorreu na região
Norte, de 33,9% para 38,7%.
Essa expansão da formalização também foi evidenciada
na região Nordeste, cuja taxa passou de 26,7% para 38,6%. Na região
Sudeste, a taxa passou de 55,1% para 66,9%. O estado do Maranhão
registrou 74,5% de ocupados em trabalhos informais, enquanto Santa
Catarina e o Distrito Federal possuem apenas 26,9% de seus trabalhadores
nessas condições.
Na Bahia, essa taxa em 2012 era de 39,2% do total de
trabalhadores. Na informalidade, os jovens de 16 a 24 anos e os idosos
de mais de 60 anos tiveram os maiores percentuais: 46,9% e 70,8%,
respectivamente.
Os 10% mais ricos do Brasil têm 42% dos rendimentos do país
Apesar
da melhoria no Índice de Gini, que mede a desigualdade na distribuição
de renda dentro do país, os 40% mais pobres da população brasileira eram
responsáveis por 13,3% da renda total do país, enquanto os 10% mais
ricos tinham 41,9% em 2012, segundo o IBGE.
Na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais - Uma
Análise das Condições de Vida dos Brasileiros -, o Índice de Gini caiu
de 0,556 em 2004 para 0,507 em 2012. Quanto mais próximo de 0, melhor a
distribuição da renda. Se em 2002 os 10% com os maiores rendimentos
ganhavam 16,8 vezes mais do que os 40% com as menores rendas, a
proporção caiu para 12,6 em 2012.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad) 2013, que analisou os dados de 2012, no ano passado
6,4% das famílias recebiam até um quarto de salário mínimo por pessoa e
14,6% estavam na faixa entre um quarto e meio salário mínimo per capita.
Entre 2002 e 2012, a participação de outras fontes de renda, que não o
trabalho, para o grupo de até um quarto de salário mínimo passou de
14,3% para 36,3%.
Já para as famílias com rendimento per capita entre
um quarto e meio salário mínimo, a participação das outras fontes passou
de 6,5% para 12,9%. Nessa categoria de rendimentos entram os programas
de transferência de renda do governo, como o Bolsa Família.
A questão racial também é destacada na desigualdade
de rendimentos. Em 2002, nos 10% mais pobres da população, 71,5% eram
pretos e pardos e 27,9% eram brancos. Em 2012, 75,6% das pessoas com
menores rendimentos eram negros e 23,5% de brancos entre os 10% com
menor renda.