Com a imagem da primeira visita de Fidel Castro ao Brasil estampada
na parede de sua casa, Carlos Araújo falou sobre a amizade com Dilma.
Foto: Terra
Ex-marido de Dilma critica PT e quer voltar para política pelo PDT
Doze anos após abandonar a política por causa de uma decepção com
líderes do PDT no Rio Grande do Sul, um dos deputados mais votados na
década de 1980 pretende retornar ao partido que ajudou a fundar.
Ex-marido de Dilma Rousseff, o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo
é considerado o maior confidente da presidente da República, a quem ele
classifica como uma grande
amiga.
De prosa simples e com muitas histórias para contar, Carlos Araújo
recebeu o Terra em sua casa, na zona sul de Porto Alegre, onde confirmou
o desejo de retornar à política.
"Quero me filiar de novo porque tenho muita vontade de fazer política,
mas como eu vou fazer é o que eu ainda não sei", disse Araújo. Apesar de
não ter planos de disputar um cargo público novamente, o advogado quer
ajudar a reerguer o trabalhismo que, segundo ele, perdeu suas raízes nos
últimos anos. "O PDT está descaracterizado, mas eu acho que logo vão
surgir novas lideranças", afirmou ao criticar o atual presidente da
sigla, o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi.
Na casa na beira do Guaíba, Carlos Araújo divide as tarefas da advocacia
com as leituras sobre Getúlio Vargas. Orgulhoso do trabalho de Dilma,
ele relatou a luta do casal que se conheceu nas reuniões dos grupos de
esquerda e que passou a dividir os sonhos de liberdade e os dramas da
tortura e da repressão. Sobre a instalação da Comissão da Verdade para
elucidar os crimes cometidos na ditadura, Araújo disse que espera que a
sociedade cobre a devida punição aos envolvidos. "Eu acho que não cometi
crime nenhum durante a ditadura e mesmo assim fui condenado, agora por
que esses caras que fizeram horrores, que mataram, torturaram, não podem
ser condenados também?", questionou.
Em uma conversa de quase duas horas, o ex-deputado ainda falou sobre o
julgamento do mensalão, que começa nesta quinta-feira, dia 2. "Eu acho
tudo isso uma barbaridade, um absurdo. Não tem provas contra ninguém. É
um julgamento político incentivado por uma mídia que nós sabemos bem
como é", disse, mesmo sem deixar de criticar o partido de Dilma. "Eu
sempre tive uma visão muito crítica do PT. Uma coisa é a liderança do
Lula, que é incontestável, mas o PT hoje é muito mais uma força
eleitoral do que uma força política. Não diria que é uma falsa esquerda,
mas as divergências dentro do partido são tão grandes que está virando
de tudo um pouco. Eu digo até que virou um PMDB de esquerda,
infelizmente".
O Terra inicia hoje uma série de entrevistas com personalidades da
política nacional que abandonaram seus partidos depois de terem ocupados
cargos públicos de destaque, como governadores, deputados e senadores. A
seguir, confira os principais trechos da primeira entrevista:
Terra - Por que após a ditadura o senhor resolveu se filiar ao PDT de Leonel Brizola. O PT não seria o caminho mais natural?
Carlos Araújo - O que eu aprendi depois de estudar muito, principalmente
na cadeia, foi que todos os movimentos sociais e revolucionários fortes
se constroem em cima de um grande líder. No Brasil foi assim com
Getúlio Vargas e Jango. Quando surgiu o Lula, com as greves no ABC
Paulista, eu logo procurei ele, sempre achando que deveríamos seguir
esse veio da história, do trabalhismo. Mas o PT surgiu com muita
pretensão, dizendo que a história começava dali para frente. E eu achei
que não era bem assim. Eu não tinha nenhum vínculo com o trabalhismo,
mas via que todas as sociedades que haviam prosperado tinham respeitado
suas forças sociais, sua história. Por isso fui para o trabalhismo, me
aliei ao Brizola porque achava que ele respeitava isso, e ainda tinha
forte liderança, poderia levar essa luta adiante.
Terra - O senhor tentou levar o Lula para o partido do Brizola?
Carlos Araújo - Sim. Eu e a Dilma fomos para Lisboa para uma
reunião com o Brizola, na época ainda antes de se formar os partidos. Eu
fiz uma parada em São Paulo para tentar convencer o Lula a ir junto
conversar com o Brizola. Mas ele disse que não iria.
Terra - O senhor acha que o PT é uma falsa esquerda?
Carlos Araújo - Eu sempre tive uma visão muito crítica do PT.
Uma coisa é a liderança do Lula, que é incontestável, mas o PT hoje é
muito mais uma força eleitoral do que uma força política. Não diria que é
uma falsa esquerda, mas as divergências dentro do partido são tão
grandes que está virando de tudo um pouco. Eu digo até que virou um PMDB
de esquerda, infelizmente. Claro que a gente tem que respeitar,
primeiro porque é uma grande força eleitoral, segundo porque lá dentro
tem quadros de melhor qualidade. Mas eu acredito que o trabalhismo ainda
vai desempenhar um papel forte no futuro.
Terra - Como o senhor avalia o PDT hoje, sob o comando do ex-ministro Carlos Lupi?
Carlos Araújo - É um pavor. Eu acho que o PDT está
descaracterizado, sem liderança depois da morte do Brizola, mas logo
devem surgir novos líderes que vão recuperar isso.
Terra - Poderia citar quem teria condições de ser um líder no PDT?
Carlos Araújo - Eu acho que vão surgindo lideranças, não posso
chegar e dizer vai ser essa, vai ser aquela. Aqui em Porto Alegre, por
exemplo, o PDT tem quase mil jovens, é emocionante ver essa gurizada
querendo fazer política. E tem os próprios netos do Brizola, que vão
acabar desempenhando um papel importante. Um é vereador no Rio de
Janeiro, um é ministro e a Juliana é deputada no Rio Grande do Sul. Mas
acho que vai ser bom para o País se o PDT retomar a sua tradição, as
raízes trabalhistas.
Terra - O senhor teve alguma decepção com o Brizola?
Carlos Araújo - Não, é preciso entender o Brizola. Ele foi um
governador tão bom no Rio de Janeiro que foi reeleito. Acho que cometeu
alguns erros, alguns equívocos, mas muito por causa dessa disputa com o
PT. O que aconteceu é que surgiram duas grandes forças na esquerda, e
isso dividiu o movimento. O PDT com o tempo foi perdendo espaço para o
PT e não soube superar isso. Faço uma observação, não é crítica, de que
quando o Brizola foi para a Europa e se aliou à socialdemocracia,
principalmente à alemã, acho que isso fez mal para ele, porque o Brizola
perdeu suas características próprias, que o tornavam uma figura rara, e
adquiriu essa nova postura. Isso o levou a uma certa hibridez. Mas isso
não desmerece o Brizola, ele foi um grande líder, tivemos algumas
desavenças, mas ele foi muito importante.
Terra - O Brizola foi contra a sua candidatura à prefeitura de Porto Alegre em 1988?
Carlos Araújo - Sim, no primeiro momento ele foi contra. O
Brizola queria uma candidatura mais conservadora, achava que Porto
Alegre não era uma cidade preparada para ter uma pessoa de esquerda no
comando, preferia que fosse o Carrion, e eu concordei. Mas ele acabou
mudando e ideia porque viu a manifestação do partido ao meu favor, viu
que não tinha como impor uma candidatura.
Terra - A sua derrota para o petista Olívio Dutra nessa eleição foi culpa do seu companheiro de partido Alceu Collares?
Carlos Araújo - Sim, o Collares era prefeito de Porto Alegre.
Eu estava em primeiro lugar nas pesquisas e uma semana antes da eleição
estourou uma greve dos lixeiros. A cidade ficou imunda até o dia da
eleição e não houve empenho nenhum do prefeito, que era do meu partido,
em terminar a greve. Então fui derrotado.
Terra - O senhor saiu do PDT por causa disso?
Carlos Araújo - Eu saí mais tarde, quando o Collares foi
candidato a prefeito em 2000. Eu não queria votar nele, por tudo que
aconteceu, mas não podia desrespeitar a orientação do meu partido. Então
para evitar isso eu saí do PDT.
Terra - O senhor então apoiou o candidato do PT?
Carlos Araújo - Sim, apoiei o Tarso Genro.
Terra - A Dilma já havia deixado o PDT e se filiado ao PT. Por que o senhor optou por ficar sem partido?
Carlos Araújo - Eu não quis me filiar mais a nenhuma partido,
primeiro porque estava doente, tive enfisema pulmonar e fiquei com muita
dificuldade de fazer trabalho político. Segundo porque eu já tinha uma
visão política crítica do PT, de que o caminho brasileiro passa pelo
trabalhismo. Quanto mais eu conheço Getúlio Vargas, Jango e Brizola,
mais me convenço disso. Getúlio Vargas é o político que mais se escreveu
sobre a sua trajetória, mas para mim é o político mais desconhecido,
porque quem escreveu sobre ele ou fazia parte de uma esquerda que
inventou teses absurdas sobre ele, cheia de preconceito, ou fazia parte
de uma direita que o odiava.
Terra - Como o senhor avalia a democracia no Brasil hoje?
Carlos Araújo - Acho que a democracia avançou muito no seu
aspecto político, da liberdade de se criar partidos, a liberdade nas
eleições, não há discriminação contra ninguém. Também vejo que há uma
liberdade social, à medida que as camadas populares estão adquirindo
mais conhecimento, estão começando a compreender mais as coisas. E há um
avanço também na democracia econômica, superando aquela ideia de
esperar o bolo crescer para dividir, mas dividindo enquanto vai
crescendo. As pessoas têm um salário real bem melhor do que tinham
antigamente.
Terra - O PT foi fundamental para se alcançar esses avanços?
Carlos Araújo - Sim, principalmente por causa da grande força
eleitoral do partido, e também pela expressão política de suas
lideranças.
Terra - O senhor tem interesse em se filiar novamente a algum partido, fazer política de novo?
Carlos Araújo - Sim, quero me filiar de novo porque tenho muita
vontade de fazer política. Como eu vou fazer é o que eu ainda não sei.
Terra - Qual partido o senhor pretende se filiar?
Carlos Araújo - Ao PDT.
Terra - O senhor tem alguma influência no governo da presidente Dilma?
Carlos Araújo - Não, eu não dou nenhum palpite, não tenho nenhuma
influência no governo dela. Somos grandes amigos, nada mais. Ela dirige
esse País com as ideias dela.
Terra - Foi uma surpresa para o senhor a eleição da Dilma?
Carlos Araújo - Foi uma surpresa para mim, para ela também
quando foi decidido que ela seria candidata. Mas eu sabia que ela faria
um grande governo, porque ela estava muito preparada. Me sinto muito
orgulhoso porque as grandes ações estão começando a acontecer.
Terra - Como o senhor conheceu a presidente Dilma?
Carlos Araújo - Conheci a Dilma na primeira reunião dos grupos
de esquerda, ela fazia parte da Colina (Comando de Libertação Nacional)
de Minas Gerais. Foi no Rio de Janeiro, em janeiro de 1969. Marcamos uma
segunda reunião dos grupos um mês depois. Chegamos lá e houve um
envolvimento muito grande entre nós dois. Fomos morar juntos logo em
seguida, sentimos essa atração forte e juntamos os trapos.
Terra - Como era a atuação do senhor e da Dilma no movimento contra a ditadura?
Carlos Araújo - Nós fazíamos o trabalho urbano, de organização.
Tinha um setor militar que fazia as ações armadas, e nós ficávamos com o
trabalho de massa, de organização do movimento.
Terra - Como foi a participação de vocês no assalto ao cofre do governador paulista Adhemar de Barros?
Carlos Araújo - Não tivemos participação física no assalto. A
participação minha e da Dilma foi na decisão de fazer a operação. Somos
responsáveis, tanto quanto qualquer outro companheiro da direção do
movimento, que eram nós e mais três, pela decisão de fazer o assalto.
Avaliamos toda a operação, se era viável, mas não participamos do
assalto em si porque não era atribuição do nosso setor.
Terra - Como vocês conseguiram trocar o dinheiro do assalto?
Carlos Araújo - Na época era muito dinheiro, quase
US$ 2,5 milhões. A gente precisava desse dinheiro, tinha muita gente de
outros Estados que foi para o Rio de Janeiro, porque lá era mais fácil
para alugar um apartamento, ninguém pedia documento, não queriam saber
quem você era. Mas era muita gente, estávamos precisando fazer uma ação
em banco por dia praticamente para manter a estrutura do movimento. Por
isso que decidimos fazer um assalto grande para não precisar mais das
ações nos bancos. Um milhão de dólares nós levamos para a embaixada da
Argélia, que ficou responsável por mandar para os companheiros que
estavam passando por dificuldades, até passando fome lá fora. A outra
parte a gente dividiu por setores e Estados também. Foi até engraçado,
porque tínhamos uma mala de dólares, mas não tínhamos dinheiro para
fazer nada, nós precisávamos trocar. Foi então que decidimos pegar duas
companheiras,
que sabiam inglês, e elas foram numa casa de câmbio atrás do Copacabana
Palace. Colocaram as melhores roupas que tinham, eram mulheres muito
bonitas, e conseguiram trocar um pouco do dinheiro. Outro dia
conseguimos trocar um pouco mais. Mas também tínhamos que tomar cuidado,
porque já tinha saído no jornal. Foi então que, 72 horas depois do
assalto, o Bradesco veio nos procurar porque queria trocar todo o
dinheiro, com câmbio superior ao oficial. Resolvemos nos encontrar com
eles e trocamos o restante do dinheiro.
Terra - Uma das jovens que trocou o dinheiro do assalto era a Dilma?
Carlos Araújo - Sim, era a Dilma. A outra era a Dodô,
a Maria Auxiliadora, uma médica que depois acabou se matando na
Alemanha. Eram
mulheres muito bonitas, fizeram o papel delas sem problema nenhum.
Terra - Como o senhor reagiu com a prisão da Dilma?
Carlos Araújo - Como não saiu a fusão com a VPR (organização
comandada por Carlos Lamarca), o nosso grupo (VAR-PALMARES) precisava de
uma força em São Paulo e coube a ela organizar tudo lá. Ficamos
separados por um tempo, eu continuei no Rio. Ela foi presa lá, um ano
depois de termos nos conhecido. Foi um choque terrível porque eu ficava
imaginando o sofrimento que ela estava passando na cadeia.
Terra - Pouco tempo depois o senhor foi preso. O senhor passou por muitas sessões de tortura?
Carlos Araújo - A tortura é a coisa mais terrível que
pode acontecer no mundo, você fica a mercê, podem fazer o que quiserem
contigo. Me colocaram no pau-de-arara, ficaram dando paulada, choque
elétrico. Colocaram fios nas extremidades do
corpo
para o choque fosse maior, nos órgãos genitais, na língua, nos dedos.
Depois eles ligavam a televisão, quando trocavam de canal dava o choque
horrível. A pessoa fica vulnerável, ninguém sob tortura quer continuar
vivendo, quer morrer logo. Entre a dor continuada e a morte, toda pessoa
prefere a morte.
Terra - O senhor pensou em se suicidar?
Carlos Araújo - Naquela época, nenhum de nós estava preparado
para ser torturado, na verdade ninguém nunca está preparado para isso.
Mas naquela época todos nós achávamos que éramos fortes, que iríamos
aguentar. Mas chega lá e não era nada disso. Então ficávamos apavorados.
No fim do primeiro dia de tortura eu vi que não iria aguentar mais e
decidi que a coisa mais digna a faze era me matar. Menti para eles ao
contar que tinha um encontro marcado com o Lamarca no outro dia. Escolhi
um lugar fácil de se matar, numa rua por onde passavam muitos
caminhões, jamantas, era só jogar o corpo para frente e morrer. Pensei
primeiro em me jogar em baixo de um DKV, mas aí veio o instinto de
sobrevivência e pensei que era um carro muito pesado. Pensei em me jogar
em baixo de um fusca, mas era muito baixo. Então me atirei em uma
Kombi, que era mais altinha. Eles me levaram para o hospital e eu me
livrei da tortura.
Terra - Tentaram lhe torturar no hospital?
Carlos Araújo - Sim, no Hospital Militar, mas as freiras não
deixaram. Elas fizeram um banzé lá dentro e me salvaram. Aí eu consegui o
tempo que queria. Quando voltei para a prisão, eu não tinha mais nada
para falar porque a aquela altura tudo já tinha se modificado, minhas
informações não eram mais importantes para eles. Eu até fui torturado
mais algumas vezes, mas pouco.
Terra - O senhor lembra quem foram os torturadores?
Carlos Araújo - Eu não guardei os nomes deles. Às vezes eu vejo
na imprensa a fotografa de um, de outro, aí me lembro. Mas o principal
torturador da época, esse eu me lembro, era o capitão Albernaz.
Terra - Ele torturou a Dilma também?
Carlos Araújo - Sim, na época era o maior torturador. Fiquei sabendo que ele morreu louco.
Terra - O senhor sente ódio dessas pessoas?
Carlos Araújo - Não, eu não posso pessoalizar. Se não fosse o Pedro, era
o João. Tem várias coisas que estão por trás disso, para torturar a
pessoa, ou tem um problema mental ou tem que estar drogado. Eles se
drogavam violentamente lá dentro.
Terra - O senhor viu os torturadores se drogando?
Carlos Araújo - Sim, eles se drogavam na nossa frente. Usavam
cocaína e injetavam na veia também, essas drogas que alucinam. Então eu
não tenho como ter um sentimento por essas pessoas, nem mesmo ódio. O
que eu condeno é o sistema, que precisou usar desses métodos para
permanecer no poder.
Terra - Hoje, com a instalação da Comissão da Verdade, o senhor gostaria que essas pessoas fossem punidas?
Carlos Araújo - Eu fui julgado, fui condenado, e os meus
companheiros da esquerda também. Agora por que os torturadores não podem
ser julgados? Todos devem ser julgados. Eu acho que não cometi crime
nenhum durante a ditadura e mesmo assim fui condenado, agora por que
aqueles caras que fizeram horrores, que mataram, torturaram, não podem
ser condenados?
Terra - A esquerda armada deveria ser julgada também?
Carlos Araújo - A esquerda já foi julgada. É muito raro encontrar um
cara que não tenha sido julgado, condenado, muito pegaram cadeia grande.
Terra - A comissão deveria resultar na revisão da Lei da Anistia?
Carlos Araújo - Ela não tem competência para isso. Eu particularmente
acho que mais cedo ou mais tarde a Lei da Anistia vai ser revisada, hoje
tem uma jurisprudência internacional que diz que tortura e sequestro
não prescrevem nunca, então isso não está prescrito e precisa ser
revisto. Mas o processo histórico vai dizer, para mim o fundamental é
que tudo venha à tona, pois a sociedade vai reagir e vai cobrar essa
punição. O Supremo Tribunal Federal entendeu que estão todos anistiados,
que os crimes foram prescritos, então a sociedade precisou procurar
alternativas diante disso, principalmente os familiares dos mortos. O
que começou a ser feito: ir às casas dos torturadores, denunciar quem
torturou. São coisas que não precisavam ser feitas se o Supremo tivesse
mandado todo mundo a julgamento. Por causa dessa decisão equivocada, a
sociedade precisa tomar as suas medidas. O ideal é que as coisas fossem
feitas pelo próprio Estado.
Terra - A presidente Dilma foi corajosa ao instalar a comissão?
Carlos Araújo - Eu acho que ela foi muito corajosa sim, porque
um povo que não conhece a sua história não pode planejar o futuro. Não
podemos temer a nossa história, e sim conhecer tudo como realmente
aconteceu para termos uma prática presente e planejar o futuro. Esse
trabalho de colocar tudo em pratos limpos é fundamental.
Terra - Sobre o início do julgamento do mensalão na próxima semana, qual a sua expectativa?
Carlos Araújo - Eu acho tudo isso uma barbaridade, um absurdo.
Não tem uma prova contra ninguém. É um julgamento político incentivado
por uma mídia que nós sabemos como é, enquanto tem outro mensalão, do
PSDB, que eles não falam, estão deixando prescrever. Todo mundo sabe que
no Brasil existe uma legislação absurda, que permite a coligação
política dos partidos, mas não autoriza a coligação econômica entre
eles. Isso todos os partidos tem, o chamado caixa dois, agora não tem
nenhuma prova de que tenha dinheiro público, dinheiro do governo
envolvido. É uma vergonha.
( Com informações do Portal Terrra )