segunda-feira, 2 de maio de 2016

Servidores: atraso no pagamento afeta 1,5 mi


 

O Ceará está em dia com o salário do servidor, mas adiou para junho a decisão sobre reajuste da categoria


 
Os casos mais dramáticos são Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que começaram a parcelar salários e atrasar benefícios de aposentados ( FOTO: FERNANDA SIEBRA )
Brasília. A grave crise fiscal que se instalou no País abalou o que há de mais seguro no mercado de trabalho brasileiro: o funcionalismo público. Sem dinheiro em caixa e com uma conta que não para de crescer, os estados têm deixado de pagar em dia o salário dos trabalhadores. Um levantamento feito com sindicatos e associações de servidores estaduais mostra que 11 unidades da Federação atrasaram, parcelaram ou escalonaram a folha de pagamento desde o início da atual gestão. O problema já afeta a vida de 1,5 milhão de trabalhadores. A expectativa é que, nos próximos meses, outros estados engrossem essa lista. O Ceará continua em dia com o pagamento do funcionalismo, mas adiou a decisão sobre o reajuste da categoria para junho.
Hoje, os casos mais dramáticos são Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro - ambos começaram a parcelar salários no ano passado. Na administração gaúcha, os servidores enfrentam instabilidade desde o início do segundo semestre de 2015. Além do 13º salário, que só começará a ser pago em junho deste ano, o salário de março foi parcelado em nove vezes. Em abril, a medida vai se repetir. "Ninguém sabe quando e nem quanto vai receber", diz Cláudio Agostinho, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado.
No Rio de Janeiro, onde 438 mil servidores foram afetados, o governo abriu uma linha de crédito no banco para que os trabalhadores pudessem receber a segunda parcela do 13º salário, com juros pagos pela Fazenda. Por ora, segundo a Secretaria da Fazenda, os salários estão em dia. Mas o calendário de pagamentos foi alterado.
Estratégia
Outros estados seguiram a mesma estratégia de mudar a data de depósito do salário, como Rio Grande do Norte e Tocantins. "Antes era dia 30, depois passou para dia 3, dia 5 e agora dia 10. Não há um calendário definido antecipadamente. Não podemos nos programar", afirma a presidente da Associação dos Servidores Públicos do Rio Grande do Norte, Angélica Soares, lembrando que o atrasou começou no ano passado.
A justificativa para a mudança na data do Tocantins foi o repasse das verbas federais. O pagamento passou do 5º dia útil para o dia 12. "Não temos liquidez financeira. Dependemos do repasse do FPE (Fundo de Participação do Estado, destinado aos governos estaduais e pago pela União) no dia 10 para pagar a folha no dia 12", afirma o secretário de administração do Estado Geferson Barros.
Com o caixa debilitado, Minas Gerais não só atrasou o salário em dezembro como parcelou os pagamentos seguintes. A Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado atribuiu o atraso à forte queda da arrecadação do ICMS em 2015.
Médicos do Amazonas
Há dois meses, os médicos terceirizados do Amazonas estão sem receber o salário. Boa parte deles formou cooperativas para prestar serviço ao estado e depende do repasse da administração para garantir o salário.
"Temos tido problemas por causa do recuo da atividade no Amazonas", afirma o Secretário da Fazenda do Estado, Afonso Lobo Moraes. "A nossa arrecadação teve um recuo expressivo", observa.
O fato é que, para muitos estados, a conta não fecha mais. O resultado foi parar no contracheque dos servidores e dos trabalhadores terceirizados que prestam serviço para a administração estadual. Mesmo os que ainda não foram atingidos pelos atrasos têm prejuízos. Alguns governadores congelaram os salários e benefícios já concedidos.

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